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A Hora do Pesadelo: a maldição dos carros usados

Alteração do redutor da alíquota de ICMS do carro usado em São Paulo vai mexer no seu bolso, caro leitor
Por  Raphael Galante
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

Caros leitores, digníssimas leitoras: desde que o mundo é mundo, existe um conceito – que foi amplamente difundido, principalmente nos anos 1990 – sobre a família perfeita-feliz-ideal, que seria aquelas de um “comercial de margarina”. Como a nossa “família Doriana”.

Nos comerciais da Doriana, tudo é perfeitinho. A esposa impecável logo de manhã, o marido sempre bem humorado, os filhos se comportando à mesa, os avós sempre participativos e invariavelmente aparecia um labrador para dar aquele grand finale.

Mas, no setor automotivo, o pessoal está começando a viver um pesadelo “à la DORIAna”, onde aquilo que já é ruim… tende a ficar pior!

Na verdade, grande parte do pessoal do setor automotivo parece viver num eterno pesadelo em Elm Street. Mas, devaneios à parte, vamos à nossa epopeia.

O pessoal que acompanha esse espaço aqui é ciente que o estagiário é meio “zero hora” e, em geral, o “tico e o teco” não funcionam direito; demoram para entender qual é o “pulo do gato” daquilo que ele vê.

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Vamos lá…

Recentemente, o estado de São Paulo publicou uma lei que alterou o redutor da alíquota de ICMS do carro usado.

Mas qual será o impacto?

A alteração desse redutor implicará em um aumento no valor de ICMS na ordem de 207%.

Sim, caro leitor! É exatamente isso que você leu… o ICMS do carro usado aumentará em 207%.

Como assim?

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Veja a tabelinha abaixo num exemplo hipotético de um carro usado de R$ 40 mil.

Um possível aumento na carga tributária do ICMS desta ordem (207%), num governo que se auto-intitula como liberal – ou prega o liberalismo -, não entra na cabeça do estagiário. O tico e o teco entram em colapso!

Quando olhamos para o mercado de carros usados em São Paulo, estamos falando num volume de mais 3,35 milhões de veículos vendidos no ano de 2019. Sendo que a grande maioria foi comercializada pelos mais de 15 mil lojistas e concessionárias do Estado.

E a grande pergunta é: quem vai pagar a conta desta catástrofe?

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É você, caro leitor (o estagiário aqui usa as bikes do Itaú para se locomover).

Sabe aquela eterna briga que você tem quando vai vender o seu carro usado para um lojista/concessionário, esperando que ele pague o preço da tabela FIPE, e ele vem com um deságio de uns 20% a 25%? Então, esse deságio vai aumentar!

Só um esclarecimento: A TABELA FIPE mostra o preço de venda do carro, não o preço de compra. Neste caso, para você saber o preço de compra que os lojistas e concessionárias pagam pelo seu carro, você tem que ir atrás da TABELA FGV/AUTOAVALIAR.

Voltando… quando lojistas e concessionários compram o seu veículo, eles têm que: pagar o ICMS na hora da venda; dar garantia de 90 dias; tem que dar aquele “tapa” no veículo para poder vender; anunciar o veículo; pagar o vendedor; pagar os custos operacionais da empresa – e ter lucro.

Agora… na nossa realidade, em que a economia do país está uma pindaíba desde a época que a gente decidiu não estocar vento para esses momentos de dificuldades, você acha que essa diferença de R$ 1,5 mil será repassada ao preço final do veículo?

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Nem em sonhos…

Parte vai sair da operação do lojista/concessionário – e uma outra parte será sua.

Se a ideia do governo liberal (?) do estado de São Paulo é aumentar a arrecadação, vou contar um segredo: não vai!

A medida, além de encolher o mercado de veículos usados, vai atingir em cheio o mercado de carros novos. Hoje, a principal moeda usada na compra do carro novo é o carro usado. Em geral, grande parte dos empresários do setor estão com as margens de seus negócios extremamente achatadas. Esse aumento do ICMS será suportado em grande parte pelo consumidor, que verá o seu carro desvalorizar uns 3,5% a mais, pelo ato de uma canetada.

Além disso, a medida vai incentivar os chamados “negócios por fora”, o desenvolvimento dos lojistas/concessionários que ficam em outros Estados em detrimento dos paulistanos, a sonegação de impostos, fora que a recuperação econômica para o setor demorará mais para acontecer….

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Então ninguém ganha nesta história?

Médio…

Se você imaginar uma empresa que possui uma frota de veículos em seu ativo e pretende vender esse ativo imobilizado (como uma locadora de veículos, por exemplo), ela não terá esse encargo e competirá com uma vantagem adicional sobre os lojistas e concessionárias.

O resumo final desta medida (que entrará em vigor já no ano que vem) é:

PERDEDORES: O consumidor final: ele SEMPRE perde em qualquer situação… neste caso, seja pelo aumento dos preços dos carros (que será repassado) ou por uma maior desvalorização do seu usado na hora dele trocar por outro; lojistas e concessionárias: se 2020 foi um ano para se esquecer, 2021 tá aí para nos lembrar que o que é ruim, sempre pode piorar; setor automotivo: como falamos, a principal moeda na hora de comprar um carro novo é o veículo usado, e aí, o governo que se intitula como liberal (sic) decidiu despejar um caminhão de areia nas engrenagens do principal mercado de carros do Brasil (25% de todos carros novos vendidos no Brasil é em São Paulo, ou 1 a cada 4); governo: só um “jênio” para achar que um aumento de 207% em impostos seria ótimo para a arrecadação do estado. Pode-se ganhar de um lado (tenho as minhas dúvidas), mas ele perderá muito mais em outro.

GANHADORES: o pessoal que vai vender “o seu ativo imobilizado” tenderá a fazer isso com maior facilidade e/ou lucratividade, já que esse aumento de imposto não impactará em nada para eles.

E aí, o que achou? Dúvidas, me manda um e-mail aqui. Ou me segue lá no Facebook, Instagram, Linkedin e Twitter.

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Raphael Galante Economista, atua no setor automotivo há mais de 20 anos e é sócio da Oikonomia Consultoria Automotiva

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