Segundo o Focus, PIB do Brasil será de 2,24% em 2020; mas este não é um sinal de que cresceremos ainda mais?
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De acordo com o relatório Focus do Banco Central, que reúne a projeção de instituições financeiras e consultorias econômicas do país, a projeção para o PIB brasileiro em 2020 é de 2,24%.
Basicamente, a melhora em relação à 2019 (projeção de 1,1%) decorre dos efeitos das baixa taxa de juros e melhora das expectativas dos empresários e investidores, com a aprovação da reforma da previdência e controle do gasto público.
Com esse avanço da agenda econômica, será que não podemos ter um crescimento bem acima de 2,24%?
A fim de responder a esse questionamento, comparei a variação real do PIB com a projeção de crescimento do PIB do ano anterior. Por exemplo, segundo o relatório Focus, a projeção de crescimento do PIB para 2010, realizada em dezembro de 2009, era de 5,07%, enquanto a variação real foi de 7,53% – uma diferença de 2,46 p.p.
A tabela abaixo traz um comparativo entre a projeção realizada em 20 de dezembro do ano t-1 contra a variação real em t.
Ano | Projeção | Real | Erro (Diferença entre o Real-Estimado) |
2000 | 3,02% | 4,39% | 1,37 p.p |
2001 | 4,10% | 1,39% | -2,71 p.p |
2002 | 2,25% | 3,05% | 0,8 p.p |
2003 | 1,87% | 1,14% | -0,73 p.p |
2004 | 3,62% | 5,76% | 2,14 p.p |
2005 | 3,58% | 3,20% | -0,38 p.p |
2006 | 3,46% | 3,96% | 0,5 p.p |
2007 | 3,42% | 6,07% | 2,65 p.p |
2008 | 4,47% | 5,09% | 0,62 p.p |
2009 | 2,29% | -0,13% | -2,42 p.p |
2010 | 5,07% | 7,53% | 2,46 p.p |
2011 | 4,50% | 3,97% | -0,53 p.p |
2012 | 3,32% | 1,92% | -1,4 p.p |
2013 | 3,40% | 3,00% | -0,4 p.p |
2014 | 2,02% | 0,50% | -1,52 p.p |
2015 | 0,51% | -3,55% | -4,06 p.p |
2016 | -2,72% | -3,28% | -0,56 p.p |
2017 | 0,52% | 1,32% | 0,8 p.p |
2018 | 2,62% | 1,32% | -1,3 p.p |
2019E** | 2,61% | 1,11% | -1,5 p.p |
* projeção obtida no gerenciador de séries temporais do banco central. A projeção refere-se 20 de dezembro do ano anterior. Por exemplo, a projeção de variação do PIB em 2005 refere-se a estimativa média realizada pelo mercado em 20 de dezembro de 2004. **Ainda sem o dado fechado |
De acordo com a tabela, o maior erro de projeção ocorreu em 2015. Para esse ano, a projeção do mercado era um crescimento de 0,51%; enquanto o PIB caiu 3,55%. Já o menor erro ocorreu em 2005, quando o PIB cresceu 3,20%, contra uma projeção de 3,58% para aquele ano.
Na média, o desvio entre o crescimento realizado do PIB contra o estimado foi de 1,4 p.p. Já, quando esse erro é medido pela mediana, a diferença é de 1,3p.p. A convergência entre média e mediana indica que o erro de projeções não foi puxado majoritariamente por alguns anos específicos.
Embora a amostra seja pequena, inviabilizando testes estatísticos mais sofisticados e análises mais conclusivas, ela nos dá uma ideia de que as projeções podem estar bem distantes do dado efetivo. A discrepância é explicada pela utilização de modelos econométricos que utilizam variáveis e premissas bem sensíveis, como taxas de juros, câmbio, crédito e confiança do consumidor.
Isso posto, dado que o erro médio entre o projetado e o realizado é de 1,4 p.p, o crescimento do PIB poderia chegar a 3,64% ou até mesmo 0,84%. No entanto, diante de alguns fatores internos, as projeções podem estar mais subestimadas do que superestimadas.
Entre os fatores que explicariam um maior crescimento do PIB é a recuperação de alguns setores, como construção civil e indústria de transformação, crescimento do mercado de capitais e do empreendedorismo devido aos juros baixos, melhora da confiança dos agentes econômicos em decorrência do ajuste fiscal, e diminuição do risco país. Já o risco de um crescimento econômico menor que o esperado poderia vir de uma piora da economia global.
Por enquanto, é muito cedo para ficarmos desanimados ou empolgados com os 2,24%. Mas que tem muita gente boa falando em uma recuperação mais robusta, isso tem. Basta ouvirem as análises de gestores no Stock Pickers – maior podcast sobre ações do Brasil (aqui) –, que entenderão por que é possível o PIB crescer na casa de 3%.
Alan Ghani é economista, PhD em Finanças e professor de pós-graduação.
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