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Menos dinheiro para universidade pública e mais para a educação básica

O que mais chamou a atenção nesta última avaliação foi a discrepância entre o ensino público e o particular
Por  Alan Ghani -
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

Na última semana saiu o resultado do último PISA (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes). O programa avalia o nível educacional em diversos países do mundo.

O que chamou a atenção nesta última avaliação foi a discrepância entre o ensino público e o particular. Entre 79 países avaliados, considerando apenas as escolas particulares, o Brasil ficaria em 11º lugar no ranking em leitura, ao lado da tão elogiada Suécia; 39ª em matemática e 23º em Ciências.

Se for considerado apenas as escolas particulares de elite, o resultado é ainda mais surpreendente: o Brasil ficaria em 5º em leitura, 30º em matemática e 12º em ciências.

Se os resultados das escolas particulares colocam a educação brasileira de base num nível satisfatório, não se pode dizer o mesmo da rede pública. De 79 países, o Brasil ficaria em 65º lugar em leitura, 75º em matemática e 71º em Ciências, considerando apenas os estudantes das escolas públicas.

A discrepância do resultado entre as escolas particulares e públicas traz algumas reflexões. A primeira é a necessidade de investir com qualidade no ensino de base. Se a criança ou o adolescente tiver deficiências em matemática, português e inglês, provavelmente terá dificuldades de ter uma boa formação universitária e ter salários maiores no futuro.

A relação entre educação e aumento de salários é comprovada empiricamente. De acordo com estudo da FGV, a cada 1 ano a mais de estudo, os salários aumentam, em média, 15%. A explicação é simples: a educação eleva a produtividade do trabalho, fator fundamental para salários mais altos.

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Se a relação entre salário e educação é intuitiva, por que não aumentar os investimentos em educação escolar?

Para responder a essa pergunta, temos de ter em mente que o orçamento do governo é limitado, porque a arrecadação de impostos sobre a renda gerada na sociedade também é limitada.

Em outras palavras, o governo não consegue magicamente investir mais educação, sem tirar dinheiro de outras áreas, porque seus recursos são escassos.

Além disso, de acordo com as nossas possibilidades, ou seja, proporcionalmente ao nosso PIB e ao nosso orçamento, o investimento em educação no Brasil não é baixo.

Conforme argumentado no artigo Derrubando o clichê “tem que investir em educação”, o Brasil investe 6% do PIB em educação, número superior aos EUA (5,4%) e Chile (4,8%).

Portanto, a péssima educação escolar pública no Brasil parece estar muito mais relacionada à gestão dos recursos do que com a falta de dinheiro. De acordo com a Controladoria Geral da União, R$ 87,19 bilhões são destinados para despesas executadas para a área de educação.

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Desse montante, aproximadamente 33% vai para o ensino superior e 16% para a educação básica. Os dados mostram que gastamos o dobro no ensino superior do que a educação básica.

Novamente, dado que o orçamento é limitado, por que destinar mais verbas para o ensino superior, que tem bem menos alunos, do que para a educação básica? Do que adianta colocar o dobro de recursos no ensino superior, enquanto milhares de pessoas têm dificuldades básicas de ler ou fazer uma conta de porcentagem?

Além disso, o foco na educação superior é extremamente elitista. Geralmente o aluno que tem condições de passar no vestibular de uma faculdade pública é justamente aquele que conseguiu estudar em boas escolares particulares.

Outro ponto é que há dezenas de cursos universitários que não são absorvidos pelo mercado de trabalho, como sociologia, por exemplo. Pior: depois, o governo tem de criar cursos para absorver essa mão de obra. E quem vai pagar essa conta é você por meio de impostos.

Diante disso, a questão é: por que a sociedade deve pagar pelo ensino superior de Sociologia enquanto o país carece de mão de obra básica? Não se trata de desprezar o ensino de Sociologia, pelo contrário, mas admitir que há recursos exagerados para algumas áreas de humanas nas universidades públicas em detrimento de educação básica escolar; até porque, quem quiser estudar Sociologia poderá fazer uma faculdade particular ou até mesmo estudar sozinho.

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Aliás, com uma boa formação básica, juntamente com a internet, que tornou o acesso ao conhecimento barato, é perfeitamente possível ser um autodidata nos dias de hoje.

Portanto, a melhora da educação básica passa por um desafio de gestão e de prioridades.  O que é mais prioritário para o país hoje: pessoas com boas capacidades de português, matemática e inglês ou canalizar recursos para departamentos de universidades públicas que, por vezes, realizam pesquisas sem o menor impacto para a sociedade?

Se tem dúvida, pergunte para qualquer gestor de empresa ou veja o exemplo japonês, ou leia os livros  “Skin in the Game (Nassim Taleb)” ou  Fatos e falácias da economia (Thomas Sowell).

É óbvio que Sociologia, Filosofia, Economia, etc. são importantes, mas por que a sociedade deve pagar mais por essas áreas, e deixar descoberto a educação básica? Para responder essa pergunta, lembre-se de que o orçamento do governo é limitado.

Infelizmente, durante 14 anos de PT, os governos Lula e Dilma não entenderam esta questão. Prefeririam priorizar o ensino universitário com políticas demagógicas de quotas e bolsas, enquanto destruíram a educação básica.

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Hoje, o país tem um monte de gente com diploma, mas com dificuldades básicas de interpretar um texto e fazer conta. O resultado do PISA não me deixa mentir.

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Alan Ghani é economista, PhD em Finanças e professor de pós graduação

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Alan Ghani É economista, mestre e doutor em Finanças pela FEA-USP, com especialização na UTSA (University of Texas at San Antonio). Trabalhou como economista na MCM Consultores e hoje atua como consultor em finanças e economia e também como professor de pós-graduação, MBAs e treinamentos in company.

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