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Opinião: O carro brasileiro não é tão caro assim

O ponto é: não foi o carro novo que ficou absurdamente caro... foi a gente que ficou mais pobre!
Por  Raphael Galante -
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

Caros leitores, digníssimas leitoras,

Hoje é segunda, mas com aquela cara “clássica” de uma Quarta-feira de Cinzas, quando vamos trabalhar de ressaca!

Independentemente do “A” ou do “B”, se você é como este vil estagiário que possui vários carnês da Casas Bahia para pagar, vamos voltar à nossa programação normal – afinal de contas, os boletos não vão sumir do dia para a noite!

E aí um dos questionamentos que sempre recebemos é: “Por que o preço do carro novo é tão caro?”

O ponto inicial é: não foi o carro novo que ficou absurdamente caro… foi a gente que ficou mais pobre!

Uma conta que gostamos de mostrar é a correlação do “preço do carro novo x o valor do salário-mínimo“. Nesse cenário, sempre pegamos o valor mais baixo do nosso “Highlander” Gol e traçamos esse paralelo. E tivemos:

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O que percebemos é que, no início de tudo (começo do Plano Real/1994), o brasileiro médio precisava de 107 salários-mínimos para poder comprar um carro básico novo.

Somente a partir de 1999 conseguimos reduzir a disparidade, saindo de 110 salários-mínimos, em 2000, para 35 salários-mínimos em 2017. Ou seja, reduzimos o gap em 70% em um período de 15 anos.

Nos últimos anos, tudo piorou. Mesmo assim, a necessidade de salários-mínimos necessários para comprar um carro novo é 40% menor do que há duas décadas.

Apesar dos caóticos anos recentes, podemos afirmar que estamos dentro da média histórica.

Ok, mostramos que a quantidade de salários-mínimos para se comprar um carro novo zero veio declinando ao longo das últimas décadas e que estamos dentro da média histórica. Mas quanto tempo demora para um consumidor comprar um carro novo?

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Bom, aí fizemos a analogia com o PIB PER CAPITA médio do brasileiro. Se considerarmos que a média de renda do consumidor brasileiro foi o PIB per capita (o que sabemos que não foi), a grande conclusão é que o consumidor de carro novo precisa trabalhar por 537 dias e guardar todo o dinheiro (e viver de ar/luz) para poder comprar um carro “pé de boi” novo.

Com base na renda deste ano, o consumidor brasileiro médio precisa trabalhar 630 dias para comprar um carro básico novo. Apenas como fator comparativo, um americano médio precisa de uns quatro meses de trabalho.

Você deve estar afirmando que: “Sim, o carro novo do brasileiro é caro para chuchu! Demorar um ano e meio para juntar a grana e comprar um carro zero é ‘du carvalho!’”.

Médio… Primeiramente, este estagiário não se encontra nesse mundo de comprar carro novo – ele se vira com as bikes do Itaú.

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Mas o grande ponto aqui, por mais que estejamos comparando a evolução do VW Gol com a renda do brasileiro ao longo dos últimos 28 anos, faltou um fator importante que é difícil de se mensurar: os avanços tecnológicos.

Estamos falando de um Gol. Mas o Gol de 1994 é totalmente diferente do Gol de 2022. Além disso, ele ficou 49% mais barato.

Veja esse recorte somente dos últimos três anos:

O que eu gosto do gráfico acima é que ele mostra como os veículos “novos” tiveram um salto evolutivo abismal.

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Neste ano, 60% dos carros vendidos vêm com câmera de ré. Um aumento de 45% sobre o total de carros vendidos com esse equipamento em 2020. O multimídia já está em 55% dos carros. Além disso, carros com motor turbo caíram no gosto do consumidor, além de serem infinitamente mais econômicos.

Sistema anticolisão e controle de navegação (para sua segurança e para a alegria das seguradoras) também passaram a ter uma demanda significativa e viram esse tipo de gadget aumentar a sua participação em mais de 350% nos últimos três anos.

A conclusão é que o carro novo “não ficou/não está assim tão caro”. Principalmente se compararmos o avanço tecnológico do mesmo modelo de 1994 e o de 2022.

Na real, é como falei no começo deste texto: o problema aqui é que ficamos mais pobres!

 

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Raphael Galante Economista, atua no setor automotivo há mais de 20 anos e é sócio da Oikonomia Consultoria Automotiva

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