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Falta de lucratividade das montadoras no Brasil: mito ou verdade?

Algumas montadoras - como a GM - estão reclamando da sua "falta de rentabilidade". Será que isso realmente é verdade? Assim como tivemos uma onda de montadoras se instalando no Brasil há 20 anos atrás, teremos agora um movimento contrário?
Por  Raphael Galante
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

Caros leitores, digníssimas leitoras: recentemente, vimos na mídia a choradeira (quase que generalizada) das montadoras – capitaneadas pela GM.

O foco central é a baixa rentabilidade que elas possuem nas suas operações aqui em terra tupiniquins. Mas, como sempre dizia a minha avó: “quem conta um conto, aumenta um ponto”.

E o que sempre falamos é que, em toda história existem três lados: o meu, o seu, e a VERDADE.

Não temos a pretensão de ser o dono da verdade… mas vamos apenas fazer alguns apontamentos que o pessoal das montadoras esqueceram de mencionar. Vamos lá:

O prejuízo é liquido e certo. Esta semana, a maioria delas divulgou os seus balanços e aí vimos o tamanho do nabo delas!

Vamos trabalhar com dois exemplos, GM e FORD (duas das montadoras mais antigas instaladas; e a primeira e a quarta em volume de vendas, no ano passado).

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O que está pegando aqui é que ambas são americanas! E o mercado americano está bombando de vender carros! Elas nunca ganharam tanto dinheiro (no mercado americano) como agora. O grande ponto é que os demais mercados estão dragando a rentabilidade delas. E aí, estamos falando de América do Sul, Europa, China e por aí vai…

O maior mercado para elas (chinês) ainda não está rentabilizando como gostariam.  Pegando o exemplo da FORD, o mercado americano fechou com Ebitda na casa de US$ 7,607 bilhões. Mas o grupo se rentabilizou “em apenas” US$ 5,422 bilhões. Ou seja, os outros mercados (Brasil no meio) geraram um prejuízo de US$ 2,185 bilhões!

A GM  sofreu um pouco menos, já que a sua operação na China está trazendo lucratividade! Mas mesmo a rentabilidade da área internacional (China – principalmente) despencou no ano passado em 68%.

O ponto aqui para entendemos a choradeira do pessoal da GM (e de outras) é que o americano é super pragmático (e isso é bom!). Ele não quer saber o que você “já fez pela empresa”, e sim o que você “poderá fazer”!

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Afinal de contas, quem vive de passado é museu!

O que eu imagino/visualizo é que o americano deve ter colocado as cartas na mesa, e o pessoal da filial da América do Sul deve estar mais ou menos como na historinha do Mauricio de Souza:

E qual é o outro lado? Temos três colocações a fazer:

A primeira, seria que eu poderia falar que antes daquela “marolinha” chegar e devastar tudo, suas maiores rentabilidades eram no mercado sul-americano (vulgo Brasil). E, de fato, eram. Mas, como eu disse, quem vive de passado é museu! O que devemos levar em consideração (e aí elas não falam muito) é que as “outras empresas do grupo” estão indo muitíssimo bem, obrigado!

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Por exemplo, todas as duas por acaso possuem um banco. E você, aqui do Infomoney, se lembra de quando um banco (só vale os decentes) apresentou um balanço com prejuízo? Então, né… no caso da GM Financial (ou Banco GMAC aqui no Brasil), eles quase triplicaram o seu lucro líquido!

O segundo ponto é que os resultados são da América do Sul. Sendo o Brasil o principal mercado. Devemos lembrar que existem outros países/mercados… E, aí, amiguinho… quando a gente vai lá na terra dos nossos “hermanos”, o negócio é muito mais feio!

Além disso, soma-se que, como essas marcas são antigas, as suas operações são demasiadamente caras e ultrapassadas (se comparadas com as outras). A desvalorização do Real e “principalmente” do Peso, arruinaram boa parte da rentabilidade. Sem contar que a GM já teve uma das suas fábricas “socializada” na gloriosa democracia bolivariana de Nicolás Maduro!

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Para piorar, boa parte das suas plantas estão no pior lugar possível no quesito mão-de-obra, que é no grande ABC. E, no atual nível de competitividade, isso precisa ser urgentemente mudado!

O terceiro ponto que eles nunca falam é dos seus créditos tributários. Eles falam que a operacionalização das marcas é um mal negócio; comercialmente não é rentável; mas parece que todos já estão “abrasileirados”, ou seja, sou brasileiro e não desisto nunca!

Mas, por exemplo, no caso da GM, só de crédito de PIS/Cofins que ela está cobrando do governo, seria de quantas “centenas de milhões de Reais” (na verdade, já está na casa de bilhão)?

Ou seja, é ruim, mas ninguém quer largar o osso! Ou, como diria o meu amigo lá de Belzonti: “tá ruim, mas tá bom!”

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Aí, o estagiário aqui questionou:

E aí, tio (ele não é meu sobrinho), o que eles têm que fazer para arrumar a bagaça?

Eles deveriam fazer a mesma coisa que fazem no mercado americano: em resumo, é respeito ao consumidor e, acima de tudo, ao produto deles.

No final do mês passado, o pessoal da JD Power (lá dos EUA) fez um Auto Summit para detalhar as novas tendências e um pouco mais do mercado americano.

O trabalho deles é excepcional, e o que mais chamou a atenção é a analise das marcas no mercado americano.

O resumo das marcas (sem ser de luxo) é mais ou menos esse:

Em resumo, lá (nos EUA, como no Brasil), as marcas Honda e Toyota são mais bem avaliadas pelo consumidor. E qual o segredo deles?

Vamos pegar o exemplo da Toyota.

O conceito é: verde – Excelente; azul – Bom; amarelo – Regular; vermelho: O que você ainda está fazendo aqui?

Eles analisam 4 aspectos: Avaliação do Cliente; Novos consumidores; Valor do produto; Tendência da marca.

E a Toyota ficou assim:

O grande ponto da marca é: A IMAGEM/CONFIANÇA que ela passa ao cliente, gerando um alto grau de “toyoteiros” e, acima de tudo, o VALOR RESIDUAL DO PRODUTO! A porcaria do carro não desvaloriza! É preferível você comprar um Toyota do que deixar o dinheiro aplicado na poupança!

A Toyota, como a Honda, faz o básico (qualidade/serviço/imagem). E isso gera a rentabilidade da marca. É um projeto de médio/longo prazo; tanto que, neste ano, a Toyota é a quarta marca que mais vendeu carros. Uma coisa que era quase impensável há 5 anos e inimaginável uma década atrás.

Invista para fugir do financiamento na hora de comprar um carro: abra uma conta na XP – é de graça!

Agora, aquelas montadoras que ficam vendendo o seu carro ao consumidor final e depois queimam boa parte deles lá em MG junto com o pessoal da Localiza e/ou Unidas, espera pra ver…

Daqui a pouquinho, vão chorar junto com o pessoal da GM (FiCA a dica)

E ai, o que achou? Dúvidas, me manda um e-mail aqui

Ou me segue lá no Facebook aqui.

=)

Raphael Galante Economista, atua no setor automotivo há mais de 20 anos e é sócio da Oikonomia Consultoria Automotiva

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