Quando fundos podem configurar a melhor estrutura para seus investimentos

Apesar de existirem investidores que preferem sempre o investimento individual ao de fundos, existem casos em que investir em um condomínio pode ser a melhor solução.
Por  Felipe Medeiros -
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

Conheço alguns investidores que possuem aversão aguda à fundos de investimentos e que preferem colocar seu dinheiro na poupança a colocar em alguma estrutura mais complexa. O argumento mais utilizado por esses investidores é de que os fundos além de introduzirem um custo adicional (de taxas de administração e performance), terceirizam a gestão de seus investimentos, de forma que o investidor se torna “refém” de uma atuação do gestor mesmo que este cometa eventuais falhas no futuro.

Esses investidores não deixam de ter razão em ambos os argumentos, mas será que essa é uma regra de ouro que vale para todos? Será que qualquer pessoa que decidir investir por conta própria terá um desempenho líquido melhor que o de todos os fundos de investimentos? Indo mais além, será que por investir sozinho a chance de o próprio investidor cometer um equívoco é menor que a de um gestor de fundo que trabalha exclusivamente com isso? Ou será maior?

Bem, o leitor pode estar me acusando nesse exato momento de induzir a uma resposta óbvia para todas as perguntas: que apesar de verdadeiros os argumentos “anti-fundos”, esses não servem para quaisquer investidores.

O ponto a que quero chegar é que nem todos (para não dizer a imensa maioria) possuem tempo hábil suficiente para fazer uma boa análise de sua carteira de investimentos e consequentemente uma escolha eficiente de seus ativos. Além disso, apesar de serem custosos ao longo do tempo por suas taxas, provavelmente a estrutura de fundos de investimentos se configura como a mais justa e transparente dentre as opções do mercado financeiro.

Escrevi mais profundamente sobre as taxas cobradas pelos fundos em meu site Melhores Fundos, mas gostaria de trazer essas informações também para o leitor da InfoMoney, ainda que mais resumidamente. Vejamos a seguir alguns prós e contras de se investir em fundos e quando essa opção vale a pena.

Prós de se investir em fundos

Transparência

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Em relação à transparência, é impossível não dar destaque à rentabilidade histórica obtida pelos fundos. Isso é importantíssimo, dado que não há como o gestor “mentir” sobre o retorno obtido no passado por o valor das cotas serem calculados diariamente pelo administrador e repassado no mesmo período para a CVM. Além disso, no histórico de rentabilidade do fundo divulgado pelas gestoras já estão descontados todos os custos do fundo, como os de taxa de administração e performance, com exceção dos impostos que variam de acordo com o tempo aplicado.

Além disso, o próprio valor dessas taxas é muito fácil de se encontrar, uma vez que estes são esclarecidos em qualquer lâmina, prospecto ou regulamento do fundo.

Custos (menores)

Não se assuste se você observar esse tópico praticamente repetido como desvantagem logo abaixo. Isso acontece, pois essa variável depende muito de que tipo de investidor você é. Por exemplo, se você possui um perfil mais agressivo e gosta de fazer daytrades, provavelmente seu custos são relativamente altos.

Por outro lado, existem fundos chamados de quantitativos que realizam operações de alta frequência na bolsa com uma estrutura de primeira linha, inclusive máquinas instaladas na própria Bovespa para garantir maior agilidade nas operações. Por seu elevado volume financeiro e de negócios, esses fundos conseguem tarifas mais atrativas na instituição financeira em que operam, além de conseguir realizar operações em dezenas de estratégias simultaneamente.

Outro ponto importante em relação aos custos dos fundos é que em geral estes são muito mais justos que os custos de corretagem, por exemplo. Digo isso pois a taxa de administração incide ao longo do tempo, e um investidor insatisfeito pode simplesmente retirar o seu dinheiro da aplicação deixando em alguns casos mais custos do que ganhos para a gestora. Por outro lado, um investidor satisfeito que permaneça a longo prazo com a gestora certamente está satisfeito, e então o retorno obtido pela instituição é muito mais interessante. E em relação à performance essa justiça é ainda maior, dado que o gestor só ganhará se o investidor também ganhar! Que forma de remuneração poderia ser mais justa que a performance, não?

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Diversificação

Essa sem dúvida é uma das principais vantagens de se investir em fundos e dispensa longas apresentações. De forma objetiva, mesmo que você possua um bom capital financeiro quantas ações de diferentes empresas você conseguiria comprar hoje de maneira consciente (isto é, analisando e fazendo boas escolhas) sozinho? E até quantas dessas empresas você conseguiria acompanhar depois da compra sozinho nessa sua carteira? Você conseguiria ainda analisar e operar individualmente moedas, juros e commodities para aumentar a diversificação de sua carteira?

Bom, não digo que não haja alguém que consiga, mas sem dúvidas são raríssimos casos que o fazem com eficiência. Porém alguns fundos conseguem fazer isso através de uma equipe de vários analistas, sendo cada um especializado em sua área, o que nos leva ao tópico a seguir.

Gestão especializada

Poder contar com uma equipe pessoal de analistas como Gordon Gekko, personagem fictício e megainvestidor do filme Wall Street (1987), é muito bom, mas certamente inviável para a maioria dos investidores. A oportunidade de “rachar os custos” dessa equipe com outros investidores é também um dos principais atrativos dos fundos de investimentos, que torna possível muitas vezes que pequenos e médios investidores tenham acesso à gestão (ou ao menos a participação) de grandes nomes do mercado financeiro como Luis Stuhlberger, Gustavo Franco, Pérsio Arida, entre outros.

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Contras de se investir em fundos

Come-cotas (apenas em alguns casos)

Com exceção dos fundos de previdência, de ações e alguns outros casos mais específicos, a maioria dos fundos recebe a incidência do come-cotas em seus rendimentos. O come-cotas nada mais é que a antecipação do recebimento de impostos pela receita, ou seja, semestralmente a receita “morde” de 15 a 20% de imposto de renda sobre a rentabilidade de seus investimentos nesses fundos (a cobrança varia caso o fundo seja de curto ou longo prazo).

Baixa liquidez (apenas em alguns casos)

Apesar de haver fundos com a mesma liquidez de um CDB, em alguns casos o investidor pode ter problemas ao resgatar o seu dinheiro. Mais comum em fundos de ações, algumas aplicações chegam a solicitar 90 dias corridos ou mais para a cotização dos investimentos, prejudicando altamente o investidor que precisar do dinheiro com urgência.

Por isso é importante sempre se atentar aos objetivos e até mesmo aos riscos que se pretende assumir ao escolher a liquidez aceitável de seu fundo. Já imaginou o desespero do investidor que possuía dinheiro no início da crise de 2008 em algum fundo de ações com resgate em D+90 ou mais?

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Custos (maiores)

Como havia prometido acima, os custos nem sempre podem ser uma vantagem no caso dos fundos de investimento. Investidores de longo prazo, com posições em ações baseadas na análise fundamentalista podem incorrer de um custo muito menor ao tomarem suas decisões sozinhos, pois nesse caso geralmente os investidores já possuem alguma experiência e conhecimento para a escolha de sua carteira de ativos. Além disso, como suas escolhas são baseadas em objetivos de longuíssimo prazo, não é necessário um acompanhamento e trocas tão frequentes em seus ativos, tornando possível que mesmo o investidor com menos tempo disponível consiga fazer uma boa gestão de sua carteira.

Falta controle absoluto sobre os ativos escolhidos pelo fundo

Uma última desvantagem, mas não menos importante, trata justamente da falta de controle que o cotista tem sobre onde seu dinheiro é aplicado. Em outras palavras, se você quer investir em ações, basta investir em um bom fundo de ações, mas nada impedirá que o gestor aplique o seu capital em uma empresa que você jamais investiria por razões técnicas (como uma empresa que você não enxerga futuro) ou mesmo morais (como empresas do setor de fumos e bebidas).

Assim, o cotista acaba ficando submisso à regras previamente estabelecidas pelo fundo e a mercê da vontade do gestor ou (em casos mais extremos) da maioria dos cotistas, como aconteceu mais recentemente com a substituição dos métodos de pagamento pelo fundo imobiliário Maxi Renda, que foi realizada por desejo da maioria dos cotistas e não do gestor, administrador e nem mesmo unanimidade entre os próprios cotistas.

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Ok, e agora?

Por isso antes de mais nada é importante saber responder ao menos as seguintes perguntas: Você tem experiência ou bom conhecimento técnico sobre investimentos e mercado financeiro? Possui um bom assessor e acima de tudo confiável para lhe auxiliar na escolha e acompanhamento dos ativos de sua carteira? No mínimo você possui tempo disponível para acompanhar seus investimentos atuais e novas oportunidades disponíveis no mercado?

Se sua resposta à essas perguntas foi ‘não’, então você deve considerar seriamente a opção de aplicar em fundos de investimentos. Todavia, nem tudo é um “mar de rosas” e não basta escolher qualquer fundo apenas por seu nome ser famoso ou sua rentabilidade dos últimos 12 meses lhe agradar. Nessa linha, muitas pessoas investiram em fundos de inflação no final do ano passado e passaram grande sufoco no primeiro semestre desse ano. Existem muitos detalhes na escolha de um fundo que podem ser cruciais para o futuro de seu dinheiro e estes devem ser avaliados com muito cuidado.

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