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Mercado de seguros investe em soluções para mitigar riscos e alta de preço em programas corporativos

A alta sinistralidade, a falta de investimentos em gerenciamento de riscos e até resistência em aplicar mudanças de rota são desafios do setor
Por  Denise Bueno -
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

Os gestores de riscos nunca foram tão desafiados como agora. Os guardiões do patrimônio dos acionistas de hoje convivem com uma série de riscos globais interligados, desde questões geopolíticas, econômicas e sociais até tecnologia, clima e regulamentação, que tendem a aumentar em frequência e gravidade. E para complicar mais, um mercado de (re)sseguros quem vem difícil desde 2017 e se agravou com a contabilização das perdas causadas pelas consequências de pandemia, guerras e mudanças climáticas.

A colunista do Infomoney conversou com executivos que atuam com grandes riscos para entender como o setor de seguros tem contribuído para melhorar a vida dos gestores da área, que perdem o sono para mitigar incidentes cibernéticos, como ataques de ransomware, violações de dados, interrupções de TI e na cadeia de suprimentos.

Ilan Kajan, vice-presidente de riscos corporativos e sinistros da Alper Seguros, afirma que o papel do broker (corretor) é ajudar o gestor de risco nos desafios. “Hoje temos muitas questões não relacionadas ao risco do negócio em si, que vão de inflação, taxa de juros, mudanças climáticas e riscos geopolíticos”, explica. Se os EUA, por exemplo, aumentam os juros, atraem o capital que poderia estar disponível para resseguro. O resultado se mostra na redução da oferta de capital para uma demanda elevada de riscos corporativos. E tem mais. “Perdas em qualquer parte do mundo, com elevação dos pagamentos de indenizações por furações a pandemias e guerras, contaminam outras carteiras e regiões, pois o ressegurador vai priorizar o equilíbrio financeiro global do grupo” acrescenta Kajan.

Neste cenário de riscos conectados, de preços elevados e de coberturas restritivas, o executivo da Alper conta que o corretor busca capacidade em várias empresas para conseguir completar um painel de resseguro. “Isso limita a opção ao cliente final. Quando o gestor pede uma oferta alternativa, praticamente não há, pois todo o capital disponível no mundo já está na oferta apresentada”, explica.

Uma das soluções das seguradoras tem sido reunir esforços da diretoria atuarial com a comercial. O investimento nessa área visa resultados sustentáveis ao longo do tempo, conhecendo melhor tanto os riscos que expõem o capital do grupo, quanto como gerar valor aos clientes, compartilhando conhecimento e apoiando a gestão de risco. “A incorporação da estrutura comercial de corretores corporativos à área técnica segue um movimento já feito na Espanha e que trouxe excelentes resultados na operação da Mapfre”, conta Mauro Caetano, diretor de empresas e Seguros Gerais da Mapfre.

O principal objetivo é trazer eficiência operacional e mais sinergia entre as áreas na unidade brasileira. “Acreditamos muito nesta integração, pois além da simplificação de processos internos, o movimento unifica a comunicação entre a área comercial e técnica com os corretores corporate, possibilitando a oferta de produtos de forma ágil aos clientes. Essas iniciativas já estão resultando em melhorias significativas no relacionamento com os principais corretores e clientes da Mapfre”, afirma.

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Guilherme Perondi, vice-presidente executivo Brasil e head de distribuição LATAM na Swiss Re Corporate Solutions, conta que há 60 anos o Grupo Swiss Re tem uma área chamada RES (Risk Engineering Services ou Serviços de Engenharia de Riscos). Essa equipe tem uma dupla função: apoiar a subscrição na análise e classificação dos riscos que o grupo assegura e auxiliar clientes corporativos na avaliação e gestão dos seus próprios riscos operacionais.

“Contamos com uma equipe de engenheiros e técnicos em todo mundo em diferentes especialidades como riscos patrimoniais, engenharia e responsabilidades com conhecimento em vários setores como indústria pesada em geral, energia, cadeia de suprimentos, exposições catastróficas e sustentabilidade”, destaca.

Segundo Perondi, há um tema comum nas demandas que é a busca por troca de conhecimentos com a equipe técnica. “Nosso engajamento com clientes e corretores em geral é baseado em dados e expertise para suporte à gestão de riscos, com objetivo de prevenção a perdas, incluindo uso de tecnologia para análises de grandes volumes de dados”, cita.

Outro valor agregado solicitado com frequência são benchmarks e melhores práticas globais ou do setor de atuação da companhia, que geralmente passam a ser incorporados nos planos de gestão de riscos da empresa.

A Zurich criou há 25 anos uma equipe de engenharia de riscos conectada a uma rede de especialistas global com mais de 800 engenheiros especializados. “Entendemos que o gerenciamento de risco é fundamental para aumentar a resiliência e sustentabilidade de nossos clientes, ao mesmo tempo em que amplia o conhecimento de nossos subscritores para oferecer soluções de seguros adequadas a cada empresa.  Acreditamos que os seguros corporativos não devem ser entendidos como commodities, sendo nossos serviços de engenharia de riscos um instrumento para identificar as exposições de nossos clientes e oferecer soluções sob medida. Toda essa tecnologia também está disponível para os nossos corretores”, conta Tiago Santana, superintendente de Engenharia de Riscos da Zurich.

Ana Carolina Mello, Vice-Presidente de Subscrição da AXA, conta que a filial local da seguradora francesa não possui uma diretoria específica para tratar do alinhamento entre equipe técnica e comercial. Porém, essa é uma característica muito forte na maneira como a companhia trabalha e é reconhecida no mercado por conta dessa interação entre comercial e área técnica. “Em duas linhas de produtos, Vida e Transporte, já temos um profissional técnico-comercial que faz os dois papéis porque esses são seguros que temos parcerias com corretores especializados e que exigem um grande conhecimento das características do setor e seus riscos para precificação e montagem da proposta. Nas outras carteiras precisamos desse olhar mais técnico para tirar dúvidas durante a negociação ou propor soluções mais complexas, de maneira mais rápida”, cita.

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Preços mais estáveis

A alta taxa de sinistralidade, a falta de investimentos em gerenciamento de riscos, resistência e a limitação da capacidade para a aceitação de determinados riscos no mercado são alguns dos fatores que explicam os movimentos das taxas de seguros que vêm ocorrendo desde 2017.

Desde o segundo semestre de 2023, o mercado tem apresentado desaceleração e aumento de taxas, o que propicia mudança para um ciclo menos duro. Em algumas linhas, como D&O, esse movimento iniciou-se antes, já no final de 2022. “Em geral, esperamos um mercado mais ‘soft’ para os próximos anos, mas consolidando-se em patamar superior ao existente antes de 2020. A qualidade e a política de gestão de risco das empresas se consolidam como fatores fundamentais na decisão do mercado segurador e ressegurador”, acredita Santana.

“Para o seguro de grandes riscos, o ano de 2024 apresenta desafios semelhantes ao de 2023. Todavia, entendemos que soluções customizadas, mitigando os riscos associados, analisando de forma detalhada as exposições, acompanhando a implementação dos programas de gerenciamento de riscos nas empresas, e com as capacidades locais e globais de nossos times de subscrição, poderemos ser assertivos e ajudar nossos clientes neste cenário de mudanças”, aposta Givânia Silva, head comercial de corporate e brokers da Mapfre.

Perondi afirma que, globalmente, o mercado vem passando por um período de ajuste estrutural e uma das consequências é a de exigências quanto à qualidade de gestão de riscos. Inevitavelmente os compradores de seguros comerciais e corporativos precisam estar preparados para essa mudança estrutural pela qual o mercado está passando, especialmente em setores e empresas com maiores exposições de risco, históricos de sinistralidade e maior complexidade de gestão de riscos.

“As exigências de boas práticas de gestão de risco, investimento contínuo em sistemas protecionais, transparência no compartilhamento de informações e disponibilidade para discussões técnicas não só sobre os riscos segurados, mas também sobre novas estruturas de transferência de riscos, vão seguir como regra nas interações entre compradores de seguro e o mercado de seguros e resseguros”, finaliza o executivo da Swiss Re Corporate Solutions.

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A conclusão é que o endurecimento do mercado de seguros ensinou lições a todos que participam do dia a dia da construção de um programa de seguros, incluindo conselhos de administração, agências de risco e órgãos reguladores. Todos buscam informações e estão mais conscientes da conectividade de riscos e isso se reflete na melhoria dos contratos de (re)sseguros.

Denise Bueno Jornalista especializada em seguros, resseguros, previdência e capitalização, é fundadora do blog Sonho Seguro

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