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Mercado de carros usados cai 20% e trava todo o setor no 1º semestre

Deixamos de vender quase 1,1 milhão de carros usados neste 1º semestre. E, se o mercado “secundário” de veículos não vem rodando, isso trava automaticamente o mercado de novos
Por  Raphael Galante -
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

Caros leitores, digníssimas leitoras,

Um dos pontos que vem travando a indústria de carros novos é o mercado de veículos usados.

Hoje (e desde sempre), o carro usado é considerado como a principal moeda na compra do carro novo.

O mercado de usados aquecido reflete automaticamente no sucesso – ou no insucesso – do mercado de novos.

Além disso, desde a época do “guaraná com rolha”, o brasileiro médio sempre teve dois grandes sonhos: a casa própria e o carro próprio.

E, se o sonho da casa própria vem ficando cada vez mais longe, o do carro próprio não. Já que possuir um “carro próprio” não significa necessariamente ter um carro novo.

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Nos últimos dez anos, a indústria de carros novos se encontra em trajetória de ladeira abaixo. Mas, quando somamos as vendas de veículos novos e usados, percebemos que na última década o mercado de veículos mostrou uma trajetória diferente.

O mercado total de veículos oscilou num range de vendas entre 1 milhão e 1,1 milhão de veículos/mês (excluindo o ano pandêmico de 2020).

Ou seja, na última década, o consumidor brasileiro costumeiramente adquiriu um veículo para uso próprio, seja novo ou usado.

Mas o grande diferencial deste ano é que o mercado de usados travou.

No fechamento do primeiro semestre de 2022, o mercado de veículos usados registrou vendas de 4,37 milhões de unidades, uma retração de quase 20% sobre o 1º semestre de 2021, quando tivemos 5,45 milhões de unidades comercializadas.

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Ou seja, deixamos de vender quase 1,1 milhão de carros usados neste 1º semestre.

Esse é um dos reflexos para o mal desempenho do mercado de novos. Se o mercado “secundário” de veículos não vem rodando, isso trava automaticamente o mercado de novos.

Lembrando que o mercado de novos registra retração de uns 15% neste semestre.

E essa é apenas uma das explicações plausíveis para a queda no setor.

Outra explicação que colabora com a derrocada de toda a indústria é a de que os bancos não querem mais brincar com o pessoal do setor automotivo.

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Se fizermos um corte de 2008 até 2022, percebemos que a participação do crédito veio despencando ao longo dos anos. Se, em 2008, 50% dos veículos vendidos eram financiados, neste ano estamos com uma participação de 38,5%, o que representa uma perda de 11,5 pontos percentuais.

E a maior queda, por incrível que pareça, deu-se no mercado de veículos novos: uma queda de mais de 16 pontos percentuais, saindo de uma penetração de 56% para menos de 40% neste ano.

Você deve estar pensando: “ok, em linhas gerais, você falou que o grande problema do setor é a falta de crédito”.

Sim, mas tem mais. Como estamos no Brasil, devemos lembrar que tudo pode piorar!

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Outro fator que influenciou absurdamente (e negativamente) a indústria, foi a elevação dos preços dos carros –novos e usados.

Aqui, um dos pontos que vamos mostrar para vocês, caros leitores, é: “esqueça o mercado de ações!”.

Se você tem uma carteira atrelada ao Ibovespa, que registrou queda de 17,26% nos últimos 18 meses (ou 22,29% no último ano), saiba que um dos melhores investimentos (?) que você poderia ter feito é ter comprado um carro novo e o segurado por esse período!

Aí conversamos com o pessoal da MOBIAUTO, que fez um estudo sobre como evoluíram os preços de algumas versões de carros, desde o começo do ano passado até o final deste 1º semestre.

Dos 136 veículos estudados, a pesquisa apontou que a valorização média dos carros ficou por volta de 8,26%. Ou seja: se você, caro leitor, comprou um carro de R$ 100 mil no começo do ano passado, ao final do 1º semestre deste ano o mesmo veículo estava avaliado por volta de R$ 108.260,00.

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Pegando apenas os 20 principais modelos que apresentaram maior valorização no período do estudo, temos uma valorização média de 20%, oscilando entre um range de 16% até 28%, conforme tabela abaixo:

Quando a gente verifica as famílias dos carros (agrupando todas as versões), a valorização média do preço dos carros ficou por volta de 7,38%. Pegando apenas os 20 principais veículos, a média deles é de 11,8%, oscilando entre um range de 6% e quase 21%.

Na real, não é só a falta de crédito que vem causando a derrocada do setor. A inflação sobre o carro novo (e usado), sem uma recomposição da renda média do brasileiro, só tende a piorar toda a situação.

Na verdade, depois de dois anos de pandemia, acreditamos que o grande mal do mundo moderno é a inflação global, que está afetando a tudo e a todos.

Os carros que mais valorizaram no último ano 2022x2021

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Raphael Galante Economista, atua no setor automotivo há mais de 20 anos e é sócio da Oikonomia Consultoria Automotiva

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