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O que explica os 35 anos de “monopólio” da Honda no Brasil?

Montadora domina 81% do segmento de motos no Brasil há mais de três décadas
Por  Raphael Galante -
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

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Caro leitor, digníssima leitora: o foco deste post não será sobre mercado de carros. Hoje abordaremos o setor de motocicletas. Tirando os “cachorros loucos” que transitam pela 23 de maio, a grande maioria é como o Vital (daquela música do Paralamas, lembra?), onde: “a vida em duas rodas era tudo que eu sempre quis”.

Mas o que está acontecendo com o setor?

Depois de uma queda nas vendas de 60% entre 2017 e 2011, o segmento esboçou uma reação já no ano passado. Em 2019, o mercado deverá registrar forte crescimento nas vendas – aproximadamente uns 15%. O setor de motos deverá vender mais de 1,1 milhão de unidades, contra as 958 mil motos do ano de 2018.

Mesmo assim, o resultado ainda ficará longe do recorde histórico de 2011, quando tivemos quase 2,1 milhões de motos vendidas.

Nosso ponto de vista sobre o que vem impulsionando o setor identifica três fatores:

  • A volta do crédito: o setor de duas rodas é muito sensível quando existem oscilações na demanda de crédito. A queda de 60% que o mercado viveu lá trás foi motivada – entre outros fatores – por causa disso. Agora, tem gente comprando motocicleta no cartão de crédito!
  • Renovação da Frota: a frota de motocicletas (devido ao baixo volume de vendas) ficou muito velha. Para se ter uma ideia, entre 2005 e 2011 (sete anos), tivemos mais de 11,2 milhões de motos vendidas. No segundo ciclo, que foi de 2012 até 2018, as vendas ficaram em 8,5 milhões de unidades. E por quê raios o estagiário está usando um ciclo de sete anos? Não… ele não é supersticioso: uma moto, em geral, não dura mais do que sete anos (daquelas que são as mais vendidas);
  • Nova economia: outro ponto que ajudou a impulsionar o crescimento neste mercado, foi o surgimento das startups, como a Loggi; Rappi, James e (possivelmente) a Picap, já que (no caso dessa última), foi derrubada a proibição de mototáxi aqui na cidade de São Paulo.

Ou seja, para o mercado de motocicletas, parece que no horizonte abre-se um céu de brigadeiro.

Ok. Tudo lindo e maravilhoso. Mas o que tem a ver a Honda e o seu monopólio?

Tudo!

Primeiramente, achamos que os “japas” da Honda são do c@#&$! Eles dominam o segmento de motos há pelo menos 35 anos. Nesse segmento, a Honda possui um share médio de 81%. Reforçando: é um share “médio” de 81% EM 35 ANOS! Ou seja, desde de 1985, muito antes do estagiário ganhar o seu primeiro velotrol, conforme imagem abaixo:

gráfico de vendas de motos no Brasil

E sabe o que foi o “mais-melhor-de-bom”? Eles fizeram exatamente o contrário do que os livros de economia nos falam sobre o que é um monopólio/oligopólio. O que explicam sobre monopólio/oligopólio para os nossos estudantes?

Monopólio: é a exploração sem concorrente de um negócio ou indústria, em virtude de um privilégio. É a posse ou o direito em caráter exclusivo. Ter o monopólio é possuir ou desfrutar da exploração de maneira abusiva, é vender um produto ou serviço sem concorrente, por altos preços. Do grego monos, que significa “um” e polein que significa “vender”.

Oligopólio: é caracterizado por um conjunto de empresas que domina determinado setor da economia ou produto colocado no mercado. Em geral, impõem preços abusivos e elimina a possibilidade de concorrência, através da aquisição de pequenas empresas.

É comum as empresas que formam o oligopólio estabelecerem cotas de produção (o que eleva os preços) e divisão territorial do mercado consumidor entre si, a fim de aumentar suas taxas de lucro.

E o melhor de tudo é que eles não foram para o lado negro da força!

O pessoal da Honda não explora o setor “em virtude de um privilégio” ou “impõem preços abusivos” e “eliminam a possibilidade de concorrência”.

Sobre a concorrência; basta qualquer um ir lá montar uma fábrica na Zona Franca de Manaus. Preços abusivos? Vou te dar um exemplo: atualmente, a Honda comercializa o seu modelo BIZ 125 ao preço de R$ 10 mil. Sabe o que isso significa? Que se pegarmos essa “quase” mesma moto, em 2002 (18 anos atrás – direto do túnel do tempo) a moto atual é 12% mais barata!

Oi???

Sim… 12% mais barata, se considerarmos a correção do veículo pelo índice IPCA. Ou seja, a moto nem foi corrigida plenamente pelo IPCA. E o pior (melhor) de tudo: não era uma “BIZ 125”,era uma C100 Biz+. E, como diria G-Zuis, houve aqui uma mudança da água para o vinho!

Quer mais?

A Honda tem um banco próprio e uma administradora de consórcio para financiar os seus produtos. Falando na administradora de consórcio da Honda, ela tem quase 1,5 milhão de clientes ativos, sendo 600 mil que ainda vão retirar a moto.

Esses 600 mil clientes que vão retirar uma motocicleta Honda nos próximos anos representam um volume equivalente a tudo o que os seus concorrentes venderam em três anos!

A barreira de entrada que a Honda criou no setor de motos baseou-se no alto grau de eficiência que ela criou. Os japas pensaram em algo, fizeram as suas “japices” e estão aí dominando o mercado. O mérito é 100% deles.

Qualquer um pode entrar nesse mercado… mas tem que vir na porrada. Dar uma de aventureiro não vai rolar…. basta ver que fim levou o IPO da Sundown.

Lógico que posso explorar algum nicho de mercado, como motos de luxo tipo BMW ou Triumph, mas isso não vai gerar escala.

Ahhh… mas o cenário pode mudar? É verdade, pode. Mas é mais fácil aquele time ter um mundial do que isso ocorrer.

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Raphael Galante Economista, atua no setor automotivo há mais de 20 anos e é sócio da Oikonomia Consultoria Automotiva

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