Cafezinho no trabalho: os limites entre energia, foco e excesso

O café é um dos hábitos mais populares do ambiente corporativo e pode, sim, trazer benefícios à saúde e à performance. Mas quando o exagero entra em cena, os efeitos são bem menos produtivos. Entenda os riscos do consumo excessivo de cafeína.

Paola Machado

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O ritual do cafezinho no trabalho é quase sagrado em muitos escritórios. Ele estimula a conversa, marca a pausa, desperta a mente e, de quebra, dá um empurrãozinho na produtividade. Estudos confirmam que o café e o chá, ricos em cafeína, podem melhorar o humor, acelerar o metabolismo e aumentar o desempenho mental e físico. Para a maioria das pessoas, o consumo moderado é seguro: segundo a FDA (Food and Drug Administration), até 400 mg de cafeína por dia — cerca de 3 a 4 xícaras de café coado — não costuma causar efeitos adversos. Mas, quando o hábito se transforma em exagero, o resultado pode ser exatamente o oposto.

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A tolerância à cafeína varia de pessoa para pessoa, influenciada inclusive por fatores genéticos. Enquanto alguns conseguem consumir grandes quantidades sem efeitos aparentes, outros sentem sintomas desagradáveis mesmo com doses consideradas moderadas. Abaixo, veja os principais efeitos colaterais relacionados ao excesso de cafeína:

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Ansiedade

A cafeína bloqueia a adenosina (neurotransmissor que promove a sensação de cansaço) e estimula a liberação de adrenalina, o hormônio da “luta ou fuga”. Em excesso, isso pode causar nervosismo, irritabilidade e até síndrome de ansiedade induzida por cafeína, classificada no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM) da Associação Psiquiátrica Americana.

Insônia

Um dos efeitos mais conhecidos da cafeína é manter as pessoas acordadas. No entanto, quantidades elevadas estão associadas a maior tempo para adormecer e menor duração do sono. O horário do consumo é crucial: evite cafeína no fim da tarde se você tem dificuldades para dormir.

Desconfortos digestivos

O café estimula a liberação de gastrina, hormônio que acelera o trânsito intestinal. Isso pode causar um efeito laxativo e, em algumas pessoas, provocar diarreia. Mesmo o café descafeinado pode produzir esse efeito. Se você sente desconforto, reduza a quantidade ou opte por bebidas menos agressivas ao trato digestivo.

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Dependência leve

Apesar de não causar dependência clássica como drogas recreativas, a cafeína pode levar à dependência psicológica ou física. Quem consome grandes quantidades pode apresentar sintomas de abstinência, como dor de cabeça, fadiga e irritabilidade, ao reduzir o consumo.

Pressão alta

Embora não aumente diretamente o risco de doenças cardiovasculares, a cafeína pode elevar temporariamente a pressão arterial, principalmente em pessoas não habituadas. A pressão alta é um fator de risco conhecido para infarto e AVC.

Batimentos acelerados

Doses altas de cafeína podem causar taquicardia e, em alguns casos, arritmia (como fibrilação atrial), especialmente em jovens que consomem bebidas energéticas em excesso. Se você sentir alterações no ritmo cardíaco após consumir cafeína, reavalie sua ingestão.

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Fadiga de rebote

Curiosamente, após o pico de energia fornecido pela cafeína, é comum sentir um “baque” de cansaço. Esse efeito rebote pode ser mais intenso no dia seguinte, especialmente se o consumo foi alto. Por isso, doses moderadas funcionam melhor a longo prazo.

Urina frequente

A cafeína tem efeito diurético leve, estimulando a bexiga. Estudos recentes mostram que o consumo elevado, especialmente de chá, pode aumentar o risco de bexiga hiperativa. Se você tem sensação frequente de urgência ou aumento do número de idas ao banheiro, vale observar a quantidade de cafeína ingerida.

Embora o consumo excessivo de cafeína possa acarretar efeitos adversos, diversas pesquisas científicas apontam que a ingestão moderada dessa substância pode oferecer benefícios significativos à saúde. Estudos indicam que a cafeína pode melhorar o estado de alerta, a concentração e o desempenho cognitivo, especialmente em tarefas que exigem atenção contínua. Além disso, a cafeína está associada à melhora do desempenho físico, auxiliando na resistência durante exercícios de longa duração. Pesquisas também sugerem que o consumo regular de café pode estar relacionado a uma redução no risco de doenças neurodegenerativas, como Alzheimer e Parkinson, e a uma menor incidência de diabetes tipo 2. É importante reforçar que esses benefícios são observados com o consumo moderado de cafeína, geralmente até 400 mg por dia, o que equivale a cerca de 3 a 4 xícaras de café coado.

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Café descafeinado: alternativa mais leve para quem é sensível à cafeína

Embora não seja isento de cafeína, o café descafeinado contém quantidades significativamente menores — cerca de 3 a 5 mg por xícara, em comparação com os 60 a 150 mg do café comum. Isso faz com que seja uma opção viável para pessoas sensíveis à cafeína ou com condições como hipertensão, insônia, refluxo, enxaqueca, ansiedade e taquicardia.

O processo de descafeinação remove cerca de 97% da cafeína dos grãos verdes antes da torra e pode ser feito por três métodos principais: com solventes químicos (como cloreto de metileno ou acetato de etila), por água (processo Swiss Water, livre de químicos), ou com dióxido de carbono (método mais caro, mas preserva melhor o sabor).

Apesar de ligeiramente inferior em antioxidantes, o café descafeinado ainda apresenta benefícios à saúde. Estudos apontam que tanto o café com cafeína quanto o descafeinado podem proteger os neurônios, reduzir riscos de Alzheimer e Parkinson, contribuir para a saúde intestinal e até reduzir inflamação e depressão. Também há evidências associando o consumo de descafeinado à redução do risco de câncer colorretal e melhora cognitiva em modelos experimentais.

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Se você sofre com efeitos adversos do café tradicional, vale considerar a versão descafeinada. Basta observar o método de extração utilizado — optando, quando possível, por grãos com certificação orgânica, livres de solventes.

O café pode ser um excelente aliado da performance e da produtividade no trabalho. Mas como todo bom recurso, o segredo está no equilíbrio. Conhecer os limites do seu corpo, ajustar os horários e não abusar das doses é fundamental para colher os benefícios sem cair nas armadilhas. Se você já perdeu as contas de quantas vezes foi até a copa hoje, talvez seja hora de espaçar o próximo cafezinho.

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Paola Machado

Dra. Paola Machado é Doutora e Mestre em Ciências da Saúde pela UNIFESP, especializada em Fisiologia do Exercício, Nutrição e Fisiopatologia da Obesidade. Com mais de 2000 textos publicados em portais renomados, ela se destaca como uma referência em emagrecimento, performance pessoal e rotinas de sucesso, traduzindo conhecimento científico em práticas acessíveis e eficazes. Siga no Instagram: @machado_paola