2024 traz novos desafios aos executivos para ofertar seguros para todos

Maior eficiência na operação é a receita para manter ritmo de crescimento das vendas e da lucratividade

Denise Bueno

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(Getty Images)
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Segundo a ótica das seguradoras, a perspectiva para o setor de seguros em 2024 é otimista. Mas a Fitch Ratings aposta na classificação “neutra”. “A perspectiva da Fitch para o setor de seguros brasileiro é neutra para 2024, refletindo nossa expectativa de um desempenho mais estável e uma recuperação gradual nas taxas de sinistralidade no segmento de seguros de saúde. O risco país é um fator importante devido à exposição significativa das empresas de seguros brasileiras aos títulos do governo brasileiro e à concentração das operações no Brasil. Nossa perspectiva para a indústria de seguros brasileira incorpora a manutenção do crescimento dos prêmios, o que reflete em parte a resiliência do setor, os dados econômicos do país mais fortes do que o esperado e uma inflação mais controlada que também reduz a pressão sobre os custos dos sinistros”, diz Eduardo Recinos, diretor sênior da classificadora de riscos.

Apesar de concordarem que 2024 será um ano de concorrência mais acirrada, os executivos de seguros acreditam que é possível avançar em muitas frentes diante da baixa penetração de produtos em diversos segmentos no Brasil, principalmente em agronegócios, residência, vida, pequenas e médias empresas e riscos cibernéticos. “Sem contar na possibilidade de volta do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) no governo Lula, com previsão de R$ 1,7 trilhão em investimentos, o que movimenta vários seguros, desde a garantia de construção da obra até o seguro de vida dos trabalhadores envolvidos nos empreendimentos”, afirma Carlos Eduardo Silvestre, diretor comercial de seguros corporativos da FF Seguros.

Ivan Gontijo, presidente do grupo Bradesco Seguros, define 2024 como um ano de muitas oportunidades para crescimento em diversas carteiras de negócios dentro e fora do banco. “Investimos mais de R$ 2 bilhões em tecnologia nos últimos dois anos, reestruturamos a área comercial em especialistas de negócios e temos um backoffice que atende a todas as companhias do grupo e começamos a colher os frutos com a conquista de novos negócios. Temos desafios, como ampliar o diálogo com o segmento de agronegócios, que é um potencial à parte, e problemas, como debater soluções para a saúde suplementar para que seja atendida a demanda da sociedade com equilíbrio de custos para operadoras e consumidores”, diz o dono de uma carteira de ativos financeiros de R$ 380 bilhões, segundo balanço até setembro de 2023.

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Realmente, o único “patinho feio” do setor de seguros é o que envolve o seguro saúde. A Fitch esperava que a taxa de sinistralidade e os índices saudáveis de lucratividade do segmento de seguros de saúde privados voltassem a níveis próximos ao período pré-pandêmico, mas os números mostraram que os desafios são maiores e que esse retorno levará mais tempo do que o esperado. A Fitch enxerga desafios para o setor, mas espera que a pressão sobre as taxas de sinistros exija diretamente um maior ajuste nos preços dos planos de saúde

Por outro lado, é intenso o lançamento de produtos que buscam conquistar aqueles que não podem ter um plano de saúde. A MetLife anunciou na semana passada que os clientes do seguro de vida terão acesso ao Programa de Saúde e Bem-Estar, plataforma que disponibiliza teleorientações com psicólogos, nutricionistas, educadores físicos, fisioterapeutas e especialistas do sono do Hospital Israelita Albert Einstein. A seguradora também está ampliando a proteção em caso de imprevistos, com novas coberturas como fratura óssea, invalidez por doença e amparo funeral para familiares. “Nosso compromisso é proporcionar uma proteção holística ao segurado, em uma jornada contínua, cuidando da saúde física, mental e financeira”, afirma Paula Toguchi, diretora de produtos da MetLife.

Se o crescimento das vendas com aumento da base segurada é tido como certo para boa parte dos seguros, a lucratividade exigirá atenção redobrada. “O início do ciclo de afrouxamento monetário deve influenciar nos resultados financeiros das seguradoras brasileiras, já que a maior parte das carteiras das seguradoras está exposta a títulos públicos ou privados influenciados pela Selic”, diz a Fitch. “Políticas monetárias expansivas podem afetar a rentabilidade geral em alguns mercados devido a menores rendimentos das carteiras de investimento e custos mais altos de resseguro e níveis de retenção maiores que aumentam as exposições ao risco climático e à volatilidade dos ganhos”.

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Ao prever uma taxa de juros menor, as seguradoras deverão se concentrar em dados para uma subscrição mais assertiva, ou seja, cobrar o preço certo para cada risco aceito e melhorar o resultado operacional para compensar ganhos financeiros menores. Rivaldo Leite, CEO da vertical Porto Seguros, afirma que o grande desafio do próximo ano será superar 2023, um ano inigualável a qualquer outro em termos de lucro: “Até setembro de 2023, o setor acumula um lucro líquido de R$ 22 bilhões, o dobro do resultado registrado no mesmo período do ano anterior. Todas as 50 maiores companhias registraram ganho. Isso é um resultado extraordinário e que nos coloca um grande desafio para 2024: repetir essa performance”.

Tal resultado foi obtido não só pelas elevadas taxas de juros, como também pelos frutos da base tecnológica, com ganhos expressivos na digitalização, por uma redução de pedidos de indenização e pela desinflação da tabela Fipe, que cataloga o valor dos carros novos e usados. Em 2022, por exemplo, um carro segurado em R$ 100 mil passou a valer R$ 130 mil, gerando aumento de custos indenizatórios para as companhias. Em 2023, o efeito foi contrário.

Murilo Riedel, head de seguros e diretor do Santander, aposta na manutenção da lucratividade das companhias, por enxergar um cenário positivo em várias frentes, principalmente em automóvel. “Ainda temos um descompasso com a falta de peças, o que acarreta um custo maior no conserto dos carros. Mas o ganho financeiro das seguradoras deverá se manter, uma vez que os investimentos das reservas técnicas estão lastreados em títulos de longo prazo do governo, negociados em períodos de elevadas taxas. A receita já está travada no pré-fixado. A marcação a mercado será vantajosa para as companhias, que seguirão apresentando um resultado financeiro destacado até 2025”, diz Riedel. A Fitch espera que a Selic termine 2023 em 11,75% e em 9% em 2024.

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Segundo ele, que deixou há um ano o comando da HDI Seguros para hoje ter uma visão como administrador do ecossistema de distribuição de seguros do banco espanhol, o próximo ano será um momento importante para as seguradoras conquistarem novos consumidores. “Como um gestor de vários parceiros que vendem seus produtos no canal Santander, vejo que todas as companhias estão dispostas a investir em parcerias e soluções de problemas para atrair mais clientes para o setor. Todas registraram lucro e têm reservas e apetite para manter market share. Ao ofertarem preços mais acessíveis, isso certamente ajudará na ampliação do mercado”, afirma. E este cenário beneficia os resultados do Santander em seguros, que tem relevante carteira de seguro prestamista, garantindo o pagamento do crédito, e cresce em segmentos como seguro auto, residência, assistências e riscos patrimonial para PMEs. De janeiro a setembro, o banco Santander divulgou em seus resultados comissões de seguros de R$ 2,5 bilhões.

A concorrência acirrada é um ponto de atenção para a Tokio Marine Seguradora, uma das companhias que tem apresentado o melhor resultado entre crescimento e lucratividade, segundo a consultoria Siscorp. “Em 2024, o objetivo principal da Tokio Marine é manter o crescimento sustentável na casa de dois dígitos em termos de faturamento. A ideia é continuar crescendo em diversas linhas de negócios, especialmente naquelas em que há grandes oportunidades de maior penetração no mercado, contando sempre com os nossos mais de 40 mil corretores e assessorias. Em termos de rentabilidade, estamos confiantes em continuar crescendo, mesmo diante de desafios tais como os eventos climáticos, ambiente econômico global e local, e os desdobramentos da Reforma Tributária no Brasil e seus impactos para o nosso setor”, diz Daniel Dibe, diretor executivo de Finanças e Administração da Tokio Marine Seguradora.

No segmento de vida, o céu é de brigadeiro em crescimento e em rentabilidade. “Estamos acompanhando as projeções de mercado para o crescimento do setor com olhar otimista. Porém, os desafios são grandes. Estudo que realizamos em parceria com a FGV apontou que quase 60% demonstram falta de tranquilidade por não contar com um seguro de vida. E enquanto somente cerca de 18% dos brasileiros tiver seguro de vida, nosso desafio seguirá sendo democratizar o acesso e levar proteção financeira para o maior número de pessoas”, afirma Gustavo Raposo, vice-presidente financeiro da Prudential do Brasil.

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Outro desafio, segundo Raposo, é contribuir para a desmistificação do seguro. Para ele, o papel das seguradoras é torná-lo mais conhecido: “O estudo mostrou também que o desconhecimento é um dos fatores para a não contratação. Hoje, pouca gente sabe que o seguro de vida é um aliado para o cliente ainda em vida. Na Prudential, oferecemos diversas coberturas e assistências, como doenças graves, diárias de internação hospitalar ou acidentes pessoais que podem beneficiar profissionais autônomos, por exemplo”.

Dyogo Oliviera, presidente da CNseg, a confederação das seguradoras, também acredita que 2023 foi um ano foi marcante pelas conquistas regulatórias e na forma do setor em se comunicar com toda a sociedade, citando o bom encaminhamento do setor de seguros dentro da reforma tributária, as mudanças obtidas no PL 29 de contratos de seguros e no adiamento da implementação do Open Insurance. Mas ele reconhece que ainda há problemas a serem enfrentados no próximo ano.

“A regulamentação do setor pela Susep, apesar do bom relacionamento construído com a nova gestão, exige atenção. Temos de acompanhar a aprovação do PL dos contratos de seguros, com medidas implementadas no prazo de um ano após a sua publicação, bem como os normativos do SRO (Sistema de Registro de Operações) e Open Insurance. Ainda há muito a ser debatido para que as normas sejam benéficas para o setor”, disse Oliveira em evento organizado pelo SindSeg-SP.

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2024 realmente será um ano animado para o setor. Tanto que atrair talentos tem sido uma constante entre seguradoras e corretores, que se antecipam ao movimento e blindam seus executivos. Entre as corretoras de seguros essa prática gerou até um processo judicial com um concorrente levando duas equipes inteiras da congênere. Certamente, ninguém sofrerá de tédio no próximo ano: teremos muitas notícias interessantes sobre o setor de seguros.

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Denise Bueno

Jornalista especializada em seguros, resseguros, previdência e capitalização, é fundadora do blog Sonho Seguro