A mulher multitarefas: até onde a sobrecarga impacta carreira, saúde e bem-estar?

A rotina intensa de trabalho, maternidade e autocobrança pode gerar impactos profundos na saúde física e mental. Dados recentes revelam os desafios enfrentados pelas mulheres no mercado e estratégias para equilibrar produtividade e qualidade de vida.

Paola Machado

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Sou mãe e faço questão de estar presente em tudo: estudo, converso, oriento, levo pra lá e pra cá. Tenho meus negócios, trabalho sem parar, treino todos os dias, preparo minha rotina. Tento melhorar 1% a cada dia, mas tem momentos em que, por ser sozinha, tudo se torna exaustivo. Os 1% viram -10%, e parece um efeito dominó. Ando dez casas para trás e sigo novamente. Muitas vezes, não dou conta de ser tudo, mas preciso ser tudo. E eu me cobro por isso, porque tenho muitos olheiros me observando.

Essa sobrecarga não é um caso isolado. Trabalho, maternidade, autocuidado, relacionamentos e um volume desproporcional de responsabilidades domésticas. Esse é o cenário comum para grande parte das mulheres que, além da carreira, precisam lidar com a chamada “dupla jornada”. E, na prática, essa carga extra tem um preço alto: aumento do estresse, piora da saúde física e mental e impacto direto no desempenho profissional.

A sobrecarga de tarefas ainda é uma realidade para muitas mulheres. Segundo dados do IBGE de 2022, as mulheres dedicaram, em média, 9,6 horas a mais por semana do que os homens aos afazeres domésticos e ao cuidado de pessoas. Apesar dessa leve redução em relação a 2019, quando a diferença era de 10,6 horas, a divisão das responsabilidades no lar ainda é desigual. Enquanto 92,1% das mulheres com 14 anos ou mais realizaram essas atividades em 2022, apenas 80,8% dos homens participaram dos mesmos afazeres. Entre aqueles que conciliam trabalho e vida doméstica, as mulheres ocupadas ainda dedicam, em média, 6,8 horas a mais por semana do que os homens ocupados nessas tarefas.

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Além disso, a sobrecarga de funções e o estresse ocupacional excessivo estão diretamente associados ao aumento de casos de burnout, insônia e problemas cardiovasculares em mulheres. Um estudo publicado no Journal of Molecular Pathology aponta que o burnout pode desencadear um estado inflamatório crônico, caracterizado pelo aumento de biomarcadores inflamatórios como IL-1, IL-6 e TNF-alfa. Essa inflamação sistêmica está relacionada ao aumento do risco de doenças cardiovasculares ao longo do tempo, tornando o burnout um fator de risco não apenas psicológico, mas também físico. Quando somada à pressão por alta performance no trabalho e às demandas domésticas, essa realidade resulta em um ciclo de exaustão difícil de quebrar, reforçando a necessidade de estratégias eficazes para o gerenciamento do estresse e da carga mental.

A sobrecarga não afeta apenas o estado emocional – ela tem consequências biológicas sérias. A combinação de estresse crônico e privação de sono, por exemplo, aumenta os níveis de cortisol, o que pode desencadear ganho de peso, resistência à insulina e maior risco de doenças cardiovasculares.

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Dados recentes reforçam o impacto da sobrecarga no bem-estar das mulheres. Uma pesquisa da consultoria EDC revelou que 24,64% das mulheres relataram ansiedade e angústia com o volume de trabalho, em comparação a 15,96% dos homens. Além disso, 19,92% dos profissionais entrevistados apresentaram sintomas de burnout, mas entre mulheres de 35 a 44 anos, esse índice sobe para 29,27%. Outro levantamento da McKinsey (2021) apontou que 42% das mulheres já tiveram sintomas de burnout, contra 35% dos homens, evidenciando o impacto da pressão profissional na saúde mental feminina.

No mercado de trabalho, isso se traduz em queda na produtividade, dificuldades de concentração e menor capacidade de tomar decisões estratégicas. Empresas que não levam essa realidade em consideração podem estar perdendo talentos valiosos, já que muitas mulheres acabam reduzindo jornadas ou até saindo do mercado devido à exaustão.

Estratégias para equilibrar carreira, saúde e bem-estar

Embora seja um desafio conciliar todas as responsabilidades, algumas estratégias podem ajudar a aliviar essa sobrecarga e promover um equilíbrio mais saudável.

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A sobrecarga de responsabilidades pode afetar a saúde, a carreira e até mesmo o desempenho no longo prazo. Ajustes na rotina, estratégias para minimizar o estresse e hábitos saudáveis são essenciais para preservar a qualidade de vida e a produtividade.

Assim como nos negócios, no bem-estar também é preciso estratégia. Pequenos ajustes diários podem fazer toda a diferença para transformar a rotina, preservar a saúde e garantir um futuro mais equilibrado. Afinal, nenhuma carreira ou conquista vale o preço da exaustão.

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Paola Machado

Dra. Paola Machado é Doutora e Mestre em Ciências da Saúde pela UNIFESP, especializada em Fisiologia do Exercício, Nutrição e Fisiopatologia da Obesidade. Com mais de 2000 textos publicados em portais renomados, ela se destaca como uma referência em emagrecimento, performance pessoal e rotinas de sucesso, traduzindo conhecimento científico em práticas acessíveis e eficazes. Siga no Instagram: @machado_paola