2018 bate à porta, o que fazer, onde investir?
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Assim como 2016 ficou marcado por alguns poucos eventos transformadores, como o impeachment de Dilma Rousseff e a aprovação da PEC do Teto dos gastos, 2017 não ficou para trás. A dupla vitória de Temer contra as denúncias apresentadas pela PGR (Procuradoria Geral da República) de Rodrigo Janot e a aprovação da reforma trabalhista marcaram o ano. Apesar da necessária reforma da Previdência ter sido adiada, entre mortos e feridos, a administração Temer teve um resultado invejável.
Houve uma evolução considerável na geração de empregos, de uma perda de 1,3 milhão de empregos/postos em 2016 para um ganho de 300 mil empregos em 2017. A inflação caiu de 9,28% em 2016 para 2,80% em 2017. Os juros também apresentaram queda de 14,25% em 2016 para 7% em 2017.
Já a produção industrial passou de -6,60% em 2016 para 1,5% em 2017. E a produção agrícola também apresentou crescimento. A safra de grãos passou de 186 milhões de toneladas em 2016 para 242 milhões de toneladas em 2017. O PIB (Produto Interno Bruto) passou de -3,60% em 2016 para 1,00% em 2017.
Tão importante quanto a melhora é o fato de ela ter sido superior às expectativas dos analistas de mercado do início de 2017. A expectativa de inflação para 2017 era de 4,9% contra 2,8% realizada. E a expectativa da taxa Selic (juros) era de 10,25% contra 7,0% realizada. A expectativa de crescimento econômico era de 0,50% contra o realizado de 1,0%.
O que esperar para 2018?
Para traçar o mais provável cenário para 2018 é importante entender as perspectivas futuras de três pilares fundamentais para o país: a macroeconomia, a microeconomia e o ambiente político.
A macroeconomia é impactada pelo ambiente econômico externo e interno. O ambiente externo se mostra favorável. Tanto a economia quanto o comércio mundial ganham tração, mesmo diante do ambiente de aumento de juros em alguns países desenvolvidos. As expectativas de inflação estão ancoradas e o movimento de juros mostra-se muito mais uma elevação moderada do que uma mudança significativa das condições monetárias e creditícias. O ambiente interno mostra uma recuperação, conforme detalhado acima. Ciclos econômicos se movimentam de forma similar a um transatlântico e não como um jetski. Tudo indica que teremos uma continuação de recuperação e expansão econômica.
A microeconomia é ditada pelas relações entre os agentes econômicos no seu dia a dia. Quão fácil ou difícil é fazer uma venda, faturar ou fechar um negócio. Nosso país é conhecido pela grande burocracia, ineficiências e baixa produtividade. Demos um salto importante na direção do aumento de produtividade com a aprovação da reforma trabalhista, mas ainda faltam outras iniciativas para destravar as engrenagens da microeconomia como, por exemplo, a reforma tributária, melhoria do processo de recuperação judicial, marco regulatório do setor de energia, entre outras. De uma forma geral, a perspectiva é positiva e de melhora à frente, mas ainda tem muita coisa a ser feita.
O ambiente político em 2018 será pautado pela eleição presidencial. Apesar do grande foco e importância dessas eleições, não parece que corremos um alto risco de ruptura político-econômica.
Seja porque a ala mais conservadora representada por Bolsonaro tenha trazido um nome do calibre de Paulo Guedes para comandar a agenda econômica, seja porque Lula começa a mudar seu discurso. De um discurso de ruptura e radicalização, ele já começa a dar sinais de que não vai seguir por esse caminho ao tentar se aproximar novamente do empresariado. Mesmo tendo baixas chances de concorrer, dada a sua provável condenação em 2ª instância em janeiro, além de estar respondendo a vários outros processos, Lula será uma peça importante nas eleições.
O baque que o país tomou com a crise foi muito grande e, por este motivo, o espaço para pirotecnias e populismo tem diminuído. Ajuste fiscal e reforma da Previdência, ambos necessários, têm sido amplamente debatidos pela sociedade brasileira. Independentemente de quem assuma a presidência em 2018, será necessário lidar com estes assuntos de extrema importância para o país. A sociedade não só está preparada como já está exigindo tais transformações. A paciência da população se esgotou com a violência, corrupção e o descaso com a coisa pública. Todos, frutos do sucateamento e inchaço da máquina pública.
E qual o impacto disso tudo nos investimentos?
Primeiro, partimos de uma perspectiva de um cenário político-econômico positivo para 2018 e anos subsequentes. A partir desta premissa, vale a pena investir em ativos que se beneficiem do ganho de confiança e crescimento econômico no médio e longo prazo como ações, por exemplo.
Segundo, ao que tudo indica, as expectativas de inflação tendem a se manter ancoradas, dada a alta capacidade ociosa de nossa economia. Como consequência, as taxas de juros tendem a ficar a níveis baixos por um período longo de tempo. Faz sentido investir em ativos que se beneficiam desse ambiente de juros baixos como alguns fundos imobiliários, ativos de renda fixa pré-fixados, que apresentem prêmio sobre a taxa Selic, e ativos com juro real, que tenham prêmios positivos com relação aos títulos do governo. Fundos multimercados e estruturados selecionados também fazem sentido nesse ambiente.
Terceiro, é importante ressaltar que esta é uma visão de alocação de longo prazo e que, no curto prazo, os ativos terão alta volatilidade, dadas as oscilações de ânimos em um ano eleitoral.
Por último, é fundamental que o leitor faça uma avaliação para entender seu perfil de investidor e obter aconselhamento sobre a proporção que deve alocar em cada tipo de investimento descrito acima.
Cid Maciel Monteiro de Oliveira é ex-sócio e gestor da XP Investimentos e sócio fundador da consultoria de investimentos digital invest.pro.