Quando é hora de dolarizar parte do seu patrimônio?

A resposta não depende de um único indicador, mas de uma combinação de fatores

João Vianna

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Há uma frase comum entre gestores globais: quem concentra tudo na própria moeda está sempre mais arriscado do que imagina. Essa constatação costuma surgir quando o investidor brasileiro amadurece a ponto de perceber que diversificação real não acontece apenas entre renda fixa, Bolsa e multimercados. Em algum momento, surge a pergunta inevitável: quando faz sentido dolarizar parte do patrimônio?

A resposta não depende de um único indicador, mas de uma combinação de fatores. O primeiro deles é a maturidade do portfólio. Antes de olhar para ativos internacionais, é essencial construir uma base sólida em reais: reserva de emergência completa, produtos adequados ao perfil de risco e alguma diversificação no mercado doméstico.

Hoje, porém, essa base segue bastante concentrada. Os brasileiros têm R$ 7,9 trilhões investidos, sendo 58,9% em renda fixa, segundo a ANBIMA. A participação na Bolsa cresce, com mais de 6 milhões de CPFs ativos na B3, mas a exposição internacional ainda é mínima. O investidor médio continua preso à oscilação da economia local e, principalmente, da moeda.

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É justamente a partir desse ponto que a dolarização começa a fazer sentido — como proteção e como oportunidade. Proteção porque o real perdeu cerca de 40% do seu valor frente ao dólar na última década (2014–2024). Oportunidade porque mercados maduros, como o norte-americano, oferecem acesso a ativos e modelos de investimento que simplesmente não existem no Brasil.

Um erro recorrente é imaginar que a dolarização deve ser feita apenas em momentos de crise. Na prática, os movimentos mais consistentes ocorrem de forma planejada, gradual e alinhada ao crescimento de renda e patrimônio. O melhor momento raramente é aquele em que o investidor “sente” que deveria. Normalmente, quando a urgência chega, o câmbio já se antecipou.

Entre os ativos que podem compor essa estratégia, o mercado imobiliário dos Estados Unidos ocupa um espaço relevante para muitos investidores. Trata-se de um setor com liquidez, segurança jurídica e demanda resiliente, sustentada por fatores estruturais como escassez de oferta e migração crescente para regiões de forte desenvolvimento econômico, como o Sunbelt. Segundo a National Association of Realtors (NAR), o mercado movimenta mais de US$ 2,5 trilhões por ano. Já o Case-Shiller Index aponta que o preço médio dos imóveis nos EUA cresceu cerca de 5% ao ano nos últimos dez anos, mesmo em ciclos de juros elevados.

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Esse contexto reforça a importância de instrumentos como REITs (Real Estate Investment Trusts) e fundos imobiliários americanos, que vêm se consolidando como caminhos sólidos de dolarização para investidores brasileiros de alta renda.

Mais do que retorno financeiro em dólar, trata-se de construir patrimônio global, com ativos capazes de atravessar ciclos econômicos e gerações.

No fim, dolarizar não é sobre prever movimentos do câmbio. É sobre reconhecer que, em um mundo cada vez mais integrado, concentrar tudo no mesmo país, na mesma economia e na mesma moeda é um risco maior do que parece. Quem deseja ampliar horizontes e reduzir vulnerabilidades precisa enxergar a dolarização não como um gesto tático, mas como uma decisão estratégica de longo prazo.

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João Vianna

João Vianna é economista, fundador da Invisto e cofundador da Loft. Atualmente lidera fundos de investimento imobiliário nos Estados Unidos, com foco no desenvolvimento de imóveis de alto padrão na Flórida.