VENDAS DE VEÍCULOS LEVES CAEM PELO SEGUNDO MÊS CONSECUTIVO

Pelo segundo mês as vendas de veículos leves registram retração nas vendas. Para agosto, a perspectiva é de nova retração. Mas afinal de contas, porquê vivemos esse cenário?

Raphael Galante

Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

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Com 324 mil veículos vendidos em julho o mercado automotivo encerrou com queda de 7,8% sobre o mesmo período do ano passado, quando foram comercializados 351,4 mil carros. Esta foi a segunda queda consecutiva nas vendas. No mês passado (junho) o setor registrou perdas de 11,4%.

O ponto preocupante para o setor automotivo é que teremos novamente queda nas vendas neste mês de agosto. Esperamos em agosto retração na ordem de 20%, sendo esta a terceira queda consecutiva nas vendas de veículos.

No acumulado deste ano o setor registra o total vendido de 2,02 milhões de unidades contra 1,98 milhão no período de janeiro a julho de 2012, crescimento de 2% nas vendas. Com a nova queda nas vendas previstas para o mês de agosto, o setor encerrará com perdas próximas a 1,7%. ?

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Esse fraco desempenho nas vendas de veículos leves no segundo semestre deste ano já havia sido dimensionado no final do ano passado (novembro), por nós. Nossa estimativa, na época, era de que o mercado em 2013 iria se retrair em até -2%. Contudo, existe uma grande probabilidade dessa retração ser bem maior!

O grande fator que vem dando números negativos para o setor não é se o preço do veículo é X% mais caro ou se a carga tributária afeta o crescimento. O que notamos é que a baixa oferta de crédito (ou dificuldade na obtenção de) é o fator principal para o mau desempenho do setor.

Farei uma analogia com outros dois setores BEM DISTINTOS.

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O mercado de motocicletas encerrou o acumulado deste ano (janeiro a julho) com 882 mil veículos vendidos contra 996 mil sobre janeiro a julho de 2012, retração de 12%. De fato, o segmento de motocicletas está apresentando o pior resultado nas vendas desde 2006! O que explica essa forte derrocada do setor de duas rodas é a baixa oferta de crédito. Em geral, as vendas de motocicletas sempre foram atreladas as vendas de cotas de consórcio, porém os concessionários e montadoras de duas rodas voltaram-se para o setor de financiamento a partir de 2005. E, quando os agentes bancários “deixaram de brincar” em 2011, o segmento já não tinha mais para onde fugir, uma vez que, boa parte deles (concessionários e montadoras) deixaram de lado a sua carteira de clientes de consórcio.

Se as vendas de motos estão caindo quase 12% neste ano, sobre o ano de 2011 temos retração de 18%!

O grande ponto aqui é que o setor de duas rodas que comercializa produtos com valores a partir de R$ 6mil (praticamente ¼ do valor de um carro) está no atoleiro devido a falta única e exclusivamente de linhas de crédito.

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Já o segmento de veículos pesados é o mais antagônico de todos! Este mês, com as 15,2 mil unidades vendidas, o setor registrou crescimento de 42% sobre o mesmo período do ano passado! Com quase 90 mil unidades vendidas, neste ano, as vendas de caminhões apresentam alta de 11%, sobre o ano passado. Os segmentos do setor automotivo que estão registrando crescimento são os de veículos pesados (caminhões, ônibus, máquinas agrícolas e implementos rodoviários).

Mas, afinal de contas, por que o empresariado está  investindo valores próximos a R$ 350 mil na aquisição de veículos pesados, num momento onde todos os especialistas apontam para uma diminuição da atividade econômica? A grande resposta aqui é:  A OFERTA DE CRÉDITO!

Para você financiar uma motocicleta (cujo valor é ¼ do preço do carro),  você consegue linhas de crédito com taxas próximas a 2,75% a.m. e com prazos bem curtos. No caso dos automóveis – dependendo do ALTO valor da entrada – você consegue taxas de 1% a.m., ou, com muita sorte, taxas subsidiadas pelos Bancos de Montadoras.

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Já para o segmento de caminhões, a taxa média praticada é de 0,33% a.m.! Ou seja, a poupança rende, ainda, 25% a mais que a taxa de financiamento praticado! O setor de caminhões (assim como os outros setores de veículos pesados) está nesse bom momento devido ao crédito barato que é disponível para eles. Você pode financiar 100% de um caminhão com taxas de 4% ao ano, contra quase 40% no caso da motocicleta (dez vezes mais) e de 13% no caso de veículos leves (três vezes mais).

O nosso conceito é: Independentemente do preço do veículo, se não houver melhora – significativa – na oferta de crédito para os setores de veículos leves e motocicletas, a perspectiva é muito sombria para este e para o próximo ano.

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Raphael Galante

Economista, atua no setor automotivo há mais de 20 anos e é sócio da Oikonomia Consultoria Automotiva