Perda de peso rápida: riscos à saúde, queda no desempenho e efeito rebote

Dietas radicais podem comprometer sua produtividade, gerar prejuízos metabólicos e aumentar as chances de abandono do plano. Saiba os riscos e como evitar os efeitos colaterais da perda de peso acelerada

Paola Machado

Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

Publicidade

Em tempos de imediatismo, é comum ver promessas de perda de peso “rápida e definitiva” em poucas semanas. No entanto, a ciência mostra que emagrecer rápido demais pode não apenas ser ineficaz a longo prazo, como perigoso. De acordo com a ABESO, a taxa saudável de emagrecimento gira entre 0,5 kg a 1 kg por semana (podendo chegar a até 2 kg nas primeiras semanas em indivíduos com obesidade grau 1)— valores acima disso, após as primeiras semanas, já indicam risco de perda de massa magra, queda de desempenho cognitivo, distúrbios metabólicos e até evasão completa do plano de saúde ou exercício.

No Brasil, cerca de 70% dos frequentadores de academias abandonam a prática nos primeiros meses, mostrando que a evasão no início dos programas é um desafio real para estimular a continuidade no exercício físico. Um estudo clínico conduzido com 98 pacientes em tratamento para obesidade observou que 21% desistiram já no primeiro mês e 57% abandonaram em até seis meses, evidenciando o quanto o início da jornada é vulnerável à evasão. Já uma revisão publicada no BMC Nutrition apontou que as taxas de desistência em dietas podem variar de 10% a 80%, sendo mais frequentes nas primeiras semanas devido a fatores como falta de resultados imediatos, sintomas como fraqueza e tontura, e dificuldades em adaptar a alimentação à rotina pessoal e social. Esses dados reforçam que estratégias extremas não só são insustentáveis como colocam em risco a saúde e a continuidade do processo.

Entenda, com base em evidências, o que acontece no corpo quando você perde peso rápido demais:

Continua depois da publicidade

Fadiga, tontura e baixa energia

Dietas muito restritivas — especialmente abaixo de 1.200 kcal/dia para mulheres e 1.500 kcal/dia para homens— levam à deficiência de nutrientes essenciais. Estudos demonstram que a hipoglicemia resultante de dietas com restrição calórica severa causa queda repentina no desempenho cognitivo, além de provocar tontura, fraqueza, irritabilidade e dificuldade de concentração, justamente porque o cérebro depende da glicose como sua principal fonte de energia.

Problemas digestivos e náuseas

Ao eliminar grupos alimentares, como carboidratos e fibras, o intestino entra em desequilíbrio. Segundo a Cleveland Clinic, reduzir drasticamente a ingestão de fibras — encontradas em grãos integrais, legumes, frutas e vegetais — está associado a sintomas como constipação, inchaço, desconforto gástrico e náuseas, especialmente em dietas de baixo teor de carboidratos ou fibras. Em casos mais extremos, a restrição pode levar a vômitos e distúrbios eletrolíticos, agravando o quadro clínico e exigindo acompanhamento médico.

Formação de cálculos biliares

Uma das complicações mais subestimadas da perda rápida de peso é o risco de desenvolver cálculos biliares. Pesquisas mostram que a rápida perda de peso — especialmente acima de 1,5 kg/semana ou após cirurgias bariátricas — leva à supersaturação da bile com colesterol e à estase na vesícula, favorecendo a formação de pedras. Estima-se que entre 10% e 12% das pessoas que seguem dietas de baixas calorias por 8 a 16 semanas desenvolvem novos cálculos, chegando a mais de 30% em até 18 meses após cirurgia bariátrica — com cerca de um terço desses casos sendo sintomáticos e entre 50% daqueles evoluindo para necessidade de cirurgia.

Continua depois da publicidade

Perda de massa muscular

O músculo é metabolicamente ativo: queima calorias, sustenta o desempenho e protege a estrutura corporal. Quando emagrecemos de forma agressiva, perdemos não apenas gordura, mas também massa muscular — o que reduz o metabolismo basal e favorece o famoso ‘efeito sanfona’. Uma meta-análise recente mostrou que emagrecimentos lentos preservam mais o RMR (resting metabolic rate) e a massa magra do que regimes radicais, e outra revisão reforça que dietas restritivas sem estratégia de proteína e exercícios desgastam o músculo e comprometem a saúde metabólica.

Queda de cabelo e unhas frágeis

Ao seguir dietas altamente restritivas, muitas pessoas passam a apresentar deficiência de proteínas, vitaminas (como biotina, ferro e zinco) e gorduras saudáveis — nutrientes essenciais para a integridade do cabelo e unhas. Conforme revisão, a redução drástica desses nutrientes está associada à queda acentuada de cabelo, fragilidade e perda de volume capilar após apenas 3 a 4 semanas de privação nutricional.

Desaceleração metabólica

Dietas muito restritivas podem até acelerar a perda de peso no curto prazo, mas acionam uma resposta biológica perigosa no médio e longo prazo. Quando o organismo percebe um déficit calórico severo como ameaça à sobrevivência, ele ativa um “modo econômico”: reduz a taxa metabólica basal, desacelera o gasto energético e torna o emagrecimento progressivamente mais difícil — mesmo que a pessoa mantenha a dieta.

Continua depois da publicidade

Essa adaptação metabólica, documentada em diversos estudos, é maior do que a esperada pela simples perda de peso. Um dos exemplos mais emblemáticos é o de ex-participantes do programa The Biggest Loser, que mesmo seis anos após o emagrecimento ainda apresentavam um metabolismo reduzido além do previsto para seu peso corporal atual.

Além disso, revisões recentes confirmam que essa redução no gasto energético é uma resposta fisiológica comum em dietas de baixo teor calórico, prejudicando a manutenção do peso a longo prazo e favorecendo o reganho de gordura corporal quando a alimentação “volta ao normal”.

Comprometimento da densidade óssea

Estudos mostram que o emagrecimento abrupto está associado à redução da densidade mineral óssea, especialmente quando não há ingestão adequada de cálcio e vitamina D. Isso eleva o risco de osteopenia, fraturas e desgaste precoce do sistema musculoesquelético — efeitos particularmente observados em mulheres adultas e pessoas acima dos 40 anos.

Continua depois da publicidade

Problemas cognitivos e baixa concentração

Estudos mostram que dietas extremas estão associadas a sintomas como “mente nebulosa” (brain fog), lapsos de memória, queda de produtividade e exaustão mental, especialmente quando ingerem pouco ou de forma desequilibrada — alertam revisões feitas com modelos animais e humanos.

Aumento da evasão e do abandono

Dietas muito restritivas estão fortemente associadas à alta taxa de abandono, especialmente nas primeiras semanas de adesão. Um estudo clínico com 98 pacientes em tratamento de obesidade mostrou que 21% desistiram já no primeiro mês e 57% em até seis meses, evidenciando a dificuldade de manutenção de estratégias agressivas a longo prazo. Já uma revisão publicada no BMC Nutrition analisou as causas mais comuns da evasão em programas de emagrecimento, destacando que os índices de desistência variam entre 10% e 80%, sendo mais altos em intervenções com grandes restrições calóricas, dificuldades práticas, efeitos colaterais ou falta de resultados rápidos.

O que fazer em vez disso?

Em vez de buscar emagrecer “o quanto antes”, comece perguntando: “Como posso emagrecer com saúde e manter esse resultado a longo prazo?”. A resposta não está em restrições extremas, mas em um plano de mudança real de estilo de vida.

Autor avatar
Paola Machado

Dra. Paola Machado é Doutora e Mestre em Ciências da Saúde pela UNIFESP, especializada em Fisiologia do Exercício, Nutrição e Fisiopatologia da Obesidade. Com mais de 2000 textos publicados em portais renomados, ela se destaca como uma referência em emagrecimento, performance pessoal e rotinas de sucesso, traduzindo conhecimento científico em práticas acessíveis e eficazes. Siga no Instagram: @machado_paola