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Alô, Delfim, quais são os efeitos da disparada do dólar?

O dólar alto não é apenas sintoma da atual crise econômica no Brasil, mas traz também consequências sérias para economia brasileira, como inflação e retração de investimentos, prejudicando principalmente a população mais pobre.
Por  Alan Ghani
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

 

Nas redes sociais, já lemos um festival de asneiras, dizendo que a reclamação contra a disparada do dólar é coisa de “classe média coxinha” que não poderá mais fazer compras em Miami. Essa turma desinformada, que tem mais inveja dos ricos do que amor aos pobres, deveria estudar um pouquinho mais antes de sair falando besteiras por aí. 

Para começo de conversa, o rápido enfraquecimento do Real (ou disparada do dólar) é sintoma de que a nossa economia apodreceu. É evidente que um país, marcado por deterioração fiscal, queda de PIB e inflação alta, terá sua moeda desvalorizada. Basicamente, a desvalorização decorre da perda de confiança no país (piora das expectativas) e aumento da demanda por dólares.

No entanto, um dólar alto não é apenas sintoma da atual crise econômica no Brasil, mas traz também consequências sérias para economia brasileira. Como já mencionei aqui, a primeira delas é o impacto inflacionário, dado que boa parte dos bens consumíveis, do pão ao remédio, tem custos em dólar que serão repassados para o preço final. Portanto, o aumento do dólar aumenta a inflação, a qual prejudica principalmente a população mais pobre. Outro possível efeito é uma queda dos investimentos, a qual possivelmente afetará negativamente o PIB e o desemprego.  Essa queda decorre do fato de que boa parte do nosso investimento é financiada por poupança externa, uma vez que a interna é muito baixa. De uma maneira mais simples: muitas empresas importam bens de capital e tecnologia para investirem e crescerem.

Mas é claro que virão os “Bressers”, os “Belluzzos” e  os” “Delfins” dizendo que a desvalorização cambial é bom para o pais, pois estimulará o crescimento via exportações. É evidente que poderá  ter um efeito positivo para empresas exportadoras, mas este impacto será marginal e está longe de ser a solução dos problemas estruturais do país. Vale lembrar que em 2013, Belluzzo dizia que para o Brasil ganhar competitividade, o câmbio deveria estar perto de R$2,64/US$ (veja aqui)  . Já  Bresser dizia que, com o câmbio a R$2,70/US$, o Brasil cresceria a 5% ao ano, como bem lembrou o economista Rodrigo Constantino (veja aqui). Por fim, o garoto de recados de Lula (veja aqui), Delfim Netto, acredita que a  valorização cambial prejudicou o crescimento econômico (veja aqui).

Será que agora, com o câmbio bem acima do patamar desejado por eles de R$2,70, o Brasil terá um crescimento sustentado? Não precisa ser economista para dizer que seguramente a resposta é não. Enquanto o Brasil não abandonar essas ideias retrógradas desenvolvimentistas – “o Estado como propulsor do crescimento”, “desvalorização cambial para fomentar a exportação”, “leniência com a mais inflação em pró do crescimento” – o Brasil jamais atingirá um crescimento econômico sustentado. 

Não sei o o que é pior: se são essas velhas ideias desenvolvimentistas ou ver um economista de Chicago sugerindo o aumento de impostos para sanar a economia brasileira. O Brasil não vive apenas uma crise econômica e política, mas também uma crise de ideias e de soluções, enfim, uma crise intelectual.

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Alan Ghani É economista, mestre e doutor em Finanças pela FEA-USP, com especialização na UTSA (University of Texas at San Antonio). Trabalhou como economista na MCM Consultores e hoje atua como consultor em finanças e economia e também como professor de pós-graduação, MBAs e treinamentos in company.

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