ME ENGANA QUE EU GOSTO!
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Findado o primeiro bimestre de 2014, o setor registrou crescimento de 5,1% sobre o primeiro bimestre do ano passado. Foram vendidos 545,6 mil carros contra 519,3 mil do ano passado.
Com resultado de 5% de crescimento, cria-se um sentimento de “otimismo” e “euforia” (principalmente se levarmos em conta o PIB”inho” do ano passado e a expectativa menor ainda para esse ano) em boa parte da mídia, e especialistas começam a cogitar um possível crescimento nas vendas.
Bom… os resultados deste primeiro bimestre estão no ritmo do “ME ENGANA QUE EU GOSTO”! As vendas de veículos aumentaram 5% mas, nos nossos modelos de avaliação, trabalhamos com uma NOVA retração do mercado, entre -3,5% a -5% para a venda de carros.
Mas, afinal de contas, o que ocorre?
Devemos fazer uma análise bem detalhada para explicar esse crescimento e porquê encerraremos o ano com nova queda de vendas.
Os principais fatores são:
CRÉDITO – A oferta de crédito continua estagnada. Linhas de crédito, como ofertadas num passado não tão remoto, de financiamento em 72/80 meses sem entrada, deverão ficar muitos anos sem aparecer no sistema. Hoje, quem financia boa parte dos veículos são os bancos de montadoras. Aliás, esses mesmos bancos, foram os grandes responsáveis pelo bom desempenho do Sistema de Consórcio no ano passado, onde registramos crescimento nesta atividade de 26%. Não conseguimos detectar qualquer sinal de que as linhas de crédito irão melhorar (significativamente) neste ano em relação ao ano passado;
PREÇO – Neste primeiro bimestre, os preços dos carros vendidos estão em média 6,3% mais caros do que se comparado com o mesmo período do ano passado. Hoje, o carro médio vendido é de R$ 46,9 mil contra R$ 44,13 mil do ano passado. Esse aumento é reflexo das novas alíquotas de IPI vigentes neste ano e também pelos novos itens de segurança obrigatórios (bem mais caros!).
VELHO, MAS NOVO – O crescimento de 5% nas vendas de veículos neste primeiro bimestre está atrelado ao estoque de carros do ano passado, que ainda estão nos pátios das concessionárias e montadoras. Para vocês terem ideia, 72% dos carros vendidos neste ano foram produzidos no ano passado. O que isso quer dizer? Isso significa que esse aumento de vendas está atrelado a produtos com alíquota de IPI menor, sem os novos itens de segurança obrigatórios e de produtos que já não estão sendo mais produzidos. Um grande exemplo é a vovó VW/Kombi (que já deixou de ser fabricada) e vendeu 3,2 mil unidades. Basicamente, isso é quase o volume total da Kia (4,1 mil). Se pegarmos este mesmo carro, além do Gol GIV e do Uno Mille, temos 18,8 mil carros vendidos, que representam 3,5% do total vendido; ou então que esses três modelos representam as vendas totais da Nissan e da Peugeot juntas.
Então, temos: crédito estagnado, preço em alta, fim do estoque antigo e, só para complicar mais um pouquinho, teremos (?!?!?!) de aumento da alíquota de IPI e baixa atividade comercial nos meses de junho e julho. Ou seja, aproveitando também a cerimônia do Oscar que aconteceu nesta semana, estamos “A ESPERA DE UM MILAGRE” para mantermos o otimismo do setor.