Eleições Americanas: “fasten your seatbelts”
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“People never lie so much as after a hunt, during a war or before an election.” (As pessoas nunca mentem tanto quanto em uma caçada, durante uma guerra, ou antes de uma eleição), Otto von Bismark
Em Maio de 2016 a Mckinsey Global Institute publicou um relatório intitulado “Diminishing returns: why investors may need to lower their expectations” (Retornos decrescentes: porque investidores provavelmente terão que reduzir suas expectativas). O estudo aponta que os últimos 30 anos foram uma era de ouro para as empresas, em particular para as grandes multinacionais Americanas e Europeias. As empresas se beneficiaram do processo de globalização. Receitas aumentaram dado que acessaram consumidores em novos mercados. Despesas caíram fruto de menor custo de mão de obra nos países emergentes, maior automação e logística mais eficiente. Além disso, despesas com impostos e juros também diminuíram no período. A conclusão é que nos próximos anos não teremos o mesmo pano de fundo, portanto é de se esperar que retornos sejam menores.
Em Setembro de 2016 o Center on Budget and Policy Priorities publicou um relatório intitulado “A guide to statistics historical trends income inequality” (Um guia estatístico sobre a tendência histórica de desigualdade de renda). O estudo verificou que do final da segunda guerra mundial até idos dos anos setenta renda cresceu de forma uniforme tanto para a base quanto para o topo da pirâmide nos EUA. A partir do início dos anos oitenta, no entanto, crescimento de renda real do meio da pirâmide para baixo (classe média e baixa) reduziu substancialmente, ao passo que renda no topo da pirâmide continuou a crescer de forma robusta. Concentração de renda e riqueza no topo da pirâmide aumentou chegando a níveis similares aos do milagre econômico Americano nos anos vinte.
O que esses dois estudos tem a ver com as eleições americanas?
Tudo a ver!
Eles mostram que no mundo pós-globalização retorno sob o capital investido cresceu ao passo que desigualdade de renda e riqueza aumentou de forma substancial. Em outras palavras, as grandes empresas ocidentais capturaram os ganhos de eficiência oriundos da globalização ao passo que os trabalhadores com baixa especialização ficaram para trás. Como consequência concentração de renda aumentou.
Eventos recentes como o resultado do referendum do BREXIT bem como o aumento de tensões sociais nos países desenvolvidos mostram uma crescente insatisfação do cidadão comum com o “status quo”.
Em Julho de 2016, quando eu era gestor de patrimônio da XP Advisory, publiquei um artigo intitulado “Hope for the best, prepare for the worst…” (Espere o melhor mas se prepare para o pior…) onde discorri sobre este assunto:
Contrário ao consenso de mercado, acreditamos que as chances de vitória de Donald Trump são maiores do que as de Hillary Clinton. Trump não é um político de carreira alinhado com o “status quo”, ele representa uma plataforma nacionalista fora do “establishment”. Seu discurso agrada uma parte crescente da base da pirâmide da população americana insatisfeita com a situação atual. Além disso, contrário à lógica, quanto mais a mídia explora algumas de suas declarações polêmicas, mais votos ele obtém. Ao mesmo tempo, Hillary Clinton tem um passivo da época em que exerceu a função de Ministra de Relações Exteriores na administração Obama. O escândalo dos e-mails bem como o conflito de interesses de algumas de suas ações no cargo e alguns financiadores da Fundação de seu marido tem arranhado a sua imagem. Sem contar que ela não é um dos políticos mais carismáticos de seu país. Seu nível de rejeição junto ao público mais jovem é bem alto.
De lá para cá tivemos os três debates, Trump foi atingido por inúmeras acusações e a cobertura da mídia continuou batendo nele sem dó nem piedade. A vitória de Hillary era tida como líquida e certa com mais de 80% de chance há poucos dias atrás. Dito isso, na última Sexta 28 de Outubro 2016, James Comey, diretor do FBI, surpreendeu a todos enviando uma carta ao Congresso Americano avisando que estava reabrindo a investigação em cima de Hillary Clinton. Este dia foi claramente um divisor de águas neste processo eleitoral.
Wikileaks vem revelando uma série de e-mails comprometedores de membros do Partido Democrata, da campanha de Hillary e ex-funcionários dos governos Bill Clinton e Obama. Cada vez fica mais evidente o conflito de interesses e corrupção envolvendo o “clã” Clinton. O nível de tensão em Washington está altíssimo as vésperas dessa eleição. Estamos enxergando os efeitos de uma divisão interna enorme dentro dos órgãos de Justiça e Inteligência Americanos.
Independente de quem ganhe as eleições, os resultados serão disputadíssimos e provavelmente questionados. Não é impossível de uma disputa similar ou até pior do acontecido em 2000 entre Gorge W. Bush and Al Gore. Isto certamente trará volatilidade ao mercado financeiro.
O desempenho negativo recente dos mercados mostra que uma eventual vitória de Trump não está precificada. O mercado não gosta de incerteza e por isso cobra um maior prêmio de risco quando Trump sobe nas pesquisas. Muitas de suas políticas econômicas são não ortodoxas e de efeitos incertos. Os possíveis efeitos de uma eventual vitória de Trump nos mercados de risco locais (bolsa, juros e câmbio) são claramente negativos para o curto prazo. Para quem está com um alto nível de risco alocado pode ser um bom momento de colocar os ganhos no bolso e esperar melhor momento de entrada. Pode ser uma tremenda oportunidade para quem queira alocar capital atrás do tema de recuperação econômica, recomposição fiscal e redução de juros no Brasil se houver uma correção abrupta e severa no curto prazo.