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O liberalismo popularizou a Disney – que bom!

Paulo Guedes usou uma hipérbole infeliz ao falar sobre a ida de empregadas à Disney ao invés de enaltecer aspectos positivos de uma economia de mercado
Por  Alan Ghani
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

Quem é um pouco mais velho sabe o que era “andar de avião “na década de 80. Era luxo. Voar com a famigerada Varig para NY ou Paris então…nem se fala!

A partir da década da década de 90, mais especificamente a partir de 1994, essa realidade começou a mudar. Com o sucesso do Plano Real, as viagens para o exterior se tornaram mais acessíveis para muitos brasileiros, seja pelo aumento da renda devido ao fim da inflação, seja pela valorização do câmbio. Eram inúmeras as excursões para Disney com crianças e adolescentes. Mas, ainda assim, o acesso ao exterior pertencia apenas a ricos e à classe média.

A partir de 2005, o turismo começou a se popularizar ainda mais. A manutenção do tripé econômico, combinado com um cenário internacional econômico mais favorável, possibilitou o crescimento da renda do brasileiro e novamente uma valorização do real – tão castigado com a maxidesvalorização de 1999 e as eleição de 2002.

Com o crescimento da renda e valorização do real, as viagens ao exterior passaram a ser acessíveis inclusive para a classe C. A maior renda possibilitou que as pessoas consumissem mais, inclusive com turismo, e a nossa moeda valorizada tornou os preços em dólares mais baratos, possibilitando o aumento de viagens ao exterior.

Mas não foi apenas a combinação dessas variáveis que possibilitou o boom de turismo na época. Outros fatores, como a elevação do crédito (financiamentos), o aumento da competição e a tecnologia possibilitaram o boom de das viagens internacionais.

O financiamento na área de turismo tornou possível o consumo presente sem ter a totalidade de dinheiro para comprar a hospedagem ou a passagem à vista, ao postergar o pagamento desses serviços para o futuro, evidentemente a um custo maior (juros). Já a tecnologia permitiu um aumento da eficiência e produtividade, reduzindo custos operacionais em toda cadeia aérea, permitindo o barateamento do setor. Por fim, a concorrência, potencializada pelas facilidades tecnológicas de comparação de preços nos sites de buscas, também ajudou a pressionar os preços para baixo em comparação aos valores praticados no passado.

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Não é somente no setor de turismo que essas variáveis operam a favor dos mais pobres. As inovações tecnológicas e a eficiência tornam possível o consumo de produtos e serviços que outrora somente eram adquiridos por pessoas mais ricas. Linhas telefônicas, carros, celulares e internet são alguns dos exemplos de bens que apenas indivíduos de alta renda tinham acesso e, posteriormente, se popularizaram no cotidiano de boa parte da população.

Num primeiro momento, somente pessoas com muito dinheiro tinham acesso a essas tecnologias. Por exemplo, ter um celular na década de 90 era um luxo acessível à minoria da população. A diferença de satisfação (utilidade em “economês”) que o celular proporcionava para aqueles que tinham o telefone para os que não possuíam o aparelho era enorme. Afinal, poder falar no telefone em qualquer localidade era uma grande utilidade.

Num segundo momento, devido à produtividade e à produção em larga escala, os custos dos aparelhos e das linhas se tornam acessíveis para a maior parte da população. É claro que a pessoa mais rica pode ter um aparelho melhor, mas, agora, a diferença de utilidade entre o celular smartphone top de linha para um modelo mais simples é bem menor do que ter ou não um celular.

O mesmo raciocínio vale para o turismo. No passado, a diferença de satisfação daqueles que poderiam viajar para Orlando daqueles que não podiam era enorme. Hoje, apesar dos ricos poderem viajar em condições mais confortáveis (classe executiva, melhores hotéis, etc.), acabam conhecendo a Disney dos mesmo jeito que as pessoas menos favorecidas.

É óbvio que Paulo Guedes, um liberal convicto sabe disso. Mas, em vez de enaltecer os aspectos positivos de uma economia de mercado – a redução da pobreza – preferiu utilizar uma hipérbole infeliz (sobre as empregadas irem a Disney) que serve de arma para reforçar a propaganda mentirosa de que capitalismo só favorece os ricos sob o clichê “neoliberal”, quando, na verdade, é justamente o contrário: a economia de mercado tira pessoas da pobreza e permite o acesso de bens e serviços a maior parte da população.

Paulo Guedes, um excelente ministro, tantas vezes elogiado por esta coluna, pisou na bola pela comunicação. Talvez esteja precisando de umas férias na Disney para esfriar um pouco a cabeça.

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Alan Ghani é economista, PhD em Finanças e professor de pós-graduação.

 

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Alan Ghani É economista, mestre e doutor em Finanças pela FEA-USP, com especialização na UTSA (University of Texas at San Antonio). Trabalhou como economista na MCM Consultores e hoje atua como consultor em finanças e economia e também como professor de pós-graduação, MBAs e treinamentos in company.

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