A ilusão da produtividade: por que estar ‘sempre ocupado’ pode levar ao burnout

Trabalhar sem descanso não significa produzir mais. Estudos revelam que o excesso de ocupação pode reduzir a eficiência, aumentar o estresse e elevar o risco de burnout. Entenda como evitar essa armadilha corporativa.

Paola Machado

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A cultura do “sempre ocupado” é frequentemente vista como um símbolo de sucesso. Longas jornadas de trabalho, agendas lotadas e a falta de tempo para pausas são, muitas vezes, interpretadas como sinais de dedicação e eficiência. No entanto, pesquisas indicam que essa mentalidade pode estar diretamente ligada ao aumento de casos de burnout e esgotamento profissional. Mas será que estar sempre ocupado significa, de fato, ser produtivo?

A crença de que estar ocupado é sinônimo de produtividade ignora um fator essencial: a qualidade do trabalho realizado. Segundo um estudo publicado na Harvard Business Review, profissionais que trabalham excessivamente, sem períodos adequados de descanso, apresentam maior dificuldade de concentração, mais erros e menor capacidade de tomada de decisões estratégicas.

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Além disso, a fadiga crônica gerada pela sobrecarga de trabalho compromete funções cognitivas essenciais, como memória e criatividade. O modelo de demandas e recursos do trabalho, discutido no Journal of Applied Psychology, revela que a combinação de altas demandas de trabalho e falta de recursos adequados pode levar ao esgotamento profissional, afetando negativamente o desempenho e a saúde mental dos trabalhadores.

Burnout: quando a ocupação constante se transforma em esgotamento

O esgotamento mental, emocional e físico provocado pelo excesso de trabalho tem nome: Síndrome de Burnout. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), essa condição foi oficialmente reconhecida como um fenômeno ocupacional, sendo caracterizada por exaustão extrema, despersonalização e redução da eficácia profissional.

Um estudo conjunto da Organização Mundial da Saúde (OMS) e da Organização Internacional do Trabalho (OIT) concluiu que trabalhar 55 horas ou mais por semana está associado a um aumento de 35% no risco de acidente vascular cerebral (AVC) e 17% no risco de morte por doença cardíaca isquêmica, em comparação com trabalhar 35 a 40 horas semanais.

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Pesquisas indicam que o estresse crônico pode levar a disfunções na regulação do cortisol, resultando em um aumento do risco de distúrbios metabólicos, alterações imunológicas e maior predisposição à dor crônica. Esse desbalanço hormonal, quando prolongado, também pode contribuir para quadros de ansiedade e depressão, além de impactar negativamente a saúde cardiovascular.

Empresas que ignoram os sinais de esgotamento em seus colaboradores podem sofrer prejuízos financeiros expressivos. Segundo a Harvard Business Review, o estresse no ambiente de trabalho custa à economia dos EUA mais de 500 bilhões de dólares por ano, com a perda de aproximadamente 550 milhões de dias de trabalho anualmente devido a esse problema. Além disso, um levantamento publicado pela Forbes estima que o burnout contribui para despesas médicas anuais entre 125 bilhões e 190 bilhões de dólares, impactando diretamente os custos com saúde nas empresas. Já o American Institute of Stress alerta que o estresse ocupacional representa um custo superior a 300 bilhões de dólares por ano para empregadores, devido ao absenteísmo, alta rotatividade, queda de produtividade e aumento dos gastos médicos e jurídicos. Esses dados reforçam que investir no bem-estar dos funcionários não é apenas uma questão de saúde, mas também uma estratégia essencial para reduzir perdas e melhorar a sustentabilidade do negócio.

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No Brasil, um levantamento realizado pela International Stress Management Association (ISMA-BR) revelou que 30% dos trabalhadores sofrem com a síndrome de burnout. Isso significa que um terço da força de trabalho está operando em um nível reduzido de desempenho, afetando diretamente os resultados das empresas.

E como reverter esse ciclo?

Embora a cultura da hiperprodutividade esteja profundamente enraizada no ambiente corporativo, algumas estratégias podem ajudar a evitar o esgotamento e promover uma produtividade mais sustentável:

A cultura do “sempre ocupado” pode parecer sedutora no curto prazo, mas seus efeitos são altamente prejudiciais no longo prazo. A verdadeira produtividade não está em preencher a agenda com compromissos intermináveis, mas sim em otimizar o tempo e manter o equilíbrio entre trabalho e recuperação. Empresas e profissionais que compreendem essa diferença estão mais preparados para alcançar resultados sustentáveis e evitar o esgotamento.

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Paola Machado

Dra. Paola Machado é Doutora e Mestre em Ciências da Saúde pela UNIFESP, especializada em Fisiologia do Exercício, Nutrição e Fisiopatologia da Obesidade. Com mais de 2000 textos publicados em portais renomados, ela se destaca como uma referência em emagrecimento, performance pessoal e rotinas de sucesso, traduzindo conhecimento científico em práticas acessíveis e eficazes. Siga no Instagram: @machado_paola