Não é só você… todo mundo está cansado de consumir notícias

A fadiga informativa é uma tendência global em que as pessoas evitam consumir notícias, cansadas da negatividade, desinformação e sensação de impotência. O excesso de conteúdo gera ansiedade e desconfiança na mídia, levando muitos a buscar fontes mais simples.

Flávio Moreira

Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

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Certamente acontece com você e já virou uma tendência global: a fadiga informativa é um fenômeno no qual as pessoas passaram a propositalmente evitar o consumo de notícias.

Elas simplesmente decidiram tirar o jornalismo da rotina, como quem troca o canal quando começa uma novela ruim.

O “news avoiding” ocorre por uma combinação complexa de razões, sendo as principais o excesso de negatividade no noticiário, a sensação de impotência diante dos problemas noticiados, o exagerado volume de informações e a desconfiança na mídia.

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Muitas pessoas evitam consumir notícias porque sentem que elas afetam seu bem-estar emocional, gerando ansiedade, tristeza ou frustração. A polarização política e a disseminação de desinformação também aparecem como fatores que contribuem para o cansaço e a desmotivação do público em relação ao jornalismo.

Notícia ruim dá audiência

O noticiário virou uma espiral de crises e tragédias. Escândalos da política de um lado, guerras de outro, a crise climática avançando silenciosamente e, se ainda sobrar um espaço, uma super exploração das celebridades em fofoca empacotada como notícia.

A psicóloga Mary McNaughton-Cassill, especializada em saúde mental e mídia, discute a importância do equilíbrio entre o consumo de notícias com a saúde mental. Ela sugere que, embora o consumo de notícias não cause depressão clínica ou ansiedade, pode afetar o humor e aumentar sentimentos de desesperança, raiva ou ansiedade no curto prazo.

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O sentimento de frustração também é presente, pois o leitor é apresentado a uma infinidade de problemas, mas raramente se vê como parte das soluções.  

McNaughton-Cassill destaca que a exposição contínua a notícias negativas pode levar a uma sensação de mal-estar e que o ideal é estabelecer limites no consumo de notícias.

Para lidar com este estresse causado pelo consumo de notícias, ela recomenda:

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O bombardeio de informações

Nunca se produziu tanto conteúdo na história da humanidade. Mas também nunca estivemos tão exaustos.

A capacidade de acessar informações a qualquer momento e em qualquer lugar criou uma sensação de que precisamos estar sempre atualizados, o que pode gerar ansiedade e medo de perder algo importante.

A “infobesidade” também é um fenômeno real: estamos consumindo mais informação do que conseguimos digerir.

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O jornalismo vive uma crise de credibilidade

Você abre um site de notícias e dá de cara com uma manchete estilo “Você não vai acreditar no que este político fez”. O jornalismo, que antes prezava pelos fatos, agora quer sua atenção como se fosse uma fofoca de internet.

Uma pesquisa do Reuters Institute de 2023 revelou que 48% dos brasileiros não confiam nas notícias publicadas pela imprensa.

Com isso, em vez de confiarem nos jornalistas, muitos passaram a seguir influenciadores que apenas reforçam valores que já acreditam. Esse movimento acaba criando bolhas informativas, no qual as pessoas consomem apenas conteúdos que validam suas crenças pré-existentes, dificultando o debate público equilibrado e reforçando a polarização.

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A ausência de fontes confiáveis na rotina informativa contribui para a propagação de desinformação, tornando o ambiente digital ainda mais caótico.

Falta de conexão com o público

O jornalismo muitas vezes se desconecta do público porque insiste em uma linguagem técnica, rebuscada e carregada de jargões, como se escrevesse apenas para outros jornalistas. Esse distanciamento transforma a notícia em um exercício de autoafirmação da profissão, quando deveria ser uma ferramenta de compreensão para o leitor comum.

Ao alimentar o próprio ego, não cumprimos o papel fundamental do jornalismo: tornar a informação acessível e útil para a sociedade. O resultado é uma barreira que afasta leitores e os empurra para fontes mais simples, mas também com potencial de serem menos confiáveis.

Se continuar falando apenas para si mesmo, o jornalismo corre o risco de se tornar irrelevante para o público que deveria servir. E sem público, ele perde sua razão de existir.

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Flávio Moreira

Flávio Moreira é jornalista especializado em estratégia e inovação no mercado de mídia. Atualmente, atua como Coordenador de Parcerias e Estratégia no InfoMoney, tendo passado por posições de liderança como Editor-chefe de Assinaturas e Novos Projetos no UOL, Head de Conteúdo no Torcedores.com e Gestor de Comunidades FIFA na Electronic Arts. Além de sua trajetória profissional, Flávio é autor de uma newsletter sobre tendências e inovação para publishers, que conta com mais de 6 mil assinantes em busca de insights sobre o futuro da comunicação.