O que realmente faz alguém confiar em quem dá notícias?

A maioria dos americanos valoriza honestidade, inteligência e autenticidade em quem entrega notícias. O estudo do Pew Research Center mostra que o público quer clareza e verdade, mesmo que venham de fora das redações

Flávio Moreira

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Imagem gerada por IA/ChatGPT
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Quando foi a última vez que você confiou de verdade em quem te passou uma notícia? Essa pergunta resume o desafio central enfrentado pelo jornalismo atual e foi justamente ela que norteou um dos recortes mais reveladores do estudo “How Americans View Journalists in the Digital Age”, conduzido pelo Pew Research Center. A resposta joga luz em algumas tendências que devem influenciar o jornalismo daqui pra frente.

A maioria dos americanos quer algo muito simples de quem informa: honestidade (93%), inteligência (89%) e autenticidade (87%). Essas são as três qualidades mais valorizadas.

Popularidade, humor e carisma são vistos como muito menos importantes. Isso mostra um descolamento entre o que o jornalismo tradicional acredita que atrai o público e o que de fato conecta com a audiência.

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O que é ser autêntico no jornalismo?

Mas o conceito de autenticidade ainda é vago para muita gente. No estudo, participantes das entrevistas qualitativas relataram diferentes formas de entender o termo. Para alguns, ser autêutico é “ser quem diz que é”. Para outros, é mostrar a experiência pessoal, trazer a própria opinião, deixar escapar algum tipo de emoção.

Isso é relevante em um no momento em que jornalistas tradicionais são vistos como excessivamente controlados e podados. Já influenciadores e podcasters ganham espaço por parecerem mais “livres” e justamente mais autênticos.

Essa diferença de percepção abre uma discussão sobre quem está realmente fazendo jornalismo. O estudo evita esse rótulo e foca na relação das pessoas com aqueles de quem recebem notícias, independentemente de eles se identificarem como jornalistas ou não.

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Precisa ser jornalista para entregar o que esperam do jornalismo?

No fim, o público quer confiança, clareza e verdade. E isso não necessariamente vem de quem passou por uma redação ou tem diploma de jornalismo.

Outra parte importante da pesquisa trata das expectativas. Quase todos os americanos acreditam que os provedores de notícias devem reportar os fatos com precisão (84%) e corrigir erros de informação vindos de figuras públicas (64%).

Além disso, 61% dizem que essas pessoas devem fornecer informações úteis para tomada de decisão. Funções mais opinativas ou analíticas têm menos consenso.

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Isso reforça um desejo por um jornalismo mais objetivo, mas também por um jornalismo que ajude a viver melhor, que seja útil.

Em contraste, poucas pessoas acham que jornalistas devem expressar opinião pessoal sobre as notícias. Mesmo assim, os participantes dos grupos focais se mostraram mais tolerantes com opiniões, desde que elas sejam separadas dos fatos e apresentadas com transparência.

Transparência é chave para a confiança

Mais do que proibir a opinião, o público quer saber quando ela está sendo emitida. O problema não é o ponto de vista, é a falta de honestidade sobre ele.

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O estudo também aponta uma tendência que já começa a se consolidar: as pessoas estão dispostas a aceitar formatos diferentes de entrega de notícias desde que sintam que o conteúdo é verdadeiro, inteligente e humano.

E isso pode significar um espaço ainda maior para criadores de conteúdo independentes, influenciadores, newsletters autorais, podcasts e outros formatos menos institucionais.

O jornalismo não perde força porque falta audiência. Ele perde porque insiste em falar com um tom impessoal e institucional para um público que busca conexão, confiança e verdade.

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Entender o que as pessoas realmente valorizam pode ser o primeiro passo para reconstruir essa relação. E talvez o jornalismo do futuro não seja mais o que a gente publica. Mas o que as pessoas escolhem acreditar.

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Flávio Moreira

Flávio Moreira é jornalista especializado em estratégia e inovação no mercado de mídia. Atualmente, atua como Coordenador de Parcerias e Estratégia no InfoMoney, tendo passado por posições de liderança como Editor-chefe de Assinaturas e Novos Projetos no UOL, Head de Conteúdo no Torcedores.com e Gestor de Comunidades FIFA na Electronic Arts. Além de sua trajetória profissional, Flávio é autor de uma newsletter sobre tendências e inovação para publishers, que conta com mais de 6 mil assinantes em busca de insights sobre o futuro da comunicação.