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O segredo de Tostines!

É fresquinho porque vende mais ou vende mais porque é fresquinho?
Por  Raphael Galante
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

Não tentando criar a 3º guerra mundial sobre se ele (Tostines) é “biscoito” ou “bolacha”, mas sua ideia central  que pode explicar um pouco mais a derrocada do setor automotivo.

Um dos fatores que indicam a queda nas vendas de carros é a diminuição na oferta de crédito (ou será que a diminuição na oferta de crédito foi motivada pela queda nas vendas?). O fator crédito é  que impulsiona a venda de carro novo e usado. E, no momento em que os bancos decidiram dar um “breque” no crédito, o negócio foi lá para o beleléu…

Na média dos últimos seis anos, basicamente 61% de todos os carros novos vendidos foram financiados (independentemente se foi um CDC; Leasing ou Consórcio).

Isso mostra a dependência do crédito. Ao longo destes quase 6 anos, as vendas de carros e crédito tiveram essa dinâmica:

 

MÉDIA MENSAL – VEÍCULOS NOVOS

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ANO

FINANCIAMENTO

VENDAS

PARTICIPAÇÃO%

2011

176.479

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284.869

62,0%

2012

187.468

302.677

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61,9%

2013

188.972

297.762

63,5%

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2014

170.123

278.615

61,1%

2015

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120.192

206.137

58,3%

2016

88.457

162.974

54,3%

 

Onde as variações percentuais tiveram essa dinâmica:

 

VARIAÇÃO PERCENTUAL

PERÍODO

FINANCIAMENTO

VENDAS

12 / 11

6,23%

6,25%

13 / 12

0,80%

-1,62%

14 / 15

-9,97%

-6,43%

15 / 14

-29,35%

-26,01%

16 / 15

-26,40%

-20,94%

16 / 11

-49,88%

-42,79%

 

E aqui entra o nosso dilema de tostines! Foi o crédito que fez as vendas de carros naufragarem ou o crédito despencou por causa das vendas de carros?

Logicamente que,  como o meu tico e teco ainda funcionam, o que  coloquei aqui em cima não explica nada, e a dúvida continua! Apenas que existe uma correlação forte (R²) entre esses dois tópicos. Mas aqui, caro leitor, digníssima leitora, entram algumas explicações adicionais.

Quando a gente percebe quem foi o agente financiador desses veículos, é que a porca torce o rabo!

O que fizemos? Uma divisão simples:  separei em dois grandes blocos. De um lado, apenas os agentes financeiros ligados a alguma montadora como, por exemplo: Banco VW e Banco GMAC, e, do outro lado, o resto. Por exemplo: Banco Bradesco; BB e por aí vai…

Não desmerecendo os bancos de montadoras, mas eles não são assim um “BANCO”… são “tipo um banco assim”…

O banco de montadora tem como conceito básico, e primordial, ser um braço financeiro da sua montadora. Seja dando linhas de Floor Plan ou financiando veículos, por exemplo.

E o que nós tínhamos em 2011? Bom, os bancos de montadoras, que são “tipo um banco assim”, realizaram apenas 18% de todos os contratos de financiamento. Já os bancos com “B MAIÚSCULO” financiaram os outros 82%. E como estamos hoje em dia? Bem,  a conta inverteu! Os financiamentos dos bancos de montadoras bateram a casa de 63% contra 37% dos “bancos de varejo”.

Eles, bancos de montadoras, estão trabalhando a toda! Já os bancos de varejo, realmente “quase saíram do mercado”.

Outro aspecto que complementa a tese de que os bancos de varejo “desaceleraram”, foi o que aconteceu com o mercado de carros usados. São poucos bancos de montadoras que atuam nesse nicho de mercado.

Quando a gente faz o mesmo raciocínio com o mercado de veículos usados, temos:

 

MÉDIA MENSAL – VEÍCULOS USADOS

ANO

FINANCIAMENTO

VENDAS

PARTICIPAÇÃO %

2011

                    282.607

                    738.579

38,3%

2012

                    253.438

                    750.958

33,7%

2013

                    245.647

                    786.187

31,2%

2014

                    247.167

                    837.609

29,5%

2015

                    227.466

                    832.309

27,3%

2016

                    215.985

                    808.906

26,7%

 

Sendo que as variações percentuais tiveram essa dinâmica:

 

VARIAÇÃO NAS VENDAS

PERÍODO

FINANCIAMENTO

VENDAS

12 / 11

-10,32%

1,68%

13 / 12

-3,07%

4,69%

14 / 15

0,62%

6,54%

15 / 14

-7,97%

-0,63%

16 / 15

-5,05%

-2,81%

16 / 11

-23,57%

9,52%

 

Podemos perceber que o mercado de carros usados é marginalizado onde – atualmente – apenas 25% dos carros são financiados. E como vocês podem notar na tabela acima, se compararmos 2016 sobre 2011, as vendas cresceram quase 10%,  enquanto o volume financiado caiu 24%.

Neste caso, conseguimos decifrar o nosso “segredo de tostines”. O mercado está uma “caca”, mas os bancos parando de emprestar dinheiro, piorou tudo!

Aqui, um ponto interessante, que tende a ajudar na recuperação do setor, seria se houvesse por parte dos agentes financeiros mais linhas de créditos para veículos usados. Atualmente, 8 em cada 10 carros vendidos são usados, e apenas 2 são financiados; os outros seis são vendidos à vista. No caso dos 2 carros novos vendidos, um é financiado e o outro é vendido a vista.

Nós chegamos a conversar com algumas pessoas dos bancos de varejo, questionando sobre essa diminuição na oferta de crédito, e a resposta que tivemos deles foi mais ou menos que:

“Emprestar dinheiro para pobre é pedir esmola duas vezes”.

A linha de crédito deles foi direcionada para produtos de menor risco, como o consignado e para o imobiliário (já que o imóvel “não some” como o carro).

Raphael Galante Economista, atua no setor automotivo há mais de 20 anos e é sócio da Oikonomia Consultoria Automotiva

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