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Com minas paradas e usinas vendo “abundância eterna”, preço baixo do urânio é insustentável

O preço do urânio, que ainda está perto de US$25/libra, não dá incentivo para que mineradoras desenvolvam novos projetos
Por  Marcelo López -
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

Semana passada conversei com Mark Gordon, CIO do Ascent Oil Fund, um fundo de investimentos focado no setor de energia, mais especificamente, petróleo, no podcast da L2 Capital (episódio disponível aqui). A conversa foi excelente, muito educativa e uma parte, que Mark defende, foi marcante para mim: a influência da mudança do sentimento do mercado, de abundância para escassez.

Mark salienta que o mercado passa por períodos em que o sentimento é de escassez de petróleo e qualquer notícia torna-se relevante para fazer o preço subir. Da mesma forma, quando o sentimento é de abundância, como é agora, há pouco investimento no setor, o que gera um déficit futuro e fomenta o próximo bull market.

Estive pensando sobre esse conceito de escassez e abundância e acredito que podemos traçar o mesmo paralelo para várias commodities (ou para a maior parte das coisas), começando pelo urânio.

Há no momento um sentimento de abundância no mercado que já perdura há anos. Uma parte desse sentimento se deve à parte do ciclo que estamos vivenciando no momento. As utilities, acostumadas a pagar menos pelo urânio hoje do que pagaram ontem, sofrem de um viés comportamental conhecido como “recency bias” e acreditam que esse movimento é duradouro e sustentável.

Assim, como na visão delas existe um excesso de  urânio no  mercado, ainda  que os números mostrem exatamente o contrário, elas se tornam cada vez mais complacentes e adiam as compras por contrato, preferindo usar o mercado spot (à vista) e traders para suprir suas necessidades mais imediatas (até 2 anos).

Com isso, o preço do urânio, que ainda está na casa dos US$25/libra, não dá nenhum incentivo a mineradoras para desenvolver novos projetos ou mesmo aumentar a produção.

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Na verdade, esse nível de preço sequer encoraja a continuidade da produção existente, de sorte que várias empresas já optaram por fechar minas, inclusive a de McArthur River, a maior e mais concentrada do mundo, por exemplo.

Além de reduzir a capacidade atual, isso faz com que, quando a retomada aconteça, e acredito piamente que ela vá acontecer num futuro próximo, o preço do urânio possa sofrer um overshooting.

A demanda já é maior que a oferta há dois anos consecutivos e é certo que também será em 2020. Aliás, é certo que a demanda será maior que a oferta por muito mais tempo, já que não se retoma a atividade de uma mina parada em menos de dois anos e para começar um projeto de mineração desde o começo, leva-se pelo menos uns 8-10 anos.

Obviamente, para isso acontecer, o preço do metal deve estar bem acima de onde está hoje, para prover incentivo suficiente às mineradoras.

Assim, a hora de se investir é quando há um sentimento de abundância no mercado e os compradores estão complacentes, achando que o passado recente se repetirá no futuro, a despeito dos avisos. Estamos vendo hoje talvez o período na história de maior apelo ao investimento em urânio, com produção em queda, demanda em alta e preços de venda abaixo do custo de produção.

Leia também: como investir em urânio morando no Brasil?

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Disclaimer: Esse texto reflete a opinião do autor e não constitui uma sugestão, recomendação, indicação e/ou aconselhamento de investimento. Nenhuma decisão de investimento deve ser tomada com base nas informações ora apresentadas, cabendo unicamente ao investidor a responsabilidade sobre qualquer decisão que venha a tomar.

O autor detém e negocia ativos ligados ao tema abordado em sua carteira proprietária e/ou na de clientes sob sua gestão remunerada.

Marcelo López Marcelo López tem certificação CFA, é gestor de recursos na L2 Capital Partners, com MBA pelo Instituto de Empresa (Madrid, Espanha) e especialização em finanças pela principal escola de negócios da Finlândia (Helsinki School of Economics and Business Administration). Atuou como Gestor de Carteiras e de Fundos em grandes gestoras internacionais, tais como London & Capital e Gartmore Investment Management.

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