QUAL É O VALOR DO CARRO ZERO?

O quão justo é o preço dos veículos?
Por  Raphael Galante
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

O setor automotivo, neste ano, vem vivenciando uma enorme crise nas vendas, e para piorar temos o aumento no preço médio dos veículos comercializados no país. De janeiro a agosto deste ano o setor apresentou 2,18 milhões de carros vendidos, queda de -9,5% sobre os 2,342 milhões vendidos no mesmo período de 2013. Já o preço médio do carro vendido neste mesmo período, saltou de R$ 45,296 mil para R$ 48,067 mil, alta de 6,12%. Esse desempenho nas vendas é o pior resultado nos últimos 4 anos. Mas a pergunta é: “Se vendem menos, por que não abaixam os preços?”.

Por sorte – ou falta de sorte, no ano passado o governo aprovou a lei que obriga os carros novos a saírem de fábrica com alguns itens de segurança, tais como ABS e AirBags, consequentemente encarecendo o produto. Esse foi um dos fatores. Tivemos o aumento da alíquota de IPI e, outro fator que percebemos, foi que, devido ao fraco volume de vendas,  as montadoras, para compensar o seu resultado financeiro, aumentaram os seus preços.

Feita essa breve introdução mercadológica, vamos ao cerne da nossa questão: Mas, afinal de contas, qual é o “real” valor do carro novo?

Para responder essa questão, vamos abordar dois temas que explicam isso:

O primeiro é a desvalorização dos veículos:

Todos nós sabemos do exagerado custo dos carros vendidos no Brasil, e  o panorama é de assustar… O preço médio de um veículo, como já dissemos, está por volta de R$ 48 mil. E os veículos se desvalorizam rápido demais!

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E aqui entra a nossa primeira abordagem.

Nem todos os veículos desvalorizam com a mesma rapidez.  Vamos aos exemplos: verificando o mercado de Sedan médios (Ex.: Fiat/Linea; Ford/Focus Sedan; Toyota/Corolla; Honda/Civic), um veículo deste subsegmento adquirido em 2012, possui uma desvalorização média de -32%. Mas essa é a média! Temos veículos com depreciação menor, como por exemplo o Toyota Corolla (com valor próximo a -22%), e temos veículos com alta depreciação, como o Fiat Linea (-37%).

Da mesma forma que, se pegarmos o segmento de Hatch B – o Hatch pequeno (ex.: Hyundai/HB20; VW/Fox; Renault Sandero), a desvalorização média para o veículo adquirido em 2012 é de -25%. Novamente, aqui é média! Isso quer dizer que temos um mínimo de -9% de depreciação para o HB20 e um máximo de -31% para o Renault Sandero.

O segundo ponto é como esses veículos são vendidos:

OK! Temos veículos Toyota e Hyundai como sendo as marcas com produtos que apresentam menos desvalorização. Mas por quê as outra desvalorizam mais? A resposta é: a forma de como elas comercializam os seus veículos!

Parece conversa de doido…

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Todas as montadoras não vendem os seus carros através de concessionárias? A resposta é SIM! E também NÃO!

No mundo ideal, o fabricante de veículo deveria – simplesmente – FABRICAR O VEÍCULO! E o concessionário/distribuidor/franqueado de veículos deveria ser o responsável pela VENDA/DISTRIBUIÇÃO do veículo.

Porém, notamos que nos últimos anos, algumas montadoras adotaram o canal de VENDA/DISTRIBUIÇÃO. OK! Mas o que isso quer dizer? Utilizamos uma analogia em que, o que as montadoras fazem no momento é se DROGAR! No momento inicial, é êxtase puro! Mas, no final, a gente sabe que isso não vai acabar bem…

Vamos lá: Se eu, montadora, trabalho com um canal de vendas hibrido (concessionária e venda direta) eu estou “no agora” resolvendo o meu problema, que é o fluxo de caixa ou metas, como a obtenção de Market Share (o estágio inicial da droga). Porém, a matemática é perfeita e será perversa comigo! Se eu vendo via concessionário eu preciso remunerá-lo (algo por volta de 10% a 12% – que no atual cenário está entre 2% a 6%). Se eu vendo direto ao consumidor final, eu posso vender esse veículo com desconto (já que eu não preciso pagar a margem cheia do concessionário, além de outros custos). Então, criamos dois cenários: Temos o primeiro, onde o cliente (em exemplo hipotético) no ano de 2012 foi até uma concessionaria FIAT e comprou o seu LINEA no Preço Público Sugerido pela montadora. Da mesma forma que alguma empresa/consumidor que LOCALIZA boas oportunidades de mercado e comprou esse mesmo veículo com um desconto de 20% sobre o Preço Sugerido. Este foi o estágio inicial da droga! Entrei em êxtase! Vendi o que produzi e fiz caixa….

Porém (e sempre existe um porém), o efeito da droga no médio/longo prazo é perverso! Teremos dois veículos idênticos indo para o mercado de seminovos. O consumidor normal ficará p… da vida, já que o carro que comprou teve uma desvalorização de quase 40%. Por quê? Pois o consumidor que comprou com desconto de 20% vai colocar o seu carro a venda com um deságio de Corolla -22%. Ou seja, esse cliente derruba o preço! E isso tenderá a dificultar a saúde da montadora de veículo. O número de consumidores “normais” da marca vai diminuindo drasticamente, onde mais e mais ela precisará realizar a venda direta ao consumidor. Mas se eu “mato” a minha rede de concessionárias, quem vai fazer a manutenção do meu carro? Isso vai gerar um prêmio adicional, ou seja, o veículo vai se desvalorizar mais ainda. 

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Devaneio meu? Pode ser… Mas, se verificarmos quem está tendo crescimento nas vendas deste ano (marcas de volume) temos em primeiro e segundo lugar a Hyundai e a Toyota. Onde os percentuais de venda direta delas são de 8,5% além de possuírem os menores índices de desvalorização dos seus veículos. Na outra ponta, pegando as “marcas tradicionais”, como VW e Fiat, com queda nas vendas de dois dígitos, elas registram participação superior a 40% nas vendas diretas. 

Mas afinal de contas qual é o preço “justo/certo” do carro novo? E aquele onde a montadora trata seus consumidores como iguais. Neste caso, o trio filé-mignon (Honda, Hyundai e Toyota) são os que apresentam as menores desvalorizações. Já para as demais marcas que trabalham fortemente com o canal de venda direta, aquele carro que você consumidor pagou na concessionária tenderá a ser absurdamente caro, dentro da realidade que a mesma montadora trabalha com os clientes “especiais” dela.

Raphael Galante Economista, atua no setor automotivo há mais de 20 anos e é sócio da Oikonomia Consultoria Automotiva

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