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Poucos dados dizem tanto sobre o momento do jornalismo quanto este: só 4 em cada 10 brasileiros confiam nas notícias, segundo o Digital News Report 2025, produzido pelo Reuters Institute for the Study of Journalism.
A maioria do país já não acredita naquilo que lê, assiste ou ouve vindo da imprensa. E isso, por si só, deveria ser motivo de alerta para todos nós que trabalhamos com informação.
A gente normalizou o desinteresse, o ceticismo, o descrédito. Como se fosse algo natural do tempo em que vivemos e pouco relacionado com um pilar importante das democracias.
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Confiança estagnada é confiança em declínio
Os 42% de confiança registrados no Digital News Report 2025 representam uma estabilidade estatística, mas um fracasso simbólico. Estamos parados em um patamar baixo nos últimos três anos. Quando menos da metade da população acredita no jornalismo, temos um problema institucional. Uma crise de relevância.
E o pior é que a gente sente isso nas redações, nos grupos de WhatsApp, nas conversas com colegas. Existe uma consciência quase unânime da fragilidade da credibilidade do jornalismo, mas poucas propostas de como retomar a confiança.
Mudam os formatos e mudam os hábitos
Apenas 10% dos brasileiros ainda usam jornal impresso. O mesmo percentual que usa podcasts. E quase o mesmo que já se informa por IA generativa. Enquanto a gente discute se jornal é papel ou tela, o leitor já está interagindo com um robô.
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O consumo de notícias nas redes sociais também ganhou força: 55% dos brasileiros dizem acessar notícias por plataformas como YouTube, WhatsApp, Instagram e TikTok.
Esses canais, apesar de populares, aumentam a fragmentação da informação e dificultam a checagem de fontes. Isso reforça um cenário em que o jornalista precisa disputar atenção com influenciadores, criadores de conteúdo e algoritmos.
Não é só uma crise de reputação. É uma crise de propósito
No fundo, o que a gente perdeu foi o elo com o público. Nossas escolhas editoriais, nossos modelos de negócio, nossos produtos digitais… tudo foi pensado com outras prioridades. O leitor ficou em último na fila. E agora estamos colhendo o resultado disso.
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Ao longo dos anos, moldamos nosso conteúdo para agradar algoritmos de busca, demandas comerciais e formatos de redes sociais, mas deixamos o usuário real em segundo plano.
A reconstrução da confiança exige um reposicionamento profundo.
Caminhos reais (e possíveis) para virar o jogo
Transparência radical significa mostrar claramente como uma notícia foi apurada, quais fontes foram utilizadas e de que forma eventuais erros foram corrigidos. Já a educação midiática tem o papel de ensinar o público a diferenciar jornalismo de opinião, propaganda ou desinformação. São passos importantes para que a população volte a entender e confiar no trabalho jornalístico.
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Outro ponto essencial é construir uma colaboração equilibrada entre inteligência artificial e jornalistas humanos. A tecnologia pode ajudar com agilidade e organização, mas a credibilidade continua sendo uma tarefa humana. Também é hora de valorizar o foco local, com coberturas mais próximas da realidade das pessoas, e investir em engajamento direto, criando canais reais de diálogo com o público.
Incentivar o consumo de notícias de veículos jornalísticos confiáveis se torna ainda mais relevante. Plataformas como o InfoMoney, por exemplo, têm investido em conteúdo especializado, análise rigorosa e compromisso com a checagem dos fatos, ajudando a combater a desinformação e recuperar a credibilidade perdida pelo segmento. Valorizar esse tipo de jornalismo é uma forma concreta de apoiar a construção de uma sociedade mais informada e menos vulnerável a narrativas enganosas.
A boa notícia é que o jornalismo ainda tem capital simbólico. Ainda pode (e deve) ser relevante.
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Não existe receita pronta, mas existe um caminho claro: fazer jornalismo com verdade, com empatia, com responsabilidade e com o público no centro de tudo.
A gente não precisa que todos amem o jornalismo. Mas precisamos, com urgência, que as pessoas voltem a confiar nele.