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A recessão global já terminou?

Apesar da forte performance das bolsas globais em 2023, ainda é precipitado dizer que a recessão não irá ocorrer e já podemos celebrar a vitória
Por  Fernando Ferreira -
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

Um dos maiores consensos no final do ano passado era de que o mundo entraria em uma recessão em 2023. Essa contração da economia começaria pela Europa, e depois se alastraria para os EUA e outros países.

Afinal, a Europa estava sofrendo com os efeitos da guerra, a falta de gás, a altíssima inflação, entre outros desafios. Já a economia americana tem que sentir os efeitos da forte alta de juros feita pelo Fed em 2022, levando a uma contração do mercado imobiliário, uma retração do consumo e um aumento no desemprego.

O consenso é tão forte que, pela primeira vez na história, os economistas estavam prevendo uma recessão antes de ocorrer: 65% dos entrevistados pela Bloomberg esperam uma recessão para os próximos 12 meses, um recorde para períodos quando o movimento ainda não começou (dados desde 2008).

Ora, quem olha os dados passados sabe que, em geral, as projeções de uma recessão acontecem durante, ou até após, o início dela. Mas, como o “Sr. Mercado” gosta de testar todo grande consenso, o que vimos até agora não foi diferente.

Olhando para a performance dos ativos em 2023, é difícil de acreditar que poderíamos estar na iminência de uma recessão global. O S&P500 sobe quase 8%, a bolsa de tecnologia Nasdaq sobe próxima de 14%, Europa +11% e Ásia +7%. Ativos de maior risco como o Bitcoin e o Ethereum já sobem até 38% no ano.

Essa forte performance se enquadra em um dos melhores inícios de ano para as Bolsas globais em várias décadas. É claro que não podemos esquecer de onde viemos em 2022, com quedas expressivas nos mercados globais, tanto de renda variável, como nos títulos de renda fixa.

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Por isso, a pergunta inicial: “A recessão global – que era tão esperada – já acabou?”

Antes de responder a essa questão, vamos olhar para o que levou a essa grande melhora de preços. Vemos algumas razões por trás dessa recuperação:

1) Maior resiliência da economia global, comprovada por dados econômicos recentes que mostram força do mercado de trabalho e consumidor nos EUA e na Europa;

2) A reabertura da economia chinesa, que deve impulsionar não só a China, mas também vários países dependentes da economia chinesa (Alemanha, Brasil, entre outros);

3) Arrefecimento da inflação. Os últimos dados de inflação publicados nos EUA vieram melhores que o esperado, e o presidente do Fed, Jerome Powell, já sinalizou que poderá mudar a postura, caso essa desinflação continue;

4) Melhora no balanço de oferta e demanda de energia, o que levou a uma queda expressiva dos preços de gás natural na Europa, e mantém o preço do petróleo abaixo dos US$90/barril. E, não menos importante;

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5) Posicionamento do mercado: vários indicadores mostram que os investidores entraram esse ano bastante pessimistas – e posicionados de acordo. Dessa forma, a alta dos mercados teve de ser acompanhada de compras por muitos investidores, para voltarem a enquadrar suas carteiras, e não ficarem para trás em um rali de preços. Movimentos técnicos como esse acabam por exacerbar os ciclos de preço, tanto para cima, quanto para baixo.

Agora, voltando à pergunta principal, ainda nos parece precipitado dizer que a recessão não irá ocorrer e já podemos celebrar a vitória. A economia global pode estar numa encruzilhada, ao passo que o mercado de trabalho ainda apertado nos EUA sinaliza que a inflação pode demorar a ceder de volta para a meta de 2% do Federal Reserve. Isso coloca pressão nos Bancos Centrais para seguir subindo juros e tirando liquidez do sistema, ou seja, apertando as condições financeiras.

Por outro lado, caso a economia global piore repentinamente, a inflação pode ceder, mas às custas de uma recessão econômica. Nenhum dos dois cenários é muito positivo para ativos de risco.

O terceiro cenário, e o que parece estar entre as maiores probabilidades precificadas no mercado hoje, é o do pouso suave (“soft landing”).

Nesse cenário, a inflação voltaria para o centro da meta, mas sem a necessidade de a economia entrar em uma recessão. No jargão popular, esse seria “o melhor dos mundos”.

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E como fica o Brasil nessa história?

O Brasil tem ficado para trás nesse rali global. Nossa Bolsa quase não sobe no ano e o Real está entre as piores moedas em relação ao Dólar nos últimos 3-4 meses, à frente apenas de países como Argentina, Rússia e Turquia. Além disso, o custo do dinheiro, medido pela curva de juros futuros, não para de subir.

Mas esse assunto fica para o próximo artigo.

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Fernando Ferreira Estrategista-chefe da XP Inc.

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