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A GALINHA DOS OVOS DE OURO E O SETOR DE DUAS RODAS.

Apontada como um dos grandes destaques da economia após o lançamento do Plano Real, o setor de motocicletas amarga o seu segundo ano de perdas! Aqui tentaremos explicar um pouquinho mais o que acontece...
Por  Raphael Galante
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

Com pouco mais de 129 mil motocicletas vendidas em agosto, o setor de motocicletas registrou queda de quase 4% sobre o mês passado quando foram comercializadas 134 mil motos.

Se nós compararmos esse resultado com o mesmo período do ano passado, onde foram vendidas quase 141 mil unidades, a queda nas vendas é superior a 8%.

Já no acumulado deste ano (jan/ago), temos 1,011 milhão de unidades vendidas contra 1,137 milhão sobre o mesmo período do ano passado, queda de 11% nas vendas.

O setor de motocicletas vai de mal a pior! Ano passado, o setor encerrou o ano com queda de 15% nas vendas e, este ano, com muita sorte (MUITA MESMO!) deverá encerrar com nova queda de 8%, ou seja, queda acumulada de 22% nesses dois anos!

Mas, afinal de contas, o que está ocorrendo com o mercado de motocicletas?

O setor de duas rodas está intimamente ligado com o mercado do sistema de consórcios. De fato, acreditamos que, se não houvesse o produto consórcio, não haveria uma forte indústria de motos; da mesma forma que, se não fosse a indústria de motocicletas, não haveria uma consolidação tão maciça do sistema de consórcio.

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Mas vamos aos fatos:

Fizemos um levantamento sobre a indústria de motocicletas de 1997 até o primeiro semestre deste ano. Nesta conta, ao longo desses 16 anos e meio, tivemos a venda de pouco mais de 18,7 milhões de motocicletas. Sendo que, com as informações do Banco Central, tivemos a contemplação de quase 7,6 milhões de cotas. Ou seja, se você (assim como eu) for morador da cidade de São Paulo e ver passando entre o seu carro 10 motociclistas, saiba que quatro deles compraram a sua moto através do Sistema de Consórcio.

O que queremos ilustrar é que o setor de motocicletas foi um dos segmentos que mais cresceram desde o lançamento do plano Real. Para vocês terem uma ideia, o que foi vendido neste mês de agosto, corresponde pelas vendas de todo ano de 1994. Ou seja, pela conta da padaria, estamos hoje vendendo 12 vezes mais.

E o setor de duas rodas só conseguiu evoluir através do sistema de consórcios. O setor de motocicletas é altamente carente de linhas de crédito. Analisando o período de 1997 até 2004, a penetração do consórcio nas vendas de motocicletas atingiu a média de 56%. Vendo isoladamente o ano de 1999, quando tivemos a reeleição do FHC e logo em sequência a maxidesvalorização do Real, a participação do consórcio naquele ano foi de quase 65%.

O grande conceito que o setor de duas rodas construiu, era da necessidade de montar uma carteira de clientes para realizarem a entrega de seus bens no longo prazo e, neste cenário, o consórcio entrou como a ferramenta ideal.

O atual problema que o setor vive hoje foi construído por eles mesmos, durante os anos de 2006 até 2008. Foi nesses anos que os bancos “descobriram” o setor de duas rodas. Com taxa anual de crescimento de dois dígitos, quem não queria pegar essa onda? E eles (bancos) pegaram. Foi nesta época que a indústria tinha sorrisos de orelha a orelha! Para se ter uma ideia, no ano de 2008, tivemos dois meses que vendeu-se mais motos do que automóveis! Os concessionários faziam o seu estoque girar, elevavam o seu lucro e ainda tinham o gordo retorno do F&I.

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E isso durou até que os bancos descobriram que o perfil de cliente de motos é bem diferente do de automóvel; onde a inadimplência subiu num foguete e foi até a estratosfera, e, quando faziam a retomada do bem, descobriam que simplesmente “a moto sumiu”.  Vários pontos não haviam sido dimensionados pelos bancos, pontos esses que as administradoras do sistema de consórcio já estavam “calejadas”.

Quando os bancos fecharam as torneiras o estrago foi feito.

No período de 2006 a 2008, foi quando o setor registrou suas maiores taxas de crescimento, à base do CDC (Crédito Direto ao Consumidor). Houveram ainda tentativas da volta do CDC em 2010 e 2011, mas não foi para frente e, o que registramos em 2012, 2013 é queda nas vendas pela falta de crédito.

Ou seja, todos os players (sejam eles montadoras, concessionários e afins) haviam MATADO A SUA GALINHA DOS OVOS DE OURO.  Eles esqueceram que o crescimento do setor deu-se em grande parte por esta modalidade de autofinanciamento “made in Jabuticaba”.

A retomada do crescimento do setor de duas rodas só voltará a acontecer quando as montadoras e concessionárias voltarem a possuir uma carteira de clientes futura bem significativa. E como o consórcio é um produto de médio a longo prazo, isso deverá demorar um pouco mais para ocorrer…. Tanto é que, não contamos  com crescimento das vendas de motos em 2014.

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ANO

COTAS CONTEMPLADAS

MOTOS VENDIDAS

PART. %

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1997

210.053

388.707

54,04%

1998

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266.442

451.435

59,02%

1999

285.312

441.536

64,62%

2000

328.286

570.591

57,53%

2001

360.807

680.598

53,01%

2002

409.619

766.592

53,43%

2003

455.384

840.733

54,17%

2004

481.709

898.927

53,59%

2005

449.003

1.027.554

43,70%

2006

434.004

1.282.350

33,84%

2007

427.181

1.703.826

25,07%

2008

484.365

1.925.331

25,16%

2009

601.481

1.609.141

37,38%

2010

631.851

1.803.873

35,03%

2011

674.833

1.940.567

34,78%

2012

730.179

1.646.291

44,35%

2013 – jan/jun

368.428

748.285

49,24%

TOTAL

7.598.937

18.726.337

40,58%

Raphael Galante Economista, atua no setor automotivo há mais de 20 anos e é sócio da Oikonomia Consultoria Automotiva

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