O valor do planejamento

Dentro de campo e na vida financeira

Danilo Luiz

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Planejar é uma das palavras mais difíceis de colocar em prática quando a vida acontece depressa. Isso não é segredo para ninguém, né? Mas vou contar para você que, no futebol, então, é quase um luxo. Tudo muda rápido demais: o técnico, o elenco, o país, o humor da torcida.

A gente vive em modo de urgência, e o futuro parece sempre depender do próximo jogo. Aqui no Brasil, isso é ainda mais latente. Demorei um tempo para entender que o planejamento não é o contrário da liberdade: ele é o que nos permite continuar sonhando dentro e fora de campo. Quando comecei, meu único plano era jogar bola.

Não tinha planilha, não tinha plano B. Tinha fé, vontade e o desejo enorme de mudar a vida da minha família, como falei na coluna da semana passada. Foi só depois, quando o futebol se tornou minha profissão de fato, que percebi: o talento abre portas, mas é o planejamento que te mantém lá dentro. Isso vale, é claro, para a carreira em si, mas também para toda a parte financeira que vem junto.

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A primeira vez que ouvi alguém falar sobre “educação financeira”, confesso, achei meio distante. Na minha época de base, o foco era outro: treinar, comer, dormir, fazer tudo de novo. Ninguém ensinava nada para a gente. A verdade é que a maioria dos atletas vem de famílias simples, e, de repente, se vê com responsabilidades e dinheiro nas mãos sem ter tido tempo de aprender a lidar com isso. A gente aprende errando, e às vezes o preço desse aprendizado é alto.

Hoje, olho para os meus filhos e penso que quero que eles tenham o que eu não tive: tempo pra pensar. E sei o quanto isso é um luxo. Quero que entendam o valor das coisas, não só o preço. Que saibam que cada escolha tem um impacto lá na frente, que o agora é importante, mas o depois também é.

Falo com eles sobre planejamento, sobre guardar, investir, sobre propósito, com o mesmo entusiasmo com que um dia falei de futebol (ou pelo menos assim eu tento, rsrsrs).

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Tento mostrar que o planejamento não é só sobre dinheiro, é sobre consciência. É sobre saber o que te move e o que te sustenta quando o brilho dos holofotes apaga. Dentro de campo, eu planejo cada jogada, cada passo, mas também aprendi que o jogo da vida exige a mesma leitura: quando acelerar, quando segurar, quando recuar.

O futebol me deu tudo, mas também me ensinou o peso da instabilidade. Um dia você é herói; no outro, está sendo questionado. E se você não tiver uma base sólida, emocional, familiar e financeira, o chão some. Tento traduzir para eles que planejamento é segurança. É o que permite continuar jogando, mesmo quando o placar não está a favor.

Sempre penso que, se o futebol fosse uma empresa, muitos de nós seríamos empreendedores desde cedo. Somos responsáveis por nossas marcas, carreiras e decisões. Aprendemos a lidar com pressão, a administrar tempo, a investir em performance. E é exatamente isso que tento passar pros meus filhos: que o futuro não se constrói no improviso. É difícil explicar sobre dificuldades do futuro para dois meninos que têm o que eu jamais tive na idade deles. Mas eles entendem e já me demonstraram isso diversas vezes.

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Ter é fácil. Manter é o desafio. Planejar é um ato de cuidado com quem você ama, e consigo mesmo. No futebol, a gente aprende a celebrar o gol, mas o que garante o resultado é o trabalho de antes. O treino invisível, o esforço silencioso, o plano traçado. Na vida financeira é igual. O gol é o sucesso visível, mas o que sustenta tudo isso é o que você faz quando ninguém está vendo.

O dinheiro pode comprar conforto, mas nunca sabedoria. E sabedoria é entender o valor do tempo, da escolha e da calma. O que eu quero ensinar pros meus filhos é que riqueza não é só o que está no banco, é o que você constrói com propósito e equilíbrio.

O planejamento é o meu novo treino. A diferença é que, agora, o campo é a vida. Na entrevista da newsletter dessa semana, conversei com a Kerolin, do Manchester City, sobre isso e ela falou muito sobre como até as experiências ruins a ajudaram a ser organizar melhor.

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E pra você, dinheiro compra traz felicidade? Talvez seja polêmico, mas é uma questão da humanidade.

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Danilo Luiz

Danilo Luiz é cofundador da Voz Futura, atleta de futebol profissional, jogador do Flamengo e da Seleção Brasileira. Natural de Bicas, no interior de Minas Gerais, Danilo vai muito além da atuação em campo. Leitor ávido, é apaixonado por psicologia e comunicação e tem estudado temas ligados ao comportamento humano. Com a Voz Futura, o pai de João Pedro e Miguel busca inspirar as novas gerações com reflexões baseadas na sua própria experiência e com conteúdo propositivo focado em esporte, trazendo assuntos ligados também a empreendedorismo e impacto social.