Como a Geração Z consome (ou ignora) o jornalismo

A Geração Z ignora o jornalismo tradicional não por rejeição, mas por indiferença. Entender seus hábitos é essencial para manter a relevância e o papel público da informação.

Flávio Moreira

Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

Imagem gerada por inteligência artificial / Chat GPT
Imagem gerada por inteligência artificial / Chat GPT

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Tem uma mudança em curso que muita gente está ignorando. É um movimento silencioso de afastamento e quem está saindo de cena são os leitores mais jovens.

Uma pesquisa do Digiday mostrou que os hábitos de consumo de notícias da Geração Z são bem diferentes do que a maioria dos publishers ainda insiste em entregar. É preciso entender como essa geração enxerga o papel da informação na vida delas. E a real é que o modelo atual não conversa com isso.

Jovens já não demonstram grande confiança nas instituições tradicionais de mídia, o que por si só seria um desafio, mas o cenário é ainda mais preocupante porque o principal sentimento em relação ao jornalismo não é rejeição, é indiferença. A Geração Z não se mobiliza contra a imprensa, ela apenas a ignora.

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O conteúdo jornalístico deixou de ser percebido como algo útil, relevante ou conectado com o que importa para a vida deles.

Quando o jornalismo não preenche mais espaço

A consequência disso é um vácuo sendo preenchido por influenciadores, criadores de conteúdo e memes. E quando os publishers tentam ocupar esse espaço, fazem isso com um olhar de fora, que muitas vezes soa forçado.

O problema não é só de distribuição. É de produto.

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A Geração Z consome conteúdo de forma fragmentada, com expectativa de contexto imediato e, muitas vezes, em formatos que permitem pausa, resposta e compartilhamento.

O problema não é só onde se publica


Eles não entram em um site para ler uma matéria de mil palavras. Preferem uma sequência de stories bem contada, um vídeo curto direto ao ponto ou um carrossel com visual limpo e objetivo.

Isso não significa abandonar a profundidade. Significa adaptar a entrega.

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O erro comum dos publishers é tentar levar o conteúdo de sempre para as plataformas novas. É como tentar vender um jornal de papel dentro de um jogo de videogame. O formato não encaixa com a experiência esperada.

A nova expectativa: conversa, não sermão

Outro ponto que a pesquisa traz é que os jovens querem participar. Eles valorizam marcas que escutam, respondem, explicam. Um jornalismo que se coloca acima da conversa e se blinda em uma bolha de suposta imparcialidade perde espaço. A nova audiência quer diálogo, não sermão.

Mas talvez o dado mais importante esteja aqui: os jovens ainda acreditam que o jornalismo pode ser útil. Eles só não conseguem enxergar essa utilidade no que recebem hoje.

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É um alerta. E também uma chance.

O desafio de continuar relevante

Adaptar-se ao comportamento da Geração Z não é sobre seguir tendência. É sobre garantir relevância. Porque o que está em jogo não é só a audiência de amanhã. É a própria continuidade do papel do jornalismo como bem público.

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Flávio Moreira

Flávio Moreira é jornalista especializado em estratégia e inovação no mercado de mídia. Atualmente, atua como Coordenador de Parcerias e Estratégia no InfoMoney, tendo passado por posições de liderança como Editor-chefe de Assinaturas e Novos Projetos no UOL, Head de Conteúdo no Torcedores.com e Gestor de Comunidades FIFA na Electronic Arts. Além de sua trajetória profissional, Flávio é autor de uma newsletter sobre tendências e inovação para publishers, que conta com mais de 6 mil assinantes em busca de insights sobre o futuro da comunicação.