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Brasil deve aproveitar crise na credibilidade da China para fazer a lição de casa e atrair investimentos

Pandemia de coronavírus mostrou que não é sustentável concentrar toda a produção mundial em um único país
Por  Marcelo López -
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

A história chinesa é impressionante e chama a atenção pelos altos e baixos há mais de mil anos. Não vou me ater à tecnologia, ciência, medicina e astronomia, mas uma área em especial merece atenção: a navegação. Pouca gente sabe, mas muito antes dos europeus começarem a exploração marítima do mundo, os chineses já dominavam a construção de navios enormes, com capacidade para transportar até mil pessoas.

Cem anos antes de os portugueses começarem a colonização do Brasil, os chineses já comercializavam com outras partes da Ásia, já haviam trazido uma girafa da África para Beijing e chegaram bem perto da Austrália. Para colocar em perspectiva a grandeza do império chinês à época, quando os portugueses tomaram um território da Índia em 1505, eles enviaram 20 navios e 2.500 homens. Exatamente 100 anos antes disso, a China havia enviado sua primeira frota para a Índia, que consistia em 62 navios e 30 mil homens – e essa foi apenas uma expedição.

O termo “MiddleKingdom”surgiu, porque os chineses acreditavam ser o centro do mundo, com nações a sua volta. Excesso de autoconfiança e conflitos internos bloquearam o avanço chinês pelo mundo. Mas podemos imaginar como seria o mundo hoje se houvesse um governante chinês com visão naquela época.

Enfim, vários outros ciclos se passaram e chegamos à China comunista no final da década de 70. Olhando para o país, víamos um dos mais pobres do mundo, assolado pela fome e falta de desenvolvimento. Deng Xiaoping assumiu o controle e decidiu abrir um pouco a economia do país. Muitos empreendedores do Ocidente, de olho na mão-de-obra barata e no enorme mercado consumidor, não titubearam em instalar lá suas fábricas.

Com isso, a economia chinesa começou a crescer a taxas impressionantes, similares às do Brasil na década de 70. Com o crescimento da economia e lucros pujantes, muitos empresários resolveram fechar os olhos com relação às práticas do governo do país, marcado por falta de liberdade da população, inexistência de democracia, altas taxas de corrupção, poluição sem limites, hábitos diferentes do mundo ocidental, dentre outros.

Hoje nos encontramos com um problema maior, um tipo novo de coronavírus, batizado de Covid-19. O mundo já teve que encarar a SARS, também oriunda da China, mas a Covid-19 está causando uma paralisação em todas as atividades mundiais, como comércio e indústria, com repercussões maléficas, não só na saúde pública, mas também na econômica.

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Não vou parar para discutir porque essas pandemias continuam a aparecer na China, mas já está na hora de o mundo ajustar seu comércio e começo a perceber um interesse crescente de vários empresários pelo mundo nesse tema. E essa pode ser uma excelente oportunidade para o Brasil ter um crescimento sustentável e robusto, depois de já ter perdido duas décadas com políticas furadas que beneficiaram uma meia-dúzia.

O Brasil é um país com dimensões continentais, rico em solo, vegetação, petróleo e mineração. Temos uma democracia que de certa forma funciona, uma moeda negociada (quase que) livremente, um povo criativo e pacífico e um clima privilegiado. Rios mil e boa localização para portos, de onde podemos desenvolver ainda mais nosso comércio com os europeus, ingleses (agora fora da UE e buscando parceiros comerciais), os EUA e África – claro, sem se esquecer da própria América Latina e da Ásia. O país tem uma clara inclinação à agricultura e, com o crescimento populacional e maior demanda por alimentos no mundo, o Brasil pode sair à frente.

Incentivos fiscais e tributários para novas fábricas que se instalarem no país são primordiais, assim como mais investimento em infraestrutura para escoar a produção. A malha rodoviária brasileira pode melhorar muito, e a ferroviária nem se fala. Além disso, é pouco usada a navegação de cabotagem, que facilita o escoamento da produção e reduz custos.

Investir pesadamente em educação de base para poder dar formação aos jovens é essencial e devemos ter um programa sério para tal fim.

O mundo está vendo agora que não dá para concentrar a produção em apenas um país, por mais barato que seja produzir lá, especialmente um país que não compartilha os mesmos costumes do ocidente. O Brasil pode ser beneficiado com isso e com sua proximidade aos mercados ocidentais e deveria investir pesadamente nessa ideia.

Parafraseando Churchill, esse pode ser nosso melhor momento. Vamos aproveitá-lo!

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Marcelo López Marcelo López tem certificação CFA, é gestor de recursos na L2 Capital Partners, com MBA pelo Instituto de Empresa (Madrid, Espanha) e especialização em finanças pela principal escola de negócios da Finlândia (Helsinki School of Economics and Business Administration). Atuou como Gestor de Carteiras e de Fundos em grandes gestoras internacionais, tais como London & Capital e Gartmore Investment Management.

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