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Não deveríamos discutir a reforma, mas sim se a Previdência deveria existir

A capacidade do governo de gerir qualquer coisa é muito baixa, especialmente quando se trata de recursos financeiros
Por  Marcelo López
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

A previdência pública sempre foi fadada à ruína. A capacidade do governo de gerir qualquer coisa é muito baixa, especialmente quando se trata de recursos financeiros. Muito se discute hoje sobre a reforma, enquanto, na minha opinião, deveria se discutir a existência da mesma, pelo menos no longo prazo.

Acredito que a previdência privada tenha seu valor, mas, como já mencionei, sou contra a pública. Não é justo que paguemos pela aposentadoria dos nossos pais e nem que os nossos filhos paguem pela nossa. É responsabilidade única e exclusiva nossa de cuidar das nossas vidas e não devemos exigir que outros o façam.

Contudo, o paternalismo estatal transferiu esse dever, que é dos cidadãos, para si mesmo. O resultado é uma conta que não fecha e uma população inconsequente que não planeja o próprio futuro e deixa tudo a cargo dos governantes.

O déficit previdenciário é um problema antigo e, embora reconhecido por administrações passadas, nunca recebeu a devida atenção e esforços, graças à impopularidade que o tema traz a quem toma a iniciativa de tentar resolvê-lo. Enquanto a urgência não batia à porta, o mais prático e fácil era deixar a missão de herança ao próximo mandatário.

Agora no cerne da discussão política e econômica (não se fala de outra coisa), os brasileiros tomaram conhecimento do tamanho do rombo e da importância de reequilibrar as contas para garantir a solvência da nação.

A previdência pública é muito parecida com um esquema ponzi, em que os que chegaram cedo e estão no topo da pirâmide (aposentados ou próximos da aposentadoria) colhem todos os benefícios, enquanto os que estão entrando no “esquema” pagam a conta.

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Obviamente, a cenoura vai ficando mais e mais longe à medida que os jovens de hoje forem se aproximando dela. A única diferença entre a previdência e um esquema ponzi é que num a pessoa entra se quiser, noutro a sua participação é compulsória.

Mas seria esse um problema exclusivo do Brasil? Nem de longe. As mudanças demográficas pelas quais o país está passando já foram sentidas pela grande maioria das economias avançadas, que tiveram, de alguma forma, que tratar do problema e ainda convivem com ele.

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No mês passado, o Departamento do Tesouro Americano divulgou seu relatório anual referente ao exercício de 2018. Não é surpresa que as contas dos EUA não sejam nada invejáveis, afinal o país carrega a maior dívida pública do mundo, num total de mais de US$ 22 trilhões, o que supera o próprio PIB do país. E isso é só a dívida que está “no balanço” – temos que considerar ainda os programas sociais como Medicare, Medicaid e previdência, que somam mais de US$ 80 trilhões.

Mas voltando ao relatório, e assim como quase tudo que envolve os EUA, os números são superlativos e difíceis de dimensionar numa escala palpável. O déficit, por exemplo, foi de US$ 1,1 trilhão e as despesas com serviço da dívida (juros) foram de mais de US$ 500 bilhões. Isso, porque a taxa está em patamares baixíssimos, historicamente inferiores aos juros estruturais da economia norte-americana. Isso é, sem dúvida, um estímulo a menos para o banco central subir o Fed Funds rate.

Os gastos previdenciários foram responsáveis por quase um quarto de todos os desembolsos, totalizando cerca de US$ 1 trilhão, o que é equivalente a metade do PIB do Brasil. O mais assustador, no entanto, é a projeção do rombo da previdência: US$ 53 trilhões, algo como 2,5 vezes o PIB norte-americano, 12 vezes a arrecadação do governo da Casa Branca.

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Obviamente, a baixa taxa de juros não ajuda a rentabilizar os ativos, exacerbando ainda mais o déficit. De repente, o problema brasileiro parece até pequeno comparado ao dos americanos.

Mas não para por aí. O patrimônio líquido do governo americano está negativo: a soma de todos os seus passivos é 6,5 vezes a soma dos seus ativos. Para piorar, a qualidade dos ativos é um pouco duvidosa, já que o principal componente individual é a dívida estudantil.

Já existem propostas para “aliviar” ou mesmo extinguir essa dívida, sob o argumento de que o endividamento dos recém-formados prejudica sua capacidade de consumir e comprar imóveis e veículos, por exemplo. Como de costume, a visão míope dos planejadores estatais (sim, parece uma palavra retirada do dicionário da ex-União Soviética) sacrifica o futuro em prol de um presente supostamente melhor. Exatamente o oposto da lógica de investimento.

Tão importante quantos os valores absolutos é a tendência que os acompanha, e essa não é nada alvissareira. E é aí que que a coisa fica feia. Nos últimos anos, a dívida, o rombo da previdência e o déficit fiscal só fizeram crescer e acelerar. Isso, apesar de os EUA não estarem envolvidos em nenhuma guerra custosa, nem em uma recessão. Imagina o que pode acontecer se uma recessão os acometer agora, quando quase ninguém está esperando?

No mundo das finanças, existe o chamado ativo livre de risco (risk-free). Nenhum ativo é, na verdade, livre de risco, mas os títulos da divida soberana dos EUA são considerados como tal, ou seja, o governo americano é tido como o devedor com menor risco de crédito do mundo.

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A grande questão é que o país ocupa a posição central na economia mundial, em especial após o Acordo de Bretton Woods, que transformou o dólar (que era lastreado em ouro à época) no lastro de todas as outras moedas em 1944. Isso deu ao país um poder descomunal e fez com que o sistema financeiro global ficasse intricadamente relacionado à moeda norte-americana.

Em outras palavras, o tomador com melhor risco de crédito do planeta tem patrimônio líquido (muito) negativo, seu rombo previdenciário atuarial é de quase 70% do PIB mundial e os números ficam piores a cada ano. E é baseado nas emissões (dólar) desse tomador que giram as finanças mundiais.

A história nos mostra que todos os impérios que disseram adeus à responsabilidade fiscal viram sua ruína chegar. O domínio americano ainda perdurará por muito tempo, mas acredito que esse seja um dos vários exemplos de desconhecimento por parte dos participantes do mercado que fazem com que os riscos existentes nos dias atuais sejam ignorados e não precificados nos ativos.

Cautela e atenção com os investimentos continuam sendo o nome do jogo, independente se ele é jogado no Brasil, nos EUA ou em qualquer outro lugar.

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Marcelo López Marcelo López tem certificação CFA, é gestor de recursos na L2 Capital Partners, com MBA pelo Instituto de Empresa (Madrid, Espanha) e especialização em finanças pela principal escola de negócios da Finlândia (Helsinki School of Economics and Business Administration). Atuou como Gestor de Carteiras e de Fundos em grandes gestoras internacionais, tais como London & Capital e Gartmore Investment Management.

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