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Os desafios econômicos do governo Bolsonaro

Três grupos disputam o direcionamento do governo Bolsonaro. Investidores devem esperar mais clareza sobre o direcionamento final antes de fazer apostas relevantes no mercado.
Por  José Carlos Carvalho
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

Na última eleição o país viveu uma guerra épica, uma luta entre São Jorge e o dragão. Tendo derrotado o dragão, os diferentes grupos do lado vencedor se perguntam agora: o que fazer com São Jorge?  É mais ou menos essa discussão que estamos observando no momento na formação do governo Bolsonaro.

Existem pelo menos três grupos principais que se uniram para derrotar o dragão: o grupo dos economistas, liderado por Paulo Guedes; o grupo dos militares, liderado pelo General Mourão; e o grupo dos políticos, com Onyx Lorenzoni.  A luta contra o PT era a motivação que os unia.  Sem o inimigo comum, as diferenças entre os grupos começam a sobressair.

O mercado financeiro toma a agenda do grupo de Paulo Guedes como sendo a agenda de Bolsonaro. Eu tive a oportunidade de trabalhar com Paulo Guedes por mais de 10 anos e sou testemunha do seu brilhantismo, da precisão do seu diagnóstico, e da enorme energia para promover com clareza a sua agenda de trabalho.  Mas, apostar que a agenda de Bolsonaro será a agenda de Paulo Guedes pode ser um engano, ainda que eu torça para isso. Dois exemplos recentes sugerem alguma preferência pelas ideias dos grupos militar e político do seu governo.

Bolsonaro se diz a favor da reforma da previdência.  Mas — sempre tem um “mas” — sugere elevar a idade mínima de 60 para 61, talvez 62, anos.  Se isso acontecer, a reforma da previdência geraria uma poupança mínima.  Quando fala isso, Bolsonaro se apoia no grupo político: Lorenzoni disse no debate na Câmara de Deputados para Marcos Lisboa e Fabio Giambiagi que eles eram “desonestos intelectuais” por dizer que havia um problema na previdência.  Na visão de Onyx, o problema vem das pensões rurais e das pensões assistencialistas que foram incluídos na previdência. Num exercício de tautologia diz que se tirar essas despesas, o déficit some.  Brilhante, mas quem vai pagar essas despesas? Dessa forma a parte política do governo trabalha para não aprovar a reforma esse ano, e também gostaria de no ano que vem enviar a pauta dos armamentos e direitos civis com prioridade para o congresso.  Assim a previdência iria sendo empurrada com a barriga para um futuro distante.

Outro exemplo em que Bolsonaro parece coincidir com Paulo Guedes, mas na verdade diz algo diferente, é na questão das privatizações. Nesse caso Bolsonaro se alinha com os militares e diz que não pode privatizar setores estratégicos, ou seja, Petrobras, Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e Eletrobras. Segundo Bolsonaro, “vamos privatizar as 50 empresas que foram criadas no governo Lula”. Ótima ideia para estancar uma fonte de despesas, mas nem de perto um montante relevante para abater a dívida pública como quer Paulo Guedes.

Não existe menor dúvida que paramos de caminhar rumo ao precipício e começamos a caminhar na direção certa.  Mas não podemos confundir esse fato com uma crença ingênua de que o governo Bolsonaro terá a agenda ideal proposta por Paulo Guedes.  Por isso, me parece adequado esperar um pouco mais para ver em janeiro de 2019 qual será a cara das propostas que Bolsonaro enviará para o Congresso – certamente uma média das opiniões dos três grupos que descrevemos acima.  Caso o projeto final mantenha o espírito original do programa liberal, tenho certeza que o mercado brasileiro entrará num mercado de alta de vários anos. Esperar mais um mês para ter certeza disso vai sair barato. Rapadura é doce, mas não é mole!

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