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Buffett entra na festa

Warren Buffett não compra uma ação há anos. O que mudou?
Por  Marcelo López
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

Quando a tentação chega, é difícil resistir. A Berkshire Hathaway, empresa do famoso bilionário Warren Buffett, anunciou essa semana que pode entrar na festa das recompras de ações (buybacks), apesar da farra estar chegando ao fim.

Com suas ações sendo superadas em desempenho pelo S&P500 este ano, o sábio de Omaha não teve outra opção: anunciar que pode seguir o caminho de várias outras empresas (que estão emitindo dívida, ou repatriando o dinheiro ou ainda uma combinação das duas) e começar a recomprar suas próprias ações, a fim de aumentar o indicador lucro por ação (LPA).

Após vários anos sem nenhuma aquisição de tamanho e se mostrando avesso aos preços nos patamares em que estão, como já mencionei aqui e aqui, Buffett resolveu dizer que pode investir parte do caixa nas próprias ações da Berkshire Hathaway, se ele e seu sócio, Charlie Munger, acharem que o preço está abaixo do “preço-justo”.

Obviamente, como não há como saber qual seria o “preço-justo” aos olhos dos dois, isso leva a uma análise totalmente subjetiva da empresa, fazendo com que vários analistas se atentem simplesmente ao efeito disso sobre o LPA, aparentemente a única métrica que existe para valuation nos dias atuais. E, obviamente, esse efeito é bom (por enquanto).

Tenho uma imensa admiração por Buffett e seu estilo de investimento, o qual, inclusive, tento praticar. Por isso mesmo, acredito que ele não comprará as ações da Berkshire simplesmente para aumentar o lucro por ação da empresa e estimular seu preço.

Mas só o anúncio de que eles podem vir a comprar ações da própria empresa algum dia já fez com que as ações saltassem mais de 5%, configurando o melhor desempenho em quase sete anos. Berkshire Hathaway, que tem hoje mais de US$100 bilhões em caixa – porque, segundo Buffett, não consegue encontrar bons alvos para investimento sendo negociadas a preços módicos – estava ficando para trás em comparação com os índices.

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Pode ser que Buffett, após ser ajudado pelo FED em certas ocasiões (a última em 2008, quando algumas de suas seguradoras foram resgatadas com dinheiro público), tenha se convencido do efeito que as palavras têm. Assim, sem ter que comprar uma ação sequer, mas só dizendo que pode realizar buybacks, ele fez o que o FED vem fazendo há anos: administrando expectativas (managing expectations). Em outras palavras, falando, mas não agindo e conseguindo com que os cachorros de Pavlov fizessem o que sempre fazem quando ouvem anúncios assim: empolgar-se e comprar ações.

A julgar pelo breadth do mercado e pelos preços das ações, agora é hora de cautela, não de alocar capital em qualquer investimento. Não estou vendo muitas oportunidades e o risco está aumentando. Imagino que Warren Buffett tampouco as esteja vendo. Aliás, a posição em caixa da Berkshire fala mais alto que palavras.

No caso de Buffett, um investimento errado não comprometerá sua vida financeira, ainda mais com o amigo FED, a quem não falta recursos para socorrê-lo, caso necessário. O mesmo não se aplica para nós mortais. Trade carefully.

Marcelo López Marcelo López tem certificação CFA, é gestor de recursos na L2 Capital Partners, com MBA pelo Instituto de Empresa (Madrid, Espanha) e especialização em finanças pela principal escola de negócios da Finlândia (Helsinki School of Economics and Business Administration). Atuou como Gestor de Carteiras e de Fundos em grandes gestoras internacionais, tais como London & Capital e Gartmore Investment Management.

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