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Risco e retorno: existe mesmo uma relação?

Riscos podem ser (e, em grande parte dos casos, são) imprevisíveis. Cisnes negros acontecem e podem trazer perdas enormes aos investidores com portfolios desprotegidos. E existe alguma maneira de proteger um portfolio contra perdas? Vou falar sobre puts (opções de venda) outro dia, mas uma das melhores estratégias é comprar barato. Isso só já elimina grande parte dos riscos e deixa o caminho aberto para retornos maiores à frente.
Por  Marcelo López
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

Os cursos de MBA espalham a notícia de que, para se ter mais retorno, é preciso correr mais riscos (sim, já estudei em uma das top 10 escolas de MBA do mundo, então posso falar com propriedade). Na minha modesta opinião, dizer uma coisa dessas é um dos maiores engodos no ramo financeiro.

Não compartilho dessa ideia. Há uma confusão muito grande no mercado financeiro quando o interesse é medir risco. Como não existe uma medida exata, adotou-se o desvio-padrão (ou volatilidade) para esse fim. Afinal, os modelos matemáticos precisam de um número para poder fazer seus cálculos.

Como diz Charlie Munger, sócio de Warren Buffett na Berkshire Hathaway, como uma universidade conseguiria vender um curso caríssimo de finanças se tudo o que fossem ensinar fosse “compre barato”.

Na minha opinião, as pessoas estão confundindo duas coisas bem distintas, risco e volatilidade. Se alguém compra um ativo que vale $100 por $200, está correndo um risco enorme, embora não necessariamente haja volatilidade no preço do ativo. Por outro lado, se a mesma pessoa compra tal ativo por $50, embora possa haver muita volatilidade, grande parte do risco já foi embora, está embutida no preço, deixando o ativo realmente muito interessante para um investidor astucioso.

Riscos podem ser (e, em grande parte dos casos, são) imprevisíveis. Cisnes negros acontecem e podem trazer perdas enormes aos investidores com portfolios desprotegidos. E existe alguma maneira de proteger um portfólio contra perdas? Vou falar sobre puts (opções de venda) outro dia, mas uma das melhores estratégias é comprar barato. Isso só já elimina grande parte dos riscos e deixa o caminho aberto para retornos maiores à frente.

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– “Estamos numa bolha e o retorno não compensa o risco”, diz gestor e colunista do InfoMoney

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Assim, no exemplo acima, uma pessoa que compra um ativo que vale $100 por $50, além de correr menos risco, abre caminho para retornos maiores. Ou seja, a relação risco e retorno, ao invés de ser inversamente proporcional, acaba sendo diretamente proporcional uma a outra.

Eu, sem dúvida, sou um adepto dessa mentalidade. Mas o mercado parece (ainda) não se preocupar. As taxas de juros estão subindo nos EUA (essa semana tivemos mais um aumento de 0,25%) e o FED, Banco Central americano, anunciou que mais estão por vir.

A inflação, que todos davam como morta no começo do ano, embora eu tenha alertado para isso inúmeras vezes nesse blog, está nos níveis mais altos dos últimos anos – e subindo.

O momento me lembra uma brincadeira infantil, a dança das cadeiras. Os participantes devem dançar ao som da música e sentar em uma das cadeiras quando essa pausa. Só que não existem cadeiras para todos e alguém acaba ficando de fora. No mercado financeiro, isso pode representar uma perda enorme.

Os preços das ações estão nas máximas e os investidores continuam “dançando”. E os mais fracos “entregam os pontos” antes, ou, como eu prefiro dizer, as maiores bolhas perdem valor mais rapidamente. Bitcoin, o grande sucesso do ano passado, já entregou mais de 50% do seu preço esse ano. A Argentina e Turquia também estão com problemas. O Brasil não está escapando. A grande verdade é que a música está prestes a parar, mas ninguém está preocupado com isso.

Os últimos 2 grandes crashes que tivemos nos mercados, foram desencadeados por um FED que estava subindo a taxa de juros. Em algum momento, a estratégia usada pelas empresas de emitir dívidas para comprar ações, deixa de ser lucrativa. Daí, o maior comprador de ações sai do mercado, deixando o mesmo à revelia.

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O momento não é para correr riscos, mas sim buscar proteção. Não estou sugerindo que as pessoas vendam tudo e corram para algum ativo seguro, mas é importante revisar os portfólios para adequá-los a uma nova realidade. Aliás, como já diz o ditado, o seguro morreu de velho.

Por isso, investimentos no exterior são recomendáveis. Eles nos dão a oportunidade de se ter uma real diversificação, moeda forte e, ainda por cima, é possível encontrar alguns ativos que valem $100, mas estão precificados a $50, coisa que não consigo encontrar no Brasil.

Correções nos mercados sempre existiram e sempre existirão. Agora é um bom momento para se adequar o portfólio a fim de reduzir o risco e preparar para aproveitar as barganhas que aparecerão.

Continuo investindo em urânio, ouro e apostando contra a Tesla, a Argentina sobre rodas.

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Marcelo López Marcelo López tem certificação CFA, é gestor de recursos na L2 Capital Partners, com MBA pelo Instituto de Empresa (Madrid, Espanha) e especialização em finanças pela principal escola de negócios da Finlândia (Helsinki School of Economics and Business Administration). Atuou como Gestor de Carteiras e de Fundos em grandes gestoras internacionais, tais como London & Capital e Gartmore Investment Management.

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