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“No landing” está ganhando força nos EUA?

Por que a economia americana não está caminhando nem para um "hard landing" nem para um "soft landing"
Por  Luiz Fernando Figueiredo -
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

Os Estados Unidos têm vivido uma grande incerteza em relação à probabilidade de ocorrer uma recessão em sua economia.

Além das divergências de opiniões, o cenário recessivo abrange características e magnitudes de diferentes maneiras: “hard landing” significa uma recessão severa; “soft landing” se refere a uma recessão mais suave; e “no landing” implica que a economia não entrará em recessão.

Desde o início do ciclo de aumento das taxas de juros pelo Federal Reserve (Fed), entre o primeiro e o segundo trimestre do ano passado, a probabilidade de uma recessão um ano à frente aumentou gradualmente.

Esse percentual, medido pela Bloomberg, está em 55%, mas atingiu um pico de 65% durante alguns meses deste ano.

O Fed de Nova Iorque também calcula essa probabilidade, que atualmente está em 56%, com um pico de 70% em maio.

Falando um pouco sobre a situação da economia norte-americana, observamos que a estrutura da inflação se encontra mais benigna, apesar dos dados mais recentes da semana passada, especialmente no que diz respeito ao núcleo da inflação.

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Ainda há espaço para maiores alívios, no entanto, a inflação parece estar desacelerando a um ritmo mais lento do que o esperado.

A notável resiliência da atividade econômica é algo que tem impressionado a todos, seja pelas surpresas positivas que vimos no PIB trimestral – com uma composição mostrando a força do consumo e as expectativas elevadas para o PIB do terceiro trimestre – ou pelos dados mensais dos setores de indústria e serviços, que apontam para um certo vigor contínuo da atividade no futuro.

No mercado de trabalho, ainda estamos vendo números que demonstram certa robustez.

A abertura de vagas, mais conhecida como Jolts, ainda sinaliza um nível de aquecimento na oferta de trabalho. A taxa de desemprego continua abaixo de 4,0%, mantendo-se praticamente entre 3,5% e 3,7% desde o início de 2022. O crescimento anual dos salários está em torno de 4,0%, sendo que a média em 2019 era de cerca de 3,0%. Além disso, há resquícios de uma poupança excessiva das famílias durante a pandemia, estimada em cerca de 200 bilhões de dólares, segundo um estudo do Fed de São Francisco.

Esses fatores nos levam a crer que a economia não está caminhando nem para um “hard landing” nem para um “soft landing”, mas sim para um “no landing”.

A questão que permanece é se essa desaceleração tão suave será suficiente para levar a inflação a 2% ao ano.

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Essa dúvida tem gerado uma volatilidade adicional nos mercados, e isso, aliado à forte necessidade de emissão de títulos públicos, tem levado a curva de juros a um estresse inesperado.

Isso resultou em um aperto significativo das condições financeiras nas últimas semanas, principalmente devido ao aumento das taxas de juros de longo prazo. Como o efeito disso é semelhante ao de um aumento de 1-2 pontos base na Fed funds, pode ser que não haja necessidade de apertos adicionais por parte do Fed.

Isso aumenta a probabilidade de que as taxas de juros da Fed funds permaneçam inalteradas por um longo período, em vez de termos mais apertos vindos da autoridade monetária.

Luiz Fernando Figueiredo Presidente do Conselho de Administração da Jive Mauá. Com passagens pelo JP Morgan e BBA, foi diretor do Banco Central. Em 2005 fundou a Mauá Capital, após a cisão da Gávea Investimentos. É economista e fundador do Instituto FEFIG.

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