Publicidade
Certamente acontece com você e já virou uma tendência global: a fadiga informativa é um fenômeno no qual as pessoas passaram a propositalmente evitar o consumo de notícias.
Elas simplesmente decidiram tirar o jornalismo da rotina, como quem troca o canal quando começa uma novela ruim.
O “news avoiding” ocorre por uma combinação complexa de razões, sendo as principais o excesso de negatividade no noticiário, a sensação de impotência diante dos problemas noticiados, o exagerado volume de informações e a desconfiança na mídia.
Continua depois da publicidade
Muitas pessoas evitam consumir notícias porque sentem que elas afetam seu bem-estar emocional, gerando ansiedade, tristeza ou frustração. A polarização política e a disseminação de desinformação também aparecem como fatores que contribuem para o cansaço e a desmotivação do público em relação ao jornalismo.
Notícia ruim dá audiência
O noticiário virou uma espiral de crises e tragédias. Escândalos da política de um lado, guerras de outro, a crise climática avançando silenciosamente e, se ainda sobrar um espaço, uma super exploração das celebridades em fofoca empacotada como notícia.
A psicóloga Mary McNaughton-Cassill, especializada em saúde mental e mídia, discute a importância do equilíbrio entre o consumo de notícias com a saúde mental. Ela sugere que, embora o consumo de notícias não cause depressão clínica ou ansiedade, pode afetar o humor e aumentar sentimentos de desesperança, raiva ou ansiedade no curto prazo.
Continua depois da publicidade
O sentimento de frustração também é presente, pois o leitor é apresentado a uma infinidade de problemas, mas raramente se vê como parte das soluções.
McNaughton-Cassill destaca que a exposição contínua a notícias negativas pode levar a uma sensação de mal-estar e que o ideal é estabelecer limites no consumo de notícias.
Para lidar com este estresse causado pelo consumo de notícias, ela recomenda:
Continua depois da publicidade
- Reconhecer os gatilhos: Identificar por que e quando se consome mídia, e definir metas para o consumo de notícias.
- Desconectar: Incluir atividades que não envolvam mídia no dia a dia para reduzir o impacto negativo das notícias.
- Participar: Apoiar o jornalismo de soluções, que oferece não apenas problemas, mas também soluções, incentivando a ação positiva.
O bombardeio de informações
Nunca se produziu tanto conteúdo na história da humanidade. Mas também nunca estivemos tão exaustos.
A capacidade de acessar informações a qualquer momento e em qualquer lugar criou uma sensação de que precisamos estar sempre atualizados, o que pode gerar ansiedade e medo de perder algo importante.
A “infobesidade” também é um fenômeno real: estamos consumindo mais informação do que conseguimos digerir.
Continua depois da publicidade
O jornalismo vive uma crise de credibilidade
Você abre um site de notícias e dá de cara com uma manchete estilo “Você não vai acreditar no que este político fez”. O jornalismo, que antes prezava pelos fatos, agora quer sua atenção como se fosse uma fofoca de internet.
Uma pesquisa do Reuters Institute de 2023 revelou que 48% dos brasileiros não confiam nas notícias publicadas pela imprensa.
Com isso, em vez de confiarem nos jornalistas, muitos passaram a seguir influenciadores que apenas reforçam valores que já acreditam. Esse movimento acaba criando bolhas informativas, no qual as pessoas consomem apenas conteúdos que validam suas crenças pré-existentes, dificultando o debate público equilibrado e reforçando a polarização.
Continua depois da publicidade
A ausência de fontes confiáveis na rotina informativa contribui para a propagação de desinformação, tornando o ambiente digital ainda mais caótico.
Falta de conexão com o público
O jornalismo muitas vezes se desconecta do público porque insiste em uma linguagem técnica, rebuscada e carregada de jargões, como se escrevesse apenas para outros jornalistas. Esse distanciamento transforma a notícia em um exercício de autoafirmação da profissão, quando deveria ser uma ferramenta de compreensão para o leitor comum.
Ao alimentar o próprio ego, não cumprimos o papel fundamental do jornalismo: tornar a informação acessível e útil para a sociedade. O resultado é uma barreira que afasta leitores e os empurra para fontes mais simples, mas também com potencial de serem menos confiáveis.
Se continuar falando apenas para si mesmo, o jornalismo corre o risco de se tornar irrelevante para o público que deveria servir. E sem público, ele perde sua razão de existir.