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Até onde o macro pode afetar a Bolsa?

A pandemia gerou um rearranjo na economia que alterou o peso de cada indústria no PIB. Isso teria de provocar um rearranjo igual nas carteiras de investimento, que me parece longe de concluído
Por  Guilherme Affonso Ferreira -
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

O Brasil, assim como a grande maioria dos países, resolveu usar recursos públicos em abundância para tentar mitigar a crise econômica decorrente das medidas de enfretamento da Covid-19.

A maior parte desses recursos foi dirigida às classes de menor renda, o que é socialmente correto.

Com esse suporte, boa parte do mundo (e no Brasil não é diferente) conseguiu se recuperar fortemente desde o período mais agudo da crise, no primeiro semestre de 2020.

Esse movimento foi detectado pelas Bolsas, como faz parte do seu papel, e os desempenhos gráficos dos principais índices de ações tiveram um comportamento em V, já bastante falado.

Falando especificamente do Brasil, essa recuperação começou a trazer algumas nuvens carregadas. O déficit público que se projeta para 2020, acima de 10% do PIB, não tem qualquer chance de ser financiado por arrecadação futura, e a capacidade de financiamento desse déficit é muito limitada.

Isso deve provocar uma subida das taxas de juros. Essa perspectiva fica clara quando se olha o enorme diferencial entre a taxa básica de juros da economia, a Selic, de curto prazo e as taxas dos títulos de prazos mais longos.

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Ao problema descrito acima, soma-se o fato de o governo ter se encantado com a popularidade que o auxílio emergencial trouxe. Não parece querer abrir mão disso, o que deve provocar mais déficit e mais necessidade de financiamento.

Outra consequência, quase inevitável, é a inflação que já começa a bater na porta.
Não preciso lembrar aos investidores de renda variável, novos e antigos, que juros altos e inflação são inimigos do desempenho da Bolsa.

Como contraponto a esse cenário, posso listar alguns pontos:

– Ainda estamos em tempo de corrigir a trajetória macro (embora infelizmente não me pareça que exista a vontade);

– A volta dos estrangeiros, que começa a acontecer, é um forte vetor de alta para os papéis e pode até mesmo facilitar a colocação de um maior volume de dívida pública;

– A pandemia gerou um rearranjo na economia que alterou o peso de cada indústria no produto do país. Isso teria de provocar um rearranjo igual nas carteiras de investimento, que me parece estar ainda longe de concluído. Em parte, porque não está totalmente claro quem são os ganhadores e os perdedores desse rearranjo. Portanto, existem papéis com bom potencial de alta.

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Exemplos de indústrias que, na minha opinião, podem estar mal avaliadas:

– Alimentos: ainda que por um período, o consumo de alimentos será mais doméstico e menos coletivo, o que certamente se traduz em melhores margens de comercialização.
– Laboratórios: existe uma tendência crescente de ocupação do “pocket share” dos consumidores
– Energia: novas fontes devem assumir um papel crescente na matriz energética. Em especial, na minha opinião, o gás.
– Comércio: houve uma quebra de pequenos comerciantes, o que facilita a vida das grandes cadeias.

Torço para o acerto e a urgência das políticas macroeconômicas. Em paralelo, é possível fazer uma boa alocação em papéis ainda mal avaliados para o cenário da “nova economia”.

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Guilherme Affonso Ferreira Guilherme Affonso Ferreira é sócio-fundador e chairman da Teorema Capital. Além disso, é conselheiro de empresas como Arezzo, B3 e M Dias Branco. Foi diretor-presidente da Bahema no período em que a companhia foi acionista relevante do Unibanco (1986 a 2008) – e obteve um retorno de 50% ao ano, em dólares, com as ações do banco. Também foi conselheiro da Petrobras de 2015 a 2018, participando do programa de recuperação da companhia.

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