Por que o nosso país investe tão pouco?

As projeções do FMI para o período de 2025 a 2030 indicam que o país permanecerá com investimentos da ordem de 16,6%, um dos piores desempenhos entre as economias emergentes

Luiz Fernando Figueiredo

Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

Publicidade

A taxa de formação bruta de capital fixo no Brasil tem se mantido em patamares historicamente baixos, o que compromete diretamente o crescimento do PIB potencial, ou seja, a capacidade de crescimento do Brasil de maneira sustentável e a modernização do setor produtivo. Enquanto a China elevou suas taxas de investimento em cerca de seis pontos percentuais nas últimas décadas, alcançando níveis superiores a 40% do PIB, o Brasil seguiu na direção contrária, reduzindo sua taxa de 18,7% nos anos 1980 para apenas 17,6% entre 2021 e 2024, bem abaixo da média mundial de 26,8%.

As projeções do FMI para o período de 2025 a 2030 indicam que o país permanecerá com investimentos da ordem de 16,6%, um dos piores desempenhos entre as economias emergentes e mesmo inferior à média da América Latina, que gira em torno de 20%. Esse quadro ajuda a explicar por que, embora o crescimento brasileiro nos últimos cinco anos tenha superado as expectativas iniciais, ainda se mantém abaixo da média das economias emergentes e reflete um processo contínuo de sucateamento da indústria nacional.

A baixa taxa de investimento se reflete na perda de dinamismo da indústria, que já representou cerca de 24% do PIB em 2005 e hoje responde por cerca de 20%. Esse recuo significa que o Brasil reduziu a participação da indústria sem ter completado a transição para serviços de alto valor agregado, o que limita a capacidade de inovação e a geração de empregos qualificados.

Continua depois da publicidade

A produção industrial, segundo dados recentes, está mais de 15% abaixo do pico histórico de maio de 2011, e mesmo os avanços pontuais em setores extrativos, como petróleo e gás, não são suficientes para compensar a estagnação da manufatura. De fato, nos últimos 12 meses, a indústria extrativa avançou 4,5%, contra 1,6% da indústria de transformação. O parque produtivo envelhecido, a baixa incorporação de tecnologia e a dificuldade em competir internacionalmente são sintomas diretos da insuficiência de investimento.

A título de comparação, o contraste com a China é revelador: em 2024, o país instalou mais de 295 mil novos robôs industriais, mais do que todos os outros países juntos, e já conta com mais de 2 milhões de unidades em operação, consolidando o maior parque robótico industrial do mundo. Esse avanço é resultado de políticas como o Made in China 2025, que direcionaram investimentos maciços para setores estratégicos como automotivo, eletrônico, e permitiram que a China ultrapassasse o Japão como maior fabricante de robôs industriais. Enquanto o Brasil convive com fábricas obsoletas e baixa difusão tecnológica, a China acelera a automação e a incorporação de inteligência artificial, garantindo ganhos de produtividade e sustentando sua posição como potência manufatureira. O governo chinês desembolsou centenas de bilhões de dólares com o programa.

Em 2024, o governo brasileiro lançou o Plano Nova Indústria Brasil, que contabilizou até agora R$ 3,4 trilhões em investimentos viabilizados entre recursos públicos e privados, com o objetivo de impulsionar a indústria nacional até 2033. Apesar da magnitude anunciada, o volume efetivamente realizado em 2024 e 2025, bem como o esperado para os próximos anos, permanece aquém do necessário.

Continua depois da publicidade

Parte dessa limitação decorre da reação natural dos investimentos a um ambiente de juros ainda em patamares restritivos. Por conta de políticas equivocadas, principalmente relacionadas a política fiscal, a taxa de juros neutra, de equilíbrio de longo prazo, subiu de maneira relevante nos últimos anos, algo como 2,5% a 3% a.a., na contramão de um melhor ambiente para o investimento. Para que a taxa de investimento cresça de forma consistente e permita ampliar o PIB potencial, é fundamental criar condições macroeconômicas que favoreçam a decisão de investir, o que inclui maior estabilidade fiscal e institucional, capaz de reduzir a incerteza e aumentar a previsibilidade para empresários e investidores.

Nesse contexto, a redução sustentada da taxa de juros real neutra é um fator essencial, já que o custo do capital precisa ser compatível com os retornos produtivos. Para isso, é indispensável restaurar a credibilidade da política fiscal por meio de reformas nos gastos obrigatórios, desvinculações do Orçamento e regras fiscais mais críveis e sem excepcionalidades.

A queda do juro neutro tende a vir acompanhada de redução dos prêmios de risco, melhora nas condições financeiras e retomada da confiança empresarial — elementos centrais para um ambiente favorável a negócios e investimentos. Um marco regulatório mais simples e previsível também é fundamental, assim como infraestrutura adequada em logística, energia e conectividade.

Continua depois da publicidade

A recuperação do dinamismo econômico passa por uma elevação da taxa de investimentos, mas isso não se alcança por indução direta, e sim pela criação de condições estruturais que tornem o ambiente de negócios mais atrativo, o que inevitavelmente depende da redução do juro neutro. Além disso, parcerias público-privadas podem contribuir para ampliar investimentos em infraestrutura, enquanto a reforma tributária e a simplificação regulatória têm potencial para reduzir o custo Brasil.

O fomento à inovação e à digitalização é indispensável para aumentar a produtividade e inserir o país em cadeias globais de maior valor agregado. A atração de capital estrangeiro, por meio de acordos comerciais e integração regional, também pode desempenhar papel relevante na elevação da taxa de investimento. Contudo, todas essas iniciativas podem se tornar insuficientes sem as condições adequadas e se o juro neutro brasileiro não recuar de forma consistente.

Este artigo teve as co-autorias de Rita Milani, economista da BuysideBrasil, de Andrea Damico sócia fundadora da BuysideBrasil e de Luiz Fernando Figueiredo, sócio e membro do conselho consultivo da Jubarte Capital.

Autor avatar
Luiz Fernando Figueiredo

Presidente do Conselho de Administração da Jive Mauá. Com passagens pelo JP Morgan e BBA, foi diretor do Banco Central. Em 2005 fundou a Mauá Capital, após a cisão da Gávea Investimentos. É economista e fundador do Instituto FEFIG.