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A bolha inflada pelo Fed desde 2000 estourou e sinais apontam que não é hora de comprar ações ainda

Ninguém sabe ainda qual será a repercussão mundial desse crash
Por  Marcelo López -
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

Já escrevi bastante sobre o momento pelo qual estamos passando e a experiência vale muito nessas horas; afinal, esse é o terceiro crash que presencio (2000, 2008 e 2020). Quem lê esse blog e me acompanha não está surpreso com o que estamos vivenciando. A única surpresa é a velocidade com a qual as coisas estão acontecendo e, claro, não há como prever com exatidão o momento em que essas coisas vão ocorrer nem o gatilho que dispararia esse movimento.

Mas eu já avisei em vários posts, blogs, podcasts e conversas pela TV sobre o crash, dizendo que teríamos saudades de 2008 quando ele acontecesse. Agora, vários “gurus”, profetas do acontecido, que não viram esse momento chegar vão nos explicar como sair dele. Pois vou dar minha contribuição aqui.

Em primeiro lugar, nenhum dos problemas que o mundo tinha em 2000 ou 2008 foi resolvido. Muito pelo contrário, eles foram aumentados e agora apresentam um risco ainda maior para os mercados.

No final da década de 90, para evitar que o mercado passasse por uma pequena desaceleração causada por especulações, Alan Greenspan, então presidente do Fed, decidiu reduzir a taxa de juros. Isso alimentou um novo setor que estava crescendo bastante – as empresas de tecnologia ligadas à internet. Com baixas taxas de juros, o custo de oportunidade diminuiu e investir em empresas que não dão lucro, mas que têm potencial para isso (de acordo com o PowerPoint), tornou-se extremamente interessante.

E foi isso que os investidores fizeram, impulsionados pelas taxas de juros artificiais. Houve uma enorme má alocação de recursos (Malinvestment) que culminou com o crash de 2000. E o que o Fed fez para conter um problema que agora não era de especuladores somente, mas também de um setor (empresas de tecnologia)? Ele fez a única coisa que ele sabe fazer: abaixou a taxa de juros novamente, dessa vez para 1%. Para quem só sabe usar martelo, todo problema é um prego, como diria Abraham Maslow.

Isso criou uma bolha maior ainda, que atingiu seu ápice em 2008, causando uma destruição bem maior. Vários bancos quebraram, dentre eles os famosos Lehman Brothers e Bear Stearns, além de dezenas de milhares de empresas pelo mundo afora. Agora, um problema que era de alguns poucos especuladores se tornou um problema de um setor, o das empresas ligadas ao setor de tecnologia, depois para setores ainda maiores, o imobiliário e bancário, que então se tornou um problema praticamente global.

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Mas não se preocupem, o Fed teve uma ideia genial e inédita: resolveu, mais uma vez, abaixar a taxa de juros. Só que dessa vez ele a levou a zero e a manteve lá por vários anos, além de aumentar seu balanço com as medidas QE1, QE2, Operação Twist e QE3, que são eufemismos para a impressão de trilhões de dólares. O problema agora foi magnificado. Se a última bolha criada pelo Fed quase levou o mundo todo à bancarrota, imagina o que essa não fará?

Algumas vozes solitárias e eu avisamos o que estava por vir, mas poucas pessoas resolveram ouvir. O problema que estamos tendo hoje é muito sério e é preciso ter cautela. Já vi vários investidores correndo para comprar mais ações enquanto elas caiam, ao ponto de esgotarem o próprio caixa – afinal, BTD (buythedip, ou compre as quedas) foi o movimento que funcionou nos últimos anos. Não havia controle de risco ou seleção de ativos.

Está havendo uma liquidação de ativos como nunca e a correlação deles está indo para +1, mesmo para ativos histórica e fundamentalmente negativamente correlacionados entre si. Existem vários hedge funds ultra-alavancados no mundo e não ficaria surpreso em ver o Fed provendo liquidez a eles para tentar estancar a sangria. Os mercados estão sem referências de preços e o VIX, também conhecido como índice do medo, está nas alturas, o que indica que a hora para comprar ativos de risco ainda não chegou, embora possa estar perto.

Eu entendo que hoje alguns ativos estejam bem interessantes e com alto potencial de valorização para investidores que têm uma visão de longo-prazo, mas ainda ninguém sabe qual será a repercussão mundial desse crash. Várias oportunidades surgirão e é preciso diligência e seriedade para poder aproveitá-las.

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Marcelo López Marcelo López tem certificação CFA, é gestor de recursos na L2 Capital Partners, com MBA pelo Instituto de Empresa (Madrid, Espanha) e especialização em finanças pela principal escola de negócios da Finlândia (Helsinki School of Economics and Business Administration). Atuou como Gestor de Carteiras e de Fundos em grandes gestoras internacionais, tais como London & Capital e Gartmore Investment Management.

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