“O imperador está nu”
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Muito tem se falado sobre as reformas que precisamos implementar em nosso país: reforma da previdência, reforma trabalhista, reforma fiscal, e por aí vai. Quando penso a respeito do assunto fico com algumas indagações:
(i) Por que este tema não foi tratado por governos anteriores? O que mudou em tão pouco tempo?
(ii) A aprovação das reformas que estão sendo discutidas é suficiente para nos garantir desenvolvimento e crescimento sustentado nas próximas décadas?
A expressão “O imperador está nu” não poderia ser melhor utilizada do que neste contexto. Expressão originária de uma fábula dinamarquesa. Um imperador muito vaidoso é ludibriado por dois forasteiros. Ambos recebem uma verdadeira fortuna para manufaturar sua nova roupa de festa. Esta nova roupa é dita invisível e de magnífica beleza. Todos da corte elogiam a nova roupa do imperador e não se mostram alarmados com o fato do imperador estar nu. Tudo para não parecer que não apreciavam sua nova veste. Até que um garoto, em sua inocência infantil, grita: “O imperador está nu”.
Por anos, fomos todos ludibriados por métricas econômicas enviesadas, fruto de políticas que estimularam consumo, subsídios direcionados a determinados setores e empresários “amigos do rei”, bem como investimentos de retorno questionável direcionados pelo governo. Políticas que mascararam a dura realidade de que o país dispensou uma série de benefícios e acumulou obrigações além de sua capacidade de pagamento. As benesses recebidas do governo tanto por parte das elites quanto por parte dos mais humildes em troca de suborno e apoio político. Até que alguns “meninos” de Curitiba entraram na festa e gritaram: “O imperador está nu”.
Diante da nudez do imperador o que dá para fazer? Com relação à reforma da previdência espanta a falta de compreensão da realidade de alguns que ainda enxergam o imperador com roupas. Os números atuais mostram o enorme dispêndio e déficit para um país com uma população média ainda jovem se comparado com outros países. Além disso, se olharmos as projeções demográficas e seus impactos no sistema previdenciário, os resultados são temerários. A proposta do governo, se comparada a sistemas previdenciários no exterior, ainda é tida como benevolente. A nova regra preserva os mais pobres em detrimento das maiores aposentadorias pagas, que se encontram no setor público e beneficiam o 1% mais rico da população.
Em artigo publicado na Folha de São Paulo, no dia 26/03/2017, Mansueto Almeida e Marcos Mendes desbravam o assunto detalhando cada ponto da proposta, os números e racional por trás de cada medida. Leitura obrigatória para qualquer interessado no assunto.
Não existe reforma ideal pois ao ajustar determinados benefícios existem ganhadores e perdedores se comparados ao sistema vigente. Nada mais natural do que olhar para seus próprios interesses antes que o dos outros, ainda mais quando o cinto começa a apertar: “Farinha pouca, meu pirão primeiro”. É visível cada categoria de classe trazendo as mais sensatas justificativas do porquê devem ficar de fora da reforma. Por se tratar de uma questão política sensível é de se esperar que as negociações se arrastem e que haverá necessidade de ambos os lados cederam para se chegar a um denominador comum.
Fica então a questão, se for aprovado um grupo de reformas que razoavelmente endereça as questões mais críticas do desequilíbrio nas contas do governo, é suficiente para garantirmos desenvolvimento e crescimento econômico sustentável nas próximas décadas?
Evitar uma queda do precipício não significa que a escalada ao cume se resume. Dentro de um pano de fundo onde novas tecnologias como “Artificial Inteligence”, “Machine Learning” e “Big Data” estão mudando completamente a forma de como nos relacionamos, aprendemos, e fazemos negócios, reformar as contas do “passivo” do Brasil é necessário, mas não é suficiente. Existe a necessidade de reformas profundas nas contas do “ativo” de nosso país também. Quão eficientes são nossas empresas? Quantos negócios perdemos por conta de nossa burocracia? O empresário é visto como um líder que gera valor e empregos ou é tido como um explorador dos mais pobres? Estamos nutrindo o espírito empreendedor e o dinamismo da nova economia, ou estamos abortando tais iniciativas antes mesmo delas nascerem? Qual o tamanho do Estado se comparado à economia como um todo? Quanto estamos investindo em desenvolvimento tecnológico? Como estamos educando as novas gerações? Estamos incentivando nossos filhos a se preocuparem com as notas que tiram na escola, ou a aprender e desenvolver competências que os preparem para um novo mundo onde possivelmente computadores e robôs substituirão boa parte das profissões existentes?
O resultado final de uma empresa ou de um país é a diferença do que é gerado pelo ativo e do que é consumido pelo passivo dessas instituições. Não adianta arrumar um lado e esquecer do outro. Por esta razão, as questões relacionadas ao “ativo” do brasil descritas acima deveriam ser endereçadas assim como as reformas que estão sendo apresentadas e debatidas.