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Existe um momento na trajetória de qualquer CEO no esporte em que o cargo deixa de ser apenas gestão, estratégia e resultados. É quando a liderança se vê diante de uma das decisões mais duras da profissão: não renovar o contrato e desligar alguém que foi — e ainda é — querido dentro da equipe.
No futsal e no esporte de alto rendimento, o tempo é implacável. A exigência física cresce a cada temporada, a intensidade do jogo aumenta, a margem de erro diminui. Chega um ponto em que o corpo já não responde como antes, por mais que a mente, a experiência e o amor pelo esporte sigam intactos. E é justamente aí que mora a maior crueldade do esporte.
Enquanto em muitas profissões os 40 anos representam maturidade, auge intelectual e estabilidade, no esporte essa idade costuma simbolizar o fim da jornada competitiva. Um encerramento precoce, se comparado ao mercado tradicional, e emocionalmente difícil de ser assimilado por quem dedicou a vida inteira a treinos, jogos, vitórias, derrotas e sacrifícios pessoais.
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A decisão se torna ainda mais complexa quando esse atleta construiu uma longa história dentro do clube. Anos vestindo a mesma camisa criam algo que vai muito além da relação profissional. Surgem laços de amizade, convivência entre famílias, filhos que crescem juntos, histórias compartilhadas fora das quadras. Nessas horas, a decisão não parece apenas administrativa — ela soa quase como arrancar uma parte de nós mesmos.
É nesse ponto que o CEO é colocado à prova. A liderança exige frieza, mas não frieza desumana. Exige agir com a razão, sem permitir que o coração fale mais alto, mas também sem transformar pessoas em números ou estatísticas de desempenho. Não é simples. Nunca é.
O erro mais comum é postergar a decisão por apego emocional. E isso, embora compreensível, costuma ser prejudicial para todos: para o clube, que precisa evoluir; para o grupo, que sente o peso da transição mal resolvida; e, principalmente, para o próprio atleta, que acaba exposto a cobranças e frustrações que poderiam ser evitadas.
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A saída mais responsável não é negar o fim, mas prepará-lo. Quando bem conduzido, o desligamento não precisa ser traumático. Pelo contrário: pode se transformar em um rito de passagem para uma nova etapa da vida.
Cabe ao líder preparar esse momento da forma mais leve e digna possível. Conversas francas, respeito à história construída, reconhecimento público da contribuição e, acima de tudo, ajuda concreta para que o profissional consiga enxergar, logo à frente, uma nova jornada. Seja na comissão técnica, na gestão, na formação de atletas, no empreendedorismo ou em qualquer outro caminho que faça sentido.
O papel do CEO não termina ao assinar um distrato. Ele se estende na responsabilidade de pavimentar o futuro de quem ajudou a construir o presente. Quando isso acontece, o esporte deixa de ser apenas cruel e passa a ser justo. Duro, sim — mas humano.
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Porque, no fim das contas, performance proporciona bons resultados, mas pessoas constroem legados. E a forma como tratamos quem dedicou sua vida ao clube diz muito mais sobre nossa liderança do que qualquer título levantado.
Assim, encerramos mais um grande ano. Quero agradecer cada um de vocês que dedicou tempo para acompanhar meus textos, foi muito bom compartilhar um pouco do nosso dia a dia e uma honra iniciar essa jornada com o InfoMoney. Muito obrigado, Feliz Natal a todos e um 2026 repleto de saúde, paz, amor e sucesso!!!