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Quando uma empresa precisava de crédito, o banco sempre foi a opção óbvia. Mas nos últimos dez anos, ocorreu no Brasil uma revolução silenciosa. Cada vez mais companhias têm recorrido ao mercado de capitais para se financiar — em vez de pedir empréstimo, emitem títulos que são comprados por fundos de crédito, investidores institucionais e, cada vez mais, por pessoas físicas como você.
Essa mudança acaba de ser confirmada pelos dados de junho do Banco Central: pela primeira vez, o mercado de capitais nacional superou os bancos como principal fonte de crédito para empresas. O estoque de empréstimos bancários estava em R$ 2,19 trilhões, enquanto o total de títulos emitidos por companhias e securitizados chegou a R$ 2,21 trilhões. Somando dívida externa a essas duas outras modalidades, o crédito corporativo totalizou R$ 6,7 trilhões — ou 54,8% do PIB.
O que chama atenção é a velocidade da virada. Há dez anos, o mercado de capitais era 75% menor que o crédito bancário. Cinco anos atrás, ainda era 50% menor. Hoje, está à frente — e com tendência clara de manter o protagonismo.
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Essa transformação não é abstrata para o investidor. Ela redefine o papel da pessoa física: muitos de nós agora somos, direta ou indiretamente, financiadores da economia real. Seja ao aplicar em fundos de crédito privado, seja ao investir em um CRI ou debênture em uma plataforma, estamos participando do financiamento da economia e da criação de emprego no país.
Essa nova dinâmica é acompanhada de responsabilidade adicional. Como ofertantes de recursos para o mercado de capitais, os investidores devem avaliar o risco que desejam correr, montar a carteira e selecionar bem os ativos.
Não é trivial comprar nenhum ativo diretamente, seja ações ou títulos de renda fixa de empresas. Não é só porque uma marca faz muita propaganda ou está abrindo lojas que a torna um bom investimento. As escrituras de debentures ou termos de securitizações tem centenas de páginas. Se esse é o caminho escolhido, o ideal é diversificar.
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A outra opção é investir em um fundo de investimentos e, assim, a decisão de alocação é terceirizada a um gestor. Hoje é fácil comparar fundos abertos e fechados em diversos sites e corretoras. A grande vantagem é que há um profissional dedicado alocando os recursos, analisando os ativos e respeitando regras de diversificação.
Por esse serviço há uma taxa amplamente divulgada que o cotista paga, e esse deve ser um dos principais pontos observados. Apesar do crescimento recente, o mercado de títulos de empresas no Brasil não é tão grande quanto nos países desenvolvidos, por isso, fundos grandes, apesar da vantagem de escala, às vezes tem pouca margem de manobra na compra e venda de ativos.
Vale lembrar que esse movimento ocorre num ambiente de juros elevados, mas com crescimento econômico e nível baixo de desemprego. Segundo o Banco Central, a inadimplência total do crédito livre está em 5,0%. A inadimplência de pessoas jurídicas está em 3,1%, e a de pessoas físicas em 6,2%.
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Essa combinação é boa para o investimento em crédito, mas juros elevados por muito tempo podem sufocar as empresas e há uma desaceleração da economia contratada para os próximos semestres.
Ou seja: o risco existe e precisa ser monitorado. Mesmo com diversificação e diligência haverá alguma (baixa) volatilidade e períodos de retornos abaixo do famoso CDI. Mas esse é o preço a ser pagar para retornos excedentes positivos no longo prazo.
Do ponto de vista das empresas, esse novo cenário exige mudanças de comportamento. O relacionamento com investidores é mais pulverizado e exige credibilidade. Governança, transparência e clareza sobre os objetivos da captação se tornam essenciais para acessar bons investidores — e conseguir taxas competitivas.
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Mas o mais relevante, para você, é que esse marco sinaliza uma mudança estrutural: menos dependência dos grandes bancos e mais protagonismo da poupança individual. Se o investidor souber escolher bem, isso pode significar retorno acima da renda fixa tradicional, com risco controlado — e ainda com impacto real no crescimento das empresas e da economia.
O crédito mudou de mãos. E o seu dinheiro agora tem mais poder.