Publicidade
Quando eu entrei no jornalismo, o segredo do sucesso era publicar rápido. Publicar “Morreu famoso” antes do concorrente valia mais do que o fato de a matéria era boa ou não.
Era um jogo baseado em velocidade. De certa forma, ainda é, pois ranqueia melhor em mecanismos de busca quem publica primeiro, mas só se agradar o algoritmo.
Com a chegada das redes sociais, passamos a deixar de lado o que eram nossos critérios do que é notícia e passamos publicar o que tende a aparecer mais e viralizar no feed.
Continua depois da publicidade
Com tanta coisa mudando, o que será que vai funcionar para o jornalismo dos próximos 10 anos? Tentando fazer um exercício de futurologia, gosto de acreditar que o publishers que (re)conquistarem a confiança do público estarão muitas casas na frente.
E ela é o topo de uma pirâmide que passa também por utilidade, forma e canal.
Relevância é o clickbait do bem
Antigamente, a gente pedia pro leitor cofiar no que a gente publicava simplesmente por sermos jornalistas. Agora, ele responde: “prova”. Se você não tiver uma reputação, um histórico e identificação com os valores do usuário, dificilmente seu conteúdo terá vida longa.
Continua depois da publicidade
Confiança virou o produto e todo o resto é embalagem.
Ela é construída no longo prazo, mas pode ser destruída em segundos. E não basta ser confiável, é preciso parecer confiável. Isso envolve desde a transparência na apuração até o tom adotado na manchete e publicações em redes sociais.
O público está cada vez mais sensível a sinais de viés, manipulação ou exagero, e qualquer ruído pode quebrar o vínculo. Por isso, a confiança não é um selo que se conquista uma vez, é uma prática diária em todas as camadas da operação jornalística.
Continua depois da publicidade
Utilidade: jornalismo ou tutorial?
O leitor não quer só saber se o PIB cresceu. Ele quer saber se pode parcelar o ar-condicionado em 10x sem virar inadimplente. Se o jornalismo não resolver a vida dele, ele vai preferir buscar a resposta em fontes mais questionáveis com uma resposta satisfatória.
Essa lógica obriga os veículos a repensarem não só o conteúdo que produzem, mas também como ele se encaixa nas necessidades cotidianas da audiência. Não basta mais noticiar, é preciso contextualizar, explicar e aplicar.
Um conteúdo útil é aquele que responde a uma dúvida real, que orienta uma decisão prática ou que antecipa um problema do leitor. O jornalismo de utilidade é, em última instância, o que transforma informação em ferramenta de ação.
Continua depois da publicidade
Formato: texto, vídeo ou dança no TikTok?
Pode acontecer de um jornalista escrever uma matéria de 3 mil toques explicando toda a reforma tributária. Aí ele se frustra quando a publicam como um carrossel de Instagram com emojis de foguete que rende mais engajamento que todas as reportagens somadas desde 2013.
Às vezes, a gente acha que está escrevendo um ensaio pra revista Piauí, mas a audiência só quer um meme explicando o juro real.
Canal: aquele que muda toda semana
O canal é volátil. Já passamos por fóruns, blogs, redes sociais, newsletters, aplicativos, mensageiros e até assistentes de voz. Cada nova plataforma promete ser a próxima grande vitrine, mas quase todas acabam sendo substituídas ou perdem relevância com o tempo.
Continua depois da publicidade
O segredo está em não se apegar. A relação com o público precisa ser maior do que a plataforma que a abriga. O conteúdo precisa ser portável, adaptável, e acima de tudo, independente de canal. Porque o canal muda. A confiança e a utilidade permanecem.
A nova pirâmide do jornalismo é meio esquisita, meio mística e muito real. Não adianta gastar energia no canal, no formato ou na pose de “especialista em inovação” se você não tiver confiança.