O que acontece quando jornalismo, marketing e entretenimento disputam o mesmo espaço?

Quando tudo vira feed em uma disputa pela atenção, o futuro da mídia passa a depender da curadoria e da confiança.

Flávio Moreira

Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

Imagem gerada por IA / Chat GPT
Imagem gerada por IA / Chat GPT

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Em algum momento da última década, deixamos de consumir notícias, entretenimento e marketing em caixinhas separadas. Tudo foi misturado dentro do mesmo lugar com a mesma percepção de importância: o feed.

Quando isso acontece, não estamos mais falando apenas de jornalismo ou publicidade. Estamos falando de uma singularidade de mídia. Um ponto de fusão em que as fronteiras entre conteúdo, marketing, notícia e entretenimento desaparecem.

Esse conceito de singularidade é profundo porque altera não só a forma como consumimos, mas também como produzimos e monetizamos informação. Quando tudo vira feed, o mesmo texto pode servir como notícia, anúncio e entretenimento ao mesmo tempo.

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A hierarquia que antes diferenciava credibilidade de propaganda se dissolve, e  nos obriga a repensar qual é o verdadeiro valor do que passamos ao público. 

O feed como força e como armadilha

O feed teve um papel positivo no começo de nivelar o jogo. Se você quisesse a atenção de alguém, precisava competir com tudo ao redor: notícias, memes, posts de amigos, anúncios.
Isso obrigou marcas e veículos a repensarem a qualidade do que produziam.

Mas a competição virou corrida para o fundo do poço. Em vez de informar ou entreter, a meta passou a ser prender a atenção a qualquer custo. O engajamento substituiu a utilidade.

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O resultado foram jornalistas reféns de métricas de pageviews, criadores de conteúdo tentando hackear o algoritmo e leitores cansados de consumir fragmentos intermináveis de informação que nunca se completam.

O retorno da curadoria e da agregação

Em um mundo de excesso, o valor não está em prender o usuário, mas em libertá-lo. A avalanche de conteúdos nos devolveu ao básico. Serviços de curadoria ou newsletters mostram que ainda existe demanda por algo simples: alguém confiável separando o que importa do que é ruído.

É a versão digital do jornal impresso na porta de casa. Finalizável, concreto, quase um alívio.

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As homepages de portais de notícias também cumprem esse papel, ainda que muitas vezes subestimado. Elas funcionam como uma edição finita do dia, selecionando um conjunto limitado de informações que refletem prioridades editoriais. Diferente do feed infinito, a homepage impõe limites claros em que o leitor sabe que há um começo, um meio e um fim para aquela curadoria.

Singularidade não é destino, é escolha

Na singularidade de mídia, todos disputam o mesmo recurso escasso da atenção, mas nem todos precisam jogar o mesmo jogo. Quem tenta competir apenas no feed tende a viver em crise permanente. Já quem aposta em nicho, em experiências finalizáveis e em curadoria pode construir relevância de longo prazo.

E aqueles que entendem que o usuário não quer só ficar preso, mas quer sentido, acabam conquistando algo mais raro do que clique, que é a confiança.

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O futuro da mídia não será decidido apenas por algoritmos., mas pela capacidade de escolher entre competir por atenção descartável ou construir valor na era da singularidade.

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Flávio Moreira

Flávio Moreira é jornalista especializado em estratégia e inovação no mercado de mídia. Atualmente, atua como Coordenador de Parcerias e Estratégia no InfoMoney, tendo passado por posições de liderança como Editor-chefe de Assinaturas e Novos Projetos no UOL, Head de Conteúdo no Torcedores.com e Gestor de Comunidades FIFA na Electronic Arts. Além de sua trajetória profissional, Flávio é autor de uma newsletter sobre tendências e inovação para publishers, que conta com mais de 6 mil assinantes em busca de insights sobre o futuro da comunicação.