Dados de financiamento mostram que bancos estão abandonando o setor automotivo

Na média anualizada, menos de 40% de todos os automóveis vendidos em julho deste ano foram financiados – “nunca na história deste país” se financiou tão pouco veículo no Brasil

Raphael Galante

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Caros leitores, digníssimas leitoras,

Existe um dito popular que diz algo como: “Quando o barco afunda, os ratos são os primeiros a deixar o navio”. Analogias à parte, no setor automotivo, o que percebemos é que os bancos meteram o pé no freio e pararam de conceder crédito ao consumidor. Ou seja, pularam fora!

E o que percebemos com as últimas informações que a caboclada lá do pessoal da B3 divulgou?

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Descobrimos que, na média anualizada, menos de 40% de todos os automóveis vendidos em julho deste ano foram financiados! Esse é o pior resultado da série histórica, ou seja, “nunca na história deste país” se financiou tão pouco veículos!

Historicamente, pouco mais da metade de todos os carros novos vendidos eram financiados. O melhor resultado do setor foi o ano de 2013, quando tivemos 2,26 milhões de autos financiados sobre uma venda de 3,58 milhões de carros, gerando uma participação de 63,2%.

Neste ano, “mal e porcamente” chegaremos a 1,8 milhão de carros vendidos e uns 735 mil veículos financiados, ou seja, menos de 1/3 do que se registrou no ano santo de 2013.

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Voltando ao gráfico acima, nota-se que essa “parada” dos bancos nas concessões vem ocorrendo nos últimos 12-16 meses – e sem qualquer sinal de melhora!

Esse é um dos pontos que explica a bancarrota do setor. Afinal de contas, vender um veículo, com alto valor agregado, sem uma linha de crédito adequada para o consumidor passa a ser quase como o 13º trabalho de Hércules!

Existem aqui dois pontos a serem mais bem explorados:

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O primeiro é que, se bobear, virá alguém lá dos bancos afirmando que tudo isso descrito acima é presepada deste vil estagiário, já que neste primeiro semestre (segundo o Banco Central), foram liberados mais de R$ 93,6 bilhões em concessões de crédito para a compra de veículos, sendo que esse foi o melhor resultado “forever and ever” do sistema bancário – valor este 1% maior que o registrado nos primeiros seis meses do ano passado, quando tivemos R$ 92,6 bilhões liberados.

E eles estão certos! Mas o que não eles não comentam é que só estão liberando crédito – em geral – para aquele público AAA+, a nata da nata do mundo de Caras. Ou seja: liberei mais dinheiro? Sim! Mas financiei menos carros! Logo, só estou dando preferência para carros de alto ou altíssimo valor agregado lá para o pessoal que habita a ilha de Caras.

Já aqueles meros mortais que habitam o meio ou até mesmo a base da pirâmide social (o estagiário se encontra no subsolo) estão sendo parcialmente preteridos neste momento.

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Mas entendo os bancos. Em um momento de incerteza e turbulência como o atual, eles geralmente possuem duas opções em suas mesas: posso tentar ganhar MUITO dinheiro com mais risco/trabalho, ou ganhar MENOS dinheiro com menor risco/trabalho. Eu teria feito a mesma coisa, sem pensar duas vezes!

O segundo ponto que preocupa mais é que, como estão nesse processo de desaceleração há 12-16 meses (e contando), vai haver uma certa demora até atingirmos uma “estabilidade”, para então fazermos aquele movimento de aceleração na oferta de crédito, voltando ao nosso patamar médio de 50%.

O que quero dizer com tudo isso? Mantendo o ritmo atual, provavelmente durante os jogos da Copa do Mundo, mas a de 2026, estaremos dentro da nossa normalidade histórica. Até lá, ainda teremos muita turbulência à frente… infelizmente.

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Raphael Galante

Economista, atua no setor automotivo há mais de 20 anos e é sócio da Oikonomia Consultoria Automotiva