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Os desafios enfrentados pelo jornalismo sempre foram discutidos sob a ótica da crise econômica: salários baixos, demissões em massa, instabilidade e a dificuldade de encontrar um modelo de negócios sustentável.
Mas, de forma silenciosa e crescente, a saúde mental dos jornalistas virou um dos principais riscos à sobrevivência do jornalismo como o conhecemos.
Jornalistas estão adoecendo e quase ninguém está falando sobre isso
A pressão por produtividade constante, aliada a ambientes de trabalho tóxicos, jornadas exaustivas e pouco reconhecimento, tem levado muitos profissionais à exaustão. Ansiedade, insônia, depressão e burnout já fazem parte da rotina de quem ainda está nas redações.
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O mais preocupante é que tudo sempre foi tratado como “normal” em uma cultura de aceleração contínua, na qual quem desacelera é visto como fraco ou desengajado. E continua assim.
Em um mercado tão precarizado e com falta de oportunidades, quem tem um emprego tolera comprometer a saúde porque os boletos não param de chegar.
As metas de audiência estão minando o propósito da profissão
Redações inteiras passaram a operar com base em metas rígidas de page views. A consequência direta disso é a substituição de matérias relevantes por conteúdos otimizados para clique. O jornalista deixa de produzir com propósito e passa a escrever para agradar o algoritmo.
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Essa mudança de lógica transforma o conteúdo em commodity e o profissional em operário. A frustração vira regra e o esgotamento é inevitável.
A imposição dessas métricas e a perda de autonomia corroem a identidade profissional do jornalista. Aquele que antes se via como um agente da informação com papel central de importância na sociedade agora se percebe como um mero produtor de conteúdo descartável.
Essa dissonância entre o ideal da profissão e a realidade do trabalho diário gera um profundo sentimento de inadequação e desvalorização. A paixão pelo jornalismo, que já foi um dos principais motores de motivação, agora se transforma em angústia e desesperança, contribuindo significativamente para o desenvolvimento de quadros de ansiedade e depressão.
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Por que tantos jornalistas estão deixando a profissão?
Além do desgaste emocional, muitos profissionais enfrentam uma combinação de fatores que torna a carreira insustentável. O salário não cobre o custo de vida em grandes cidades, os contratos são precários, a credibilidade da profissão está em queda e o espaço para crescimento é cada vez menor.
Com a tecnologia avançando, o jornalista também passa a disputar espaço com a inteligência artificial. E, quando o retorno financeiro e o prestígio social desaparecem, a única coisa que segura alguém na carreira é o propósito, que também escorre pelo ralo.
Redações precisam cuidar da saúde mental como prioridade estratégica
A saúde emocional dos jornalistas precisa sair do plano do discurso e entrar nas prioridades práticas das empresas de mídia. Isso passa por revisar metas de performance, oferecer suporte psicológico, formar líderes com inteligência emocional e criar ambientes mais humanos.
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Um jornalista exausto não cria, não investiga e não inova. E sem inovação e profundidade, o jornalismo perde seu papel social.
Se os argumentos anteriores não convencem, é preciso lembrar que um jornalismo exausto também não fecha as contas como negócio.
Se os melhores talentos estão saindo porque não conseguem mais lidar com a rotina emocionalmente insustentável, o que sobra é um jornalismo raso, desmotivado e descartável. O futuro do conteúdo passa, antes de tudo, por quem o produz.