Nova tecnologia promete solução para que publishers cobrem por uso de conteúdo em IA

Modelo de licenciamento coletivo permite que produtores de conteúdo cobrem pelo uso de suas informações por ferramentas de IA, seja durante o treinamento ou nas respostas geradas.

Flávio Moreira

Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

Imagem gerada por Ia/Chat GPT
Imagem gerada por Ia/Chat GPT

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Por muito tempo, a relação entre publishers e grandes plataformas foi de dependência desigual. As empresas de tecnologia capturavam o valor gerado pelo jornalismo, enquanto os produtores de conteúdo lutavam para manter seus negócios vivos.

Com o avanço da inteligência artificial, o desequilíbrio ganhou uma nova camada em que os modelos de IA usam esses conteúdos para treinar suas capacidades e oferecer respostas prontas, sem necessariamente gerar tráfego ou receita para os criadores originais.

Mas um novo padrão pode mudar essa relação desequilibrada: o Really Simple Licensing (RSL).

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O que é o RSL?

O RSL é um formato de licenciamento administrado pelo RSL Collective, com o objetivo de permitir que publishers exijam pagamento pelo uso de seu conteúdo por empresas de IA, tanto para fins de treinamento quanto de inferência (ou seja, quando a IA utiliza o conteúdo para gerar respostas). Isso significa que, se uma IA estiver aprendendo com as matérias de um veículo ou usando essas informações para responder a uma pergunta, esse uso pode ser monetizado.

O modelo prevê dois formatos principais de remuneração: o pay-per-crawl, que implica pagamento pelo acesso e coleta do conteúdo para fins de treinamento, e o pay-per-inference, em que há cobrança toda vez que a IA utiliza o conteúdo como base para gerar uma resposta.

Mais do que uma questão de remuneração, o RSL devolve aos publishers o poder de negociar. E, talvez o mais importante: permite uma negociação coletiva, ampliando a força de pequenos e médios produtores que, isoladamente, teriam pouca influência sobre as big techs.

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Por que isso importa agora?

O modelo atual é insustentável e com IA generativa respondendo direto no buscador, o tráfego para sites de notícias tende a cair ainda mais. E sem tráfego, não há publicidade. Sem publicidade, não há jornalismo sustentável.

O RSL entra como uma alternativa concreta para garantir que a propriedade intelectual dos publishers seja respeitada e remunerada. Em vez de assistir passivamente à captura de valor pelas IA, o mercado passa a ter uma base para cobrar.

Não resolve tudo, mas é um começo.

O licenciamento não substitui a necessidade de modelos de assinatura, diversificação de produtos ou fortalecimento da relação direta com o leitor, mas é uma frente importante.

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Na história recente do jornalismo, vimos plataformas lucrarem com conteúdo que não produzem. A IA amplia esse cenário e o RSL pode ser o primeiro passo para virar esse jogo.

E, dessa vez, quem produz tem a chance de sentar à mesa com mais poder.

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Flávio Moreira

Flávio Moreira é jornalista especializado em estratégia e inovação no mercado de mídia. Atualmente, atua como Coordenador de Parcerias e Estratégia no InfoMoney, tendo passado por posições de liderança como Editor-chefe de Assinaturas e Novos Projetos no UOL, Head de Conteúdo no Torcedores.com e Gestor de Comunidades FIFA na Electronic Arts. Além de sua trajetória profissional, Flávio é autor de uma newsletter sobre tendências e inovação para publishers, que conta com mais de 6 mil assinantes em busca de insights sobre o futuro da comunicação.