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O que farei com as perguntas mais difíceis?

Num mundo que há mais de um ano é vítima do inesperado, enfrentemos voluntária e conscientemente as demandas da vida com regras que nos permitem voar entre ordem e caos
Por  IFL - Instituto de Formação de Líderes -
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

Por Patrícia Genelhú*

Minhas manhãs pré-pandemia seguiam sempre um certo rito rotineiro. O caminho de todos os dias para o trabalho incluía, via de regra, a breve passagem por uma banca de jornal em uma das esquinas da Faria Lima. Nada interessante nesse ponto do trajeto; ou, pelo menos, nada que me chamasse a atenção antes daquela banca ter sido escolhida, num certo dia, como outdoor para uma citação de Dostoievski em Os Irmão Karamazov.

“Somos assim. Sonhamos o voo, mas tememos as alturas. Para voar é preciso amar o vazio. Porque o voo só acontece se houver o vazio. O vazio é o espaço da liberdade, a ausência de certezas. Os homens querem voar, mas temem o vazio. Não podem viver sem certezas. Por isso trocam o voo por gaiolas. As gaiolas são o lugar onde as certezas moram.”

Em manhãs agora pandêmicas, sem essa saudosa leitura matinal, revisitei a lembrança desse trecho ao me debruçar sobre um autor fortemente influenciado por Dostoievski. Jordan Peterson é considerado “a voz da razão que uma geração inteira ansiava ouvir”. Psicólogo canadense e professor de Harvard, se tornou um popular pensador contemporâneo com grande impacto cultural. Por trás do título publicitário de seu livro 12 regras para a vida e da aparente simplicidade do subtítulo Um antídoto para o caos, o que ele propõe é uma busca por significado. Distante do niilismo, um debate profundo e ambicioso procura o equilíbrio máximo entre o peso da ordem incontaminada e o contrapeso do caos da transformação e da possibilidade. Longe também do humanismo, encontramos ali uma psicologia assertiva e eloquente, que traz essa dualidade entre ordem e caos que rege a natureza humana.

Bastante atual num mundo que há mais de um ano é vítima do inesperado, Peterson é bastante realista. Ele não mascara a ideia de sofrimento, mas nos convida a lapidar-nos através da exposição das nossas fragilidades. Para nos tornarmos um alicerce de força, devemos encarar a vida como ela é e enfrentar o nosso maior desafio: uma boa dose de autoconhecimento. Com esse chamado propositivo para tomar a responsabilidade para si, temos o incentivo para o aperfeiçoamento de quem somos e o protagonismo na conquista da melhor vida possível.

Se sonhamos o voo de Dostoievski, talvez para Peterson, em primeiro lugar, caiba a nós mesmo saber bater as asas e mirar o céu. Enfrentemos voluntária e conscientemente as demandas da vida, aceitemos o fardo que o mundo nos traz, dispondo-nos a encarar seus desafios, mesmo sabendo que perderemos alguns. No peso dessa leitura de duras verdades, Peterson aconselha que tomemos as perguntas mais difíceis como o portal para o caminho da vida.

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E se as gaiolas são o lugar onde as certezas moram, é nas possibilidades que Peterson divaga. Não na falsa ideia de que liberdade seja uma vida sem regras, mas sim que regras, ao invés de nos aprisionarem, permitem-nos uma vida realmente livre, com a possibilidade de explorar o caos sem ser devorado por ele. Entre aquelas doze regras para a vida, estão acordos sólidos, limites claros – os que nos impedem de ser escravos dos nossos próprios instintos, impulsos, limitações. Talvez o excesso de regras represente a gaiola de Dostoievski, mas Peterson lembraria que a ausência delas, por sua vez, significa a impossibilidade do voo.

“Quando somos livres – e encorajados – preferimos viver no limite. Lá, podemos estar confiantes sobre nossa experiência e confrontar o caos que nos ajuda a nos desenvolvermos.”

Aquelas regras indicam que só poderemos ser melhores cuidando primeiro de nós mesmos; o mundo depende do nosso exemplo: escolha seu destino e articule o seu ser.

Sem pessimismo, acredito que a vida proponha a oportunidade de um enredo de transformação positiva, apenas experimentado em plenitude se promovida e vivenciada a liberdade. Diante dela, que tenhamos o protagonismo em ativamente aprender a voar e nos desapeguemos de frias gaiolas de certezas sem temer as alturas.

*Patrícia Genelhú é associada do IFL-SP, Head de Sustainable & Impact Investing no BTG Pactual e graduada em Ciências Econômicas pela Universidade Federal do Rio de Janeiro

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