Fechar Ads

A doença das batatas irlandesas explica por que a Bolsa ainda tem muito a subir

Investidores veem valor nas ações só depois delas subirem até um determinado patamar, mas você pode aproveitar isso
Por  João Luiz Braga
info_outline

Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

Entre 1845 e 1852 a Irlanda passou por um período conhecido como a Grande Fome. O país viu sua população reduzir em mais de 20% causada por uma doença que contaminou em larguíssima escala as batatas em toda a Europa durante a década de 1840. Como um terço de toda a população da Irlanda sobrevivia unicamente das batatas, um fenômeno econômico muito interessante aconteceu: um aumento de preço acompanhado por um aumento de demanda, o que é algo bem contra intuitivo.

O fato é que a ausência de bens substitutos – a batata era o item mais barato para consumo – fez com que o aumento do preço na batata obrigasse as famílias a reduzirem seus gastos com outros bens menos importantes e passassem a comprar ainda mais batatas, aumentando sua demanda.

Essa violação da lei da demanda causada por esse efeito de substituição foi primeiramente observada por Sir Robert Giffen ao observar padrões similares a esse na era Vitoriana na Inglaterra. Apesar de hoje já existirem teses indicando que a batata na Grande Fome não era, de fato, um bem de Giffen, até hoje esse exemplo é o mais utilizado.

Constantemente observamos comportamento parecido no mercado. Apesar de acreditarmos que uma ação não é um bem de Giffen – não queremos entrar no economês, mas uma ação dificilmente é um bem inferior – é comum notarmos, senão na demanda, um crescimento no interesse depois que os preços das ações sobem. É o velho papo de que quando o taxista – ou um motorista de Uber, por que não? – te pergunta qual é a melhor ação para investir, é melhor você vender todas as suas. Nada contra os taxistas, obviamente. E nem contra os motoristas de Uber.

Esse efeito pode claramente ser observado esse ano. Em fevereiro ninguém queria olhar para a bolsa, apesar de o ibovespa estar nos seus 37 mil pontos… uma barganha, olhando no retrovisor. Agora, aos 57 mil pontos, notamos claramente um interesse muito maior. E acreditamos que esse interesse está se convertendo em demanda, o que está sustentando os preços e que acreditamos que fará a bolsa subir ainda mais, sendo um dos motivos para nosso otimismo.

Uma evidência de demanda maior por Brasil pode ser vista nas emissões de títulos de dívida por empresas brasileiras lá fora. O gráfico abaixo deixa isso claro. mostra o volume financeiro de emissões, e a linha basicamente é o acumulado de emissões dos 6 meses anteriores. Nota-se como a demanda por Brasil foi praticamente à zero no fim do ano passado até fevereiro.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Para nós, é um tanto óbvio que era um problema de demanda, dado que as empresas provavelmente adorariam emitir dívidas já que a situação não era a melhor. O gráfico também deixa claro algo importante: Essa demanda voltou.

Outra evidência que nos chamou muita atenção foi a oferta pública de Energisa (ENGI11). Depois de um longo período sem IPOs considerados quentes, a demanda foi tão grande, especialmente por clientes institucionais, que a alocação dos R$1,5 bi ofertados foi uma árdua tarefa para os bancos. Ninguém ficou satisfeito com quanto levou. Nós levamos aproximadamente 5% do que queríamos (!!!) e acabamos sendo obrigados a comprar depois, na bolsa.

Hoje, o free float (ações negociadas em bolsa) é de aproximadamente US$ 350 bilhões. É um valor que podemos considerar bem pequeno, e que diminuiu com empresas e o Real valendo menos. Além disso, temos menos opções: Hoje são 620 empresas com registro ativo em bolsa – a grande maioria não investíveis por questão de liquidez – contra 830 em 2001! A pergunta que fica é: O que acontecerá com nossa bolsa se todo esse interesse se converter em demanda?

O gráfico abaixo ilustra só uma das possíveis demandas – a de investidores brasileiros por FIAs – Fundos de Ações – como os nossos Investor ou Dividendos. A indústria, que era 40% de toda a indústria de fundos brasileiros, hoje é menor que 5%. Ceteris Paribus, se dobrarmos o percentual de fundos de bolsa para 10%, a demanda criada é de mais de US$ 40 bi, representando 11% do free float ou aproximadamente 20 dias de volume negociado na bolsa!

FIAS – R$ Milhões/ %Total de Fundos

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

E ainda tem muito mais. Os estrategistas Pedro Martins e Emy Shayo do JP Morgan fizeram um interessante estudo tentando estimar qual seria essa demanda represada. Eles dividiram a demanda em vários grupos de investidores, por exemplo, os fundos de pensão que hoje administram aproximadamente US$ 200 bilhões, dos quais, segundo o JP, 18% desse valor está em bolsa. Sabemos que esse número está distorcido por uma grande fundação, mas isso não altera a análise. Esse número se compara com a média histórica de 30% alocados. Só daí viria uma demanda de outros US$ 37 bi. Além dos fundos de pensão, eles também fizeram uma estimativa parecida com a nossa acima, dos fundos totais. Nessa classe, eles estimam a possível demanda em mais US$70 bi. Outras duas classes relevantes a serem consideradas: os fundos que investem em Mercados Emergentes Globais, que estariam subalocados em US$ 75 bi e nem chegamos no maior dos potes-de- ouro: os fundos de bolsa globais, cuja demanda pode facilmente superar US$ 100 bi.

É muita demanda para pouco free-float. Se o mercado externo continuar sem prêmio – i.e. juros negativos ou baixíssimos, ações lá fora caras – e nossa situação de fato melhorar, é melhor estar posicionado antes.

Nossa carta completa com um pouco sobre cenário e as alterações em posições dos nossos fundos pode ser encontrada aqui:

Compartilhe
Mais sobre

Mais de Fundamental na bolsa